6 anos de espera. Foi 6 anos aguardando Tartarugas Até lá Embaixo ser anunciado. Quem acompanha a vida do escritor e vlogueiro John Green, sabe que ele sofreu bloqueio criativo e, para piorar, ele se sentia muito pressionado a escrever um livro novo. Afinal, quem aqui não queria mais livros que nos fizesse refletir como Cidades de Papel, Teorema Katerine e A Culpa é das Estrelas?
O autor é um fenômeno por escrever sobre a realidade dos adolescentes, seja sobre um adolescente com câncer ou que seja relacionado a amizade e egoísmo.
Nos livros de Green nós somos levados a refletir bastante sobre a vida, mesmo quando somos adultos lendo um livro sobre adolescente, mas sempre há o que aprender com adolescentes, não é? Hoje em dia, adolescentes de 16 anos são mais informados do que nós quando tínhamos essa idade, talvez por que, eles têm a tecnologia que não tínhamos antigamente. E Tartarugas até Lá Embaixo faz exatamente isso. O livro nos remete a uma infinidade de reflexões sobre a vida, o universo, amigos e tudo o que tem ao nosso redor.
“Eu estava começando a entender que a vida é uma história que contam sobre nós, não uma história que escolhemos contar”.
Em Tartarugas Até Lá embaixo somos apresentados a Aza Holmes, uma adolescente que vive mais tempo presa nos pensamentos dentro de sua cabeça do que vivendo. Ela sofre de T.O.C. (Transtorno Obsessivo Compulsivo) e vive em seus pensamentos autodestrutivos que só prejudicam a ela mesma. Aza tem uma melhor amiga muito divertida e inteligente, que escreve fan fics, a Daisy. Enquanto Aza se perde em seus pensamentos, o CEO de uma empreiteira, o Russel Pickets, desaparece após a polícia declarar ordem de prisão para o empresário e, enquanto ele está desaparecido e é alvo da mídia, surge uma recompensa de 100 mil dólares para quem contribuir com informações sobre o desaparecimento do CEO.
Como Aza Holmes foi amiga de Davis Pickets, filho do CEO desaparecido, na infância, Daisy a convence a investigar o desaparecimento do pai, se aproximando do filho e assim elas fazem, até que Aza vive a experiência de seu primeiro amor.
Em meio a breve investigação, nós somos carregados para os problemas de Aza Holmes e vamos descobrindo seus medos. É incrível como nos envolvemos nos seus problemas. É uma personagem que, seus pensamentos, se não compreendidos, possa ser considerada chata, mas ela é uma pessoa real e conforme vamos lendo, não visualizamos uma solução para ela e para pessoas que tenham T.O.C. É angustiante e, embora não a culpamos por não conseguir se concentrar no mundo fora de sua mente, as pessoas que vivem ao seu redor podem acabar se afastando, mas Aza é uma pessoa em um milhão que tem a sorte de conhecer pessoas incríveis e que realmente entendem o fato de ela ficar imersa por seus medos e pensamentos, que chegam de repente sem avisar e que Aza não consegue controlar.
“Qualquer um pode olhar para você, mas é muito raro encontrar quem veja o mesmo céu que o seu.”
Embora eu goste muito de Aza, não há personagem mais incrível como Daisy. Ela é divertida, carismática, compreensiva e arranca várias gargalhadas, é uma nerd declarada. Adora Star Wars e escreve Fan fics sobre a série. Daisy faz de tudo para não perder a amizade de Aza. Ela se importa com a amiga, aceita seus problemas, não a julga e quer que amizade das duas dure a vida toda.
“A questão é que, quando a gente perde alguém, a gente se dá conta de que no fim vai perder todo mundo.”
Para mim, como leitora de John Green, esse livro é de longe o melhor do autor, pois ele aborda vários temas sem se perder no caminho. Nós vemos a forma como Aza se relaciona com as pessoas, até o momento em que ela fica imersa aos pensamentos que podem causar um dano colateral somente a si mesma. A forma que Aza se relaciona com a amiga, com seu namorado e sua mãe são distintos e muito importantes, pois cada um deles traz a tona diversas personalidades da personagem, até chegar a Tartarugas até lá embaixo, que é muito bem explicado e que, quando descobre o motivo de o livro ter este nome, você entende e até concorda. Neste livro, percebo o quanto é importante que devemos falar mais sobre T.O.C.
“Toda perda é única. Não dá para saber como é a dor de outra pessoa, da mesma forma que tocar o corpo de alguém não é o mesmo que viver naquele corpo.”
Não houve um momento, enquanto lia Tartarugas Até Lá Embaixo, que não pensava e cogitava sobre o autor. Será que enquanto descobríamos os pensamentos de Aza, estávamos descobrindo um pouco sobre John? Afinal, ele disse que este livro era muito pessoal para ele. Talvez por isso senti tanto enquanto lia, pois tinha muito sentimento sendo distribuído a cada página.
“As pessoas sempre falam como se houvesse uma linha bem definida entre a imaginação e a memória, mas não é assim, ao menos não para mim. Eu me lembro de coisas que imaginei e imagino coisas de que me lembro.”
Tartarugas Até Lá Embaixo não retrata apenas o drama da personagem principal, mas vemos a realidade da vida de Daisy e ao problema recente do seu primeiro namorado e o irmão mais novo dele, que sofrem a ausência do pai há muito tempo e, embora ele tenha desaparecido recentemente, devido a fugir de uma prisão iminente, ele nunca fora presente na vida dos filhos.
“O problema dos finais felizes é que ou não são realmente felizes, ou não são realmente finais, sabe? Na vida real, algumas coisas melhoram e outras pioram. E aí a gente morre.”
Este é o livro mais tocante e sensível de John Green e, embora não tenha me feito chorar, me levou a inúmeros questionamentos, pois ele aborda vários temas sem prejudicar a história principal, sem se perder nos detalhes e sem nos deixar de vivenciar a história de todos os ângulos.
Tartarugas até lá embaixo valeu cada dia, mês e anos de espera!
Disponível em: SARAIVA