Ultimamente, no ramo cinematográfico e de cultura em geral, existe um grande questionamento quanto a “falta de criatividade” uma vez que se aposta mais em remakes de clássicos do cinema, do que em lançamentos propriamente ditos. A criação de conteúdos realmente novos para determinados setores específicos, não é necessariamente moda ou tendência atual, mas sim, algo que já aconteceu muito no passado. Hoje em dia, nem sempre se consegue sucesso ao fazer tal coisa, como podemos notar em tentativas lamentáveis de remakes que resultaram em tramas confusas, procurando inovar de modo desesperado um material pré existente que acaba por desfigurar desde a premissa até a essência da obra original.
Este definitivamente não é o caso de IT. A exemplo de grandes remakes do passado como “Scarface”, A mosca, Cabo do medo e como exemplo mais recente “A madrugada dos mortos vivos”, temos aqui uma direção firme de Andy Muschietti ( mesmo diretor do filme “Mama” ), que imprime seu tom de mistério/suspense, dando uma urgência claustrofóbica pontuada em todo filme (coisa que ele já havia feito em “Mama”). Em “IT”, essa urgência ainda segue aliada a um roteiro seco de Cary Fukunaga (“True detective”, “Beasts of no nation”), onde apostam em fechar um arco narrativo cimentando com humor, mas sem tirar a seriedade e sensibilidade o ponto nevrálgico da obra original: Humano.
A trama se inicia basicamente do mesmo modo que a original de 1990, com Georgie Denbrough (Jackson Robert Scott) e seu irmão Bill (Jaeden Lieberher) planejando brincar com um barquinho de papel selado em cera em uma tarde chuvosa. Porém Bill está acamado e Georgie acaba por ir sozinho. Daí por diante a trama vai se ampliando paulatinamente entre o duelo das crianças do “Clube dos perdedores” (“Losers Club”) X “A Coisa”( personificada em um palhaço dançarino macabro de nome Pennywise-o ator , Bill Skarsgard), e não apenas contra ele, mas também contra problemas graves em suas vidas pessoais. E é neste ponto que se localiza o foco maior da narrativa, onde o filme se debruça sobre a personalidade de cada um dos 7 protagonistas: Bill (Jaeden Lieberher), Eddie Kaspbrak (Jack Dylan Grazer), Richie Tozier ( Finn Wolfhard ) , Beverly Marsh (Sophia Lillis), Stanley Uris (Wyatt Oleff), Ben Hanscom (Jeremy Ray Taylor), Mike Hanlon (Chosen Jacobs). E o roteiro segue o mantra a risca, e “flutua” por cada um deles, que vivem conflitos não apenas com seus medos e dilemas, mas também porque buscam se encontrar e se firmar independente do que ocorre. Todos os temas se intercalam, com uma roupagem cinematográfica contemporânea, recortes estilo vídeo clip, tipo anos 80 (Bem ao estilo “Gonnies”) . Período escolhido para fazer uma adaptação adequada onde se consiga conversar tanto com o jovem, quanto com o adulto que viveu ou vive as consequências daquela época até hoje.
A atuação das crianças acompanha o nível elevado do roteiro e da direção, com um carisma notável de todos: Jack Dylan, que interpreta um divertido hipocondríaco; Finn Wolfhard, desbocado toda vida; Chosen, astuto e corajoso; Jeremy inteligentemente poético; o fiel Wyat ; Sophie ousada e corajosa; e o superman, digo Jaeden, com sua perseverança hercúlea reunindo todos ao seu redor. Todos fazem você entrar naquele universo de alguma forma…É incrível!
Misturando tudo isso a temas contrastantes e pesados, Cary Fukunaga trabalhou em filmes já citados anteriormente. O lado cru da realidade infantil juntamente com a inocência perdida, face a problemas alheios a sua infância, e como lidar com tudo isso, faz com que os protagonistas acabem quase se tornando uma equipe de Super heróis, ou melhor, de Heróis particulares. “IT” original ganhou a alcunha de obra prima do terror, enquanto que o “IT” de 2017 vai além de uma lufada de ar fresco.
Em se tratando de adaptações e remakes, soube ser também criativo, respeitando e até melhorando aspectos da obra original. Um filme nota 9 de 10, que só não é melhor pelo fato da trilha sonora não conseguir intercalar tão bem os contrastes narrativos propostos, sendo assim o ponto fraco na obra, por impedir uma imersão “absoluta” na sombria mente de Stephen King. Mas a julgar pela escolha acertada dos autores de “IT”, não vai demorar mais 27 anos para uma outra obra prima chegar as telas e as mentes dos espectadores ávidos por um terror psicológico, físico e humano. E juro, estou pronto!