A Academia Sueca anunciou na manhã de quinta-feira, dia 5, o vencedor do Nobel de Literatura 2017. Kazuo Ishiguro, 62 anos, levou o prêmio porque “em seus romances de grande força emocional, revelou o abismo sob nossa sensação ilusória de conexão com o mundo”.
Ishiguro nasceu em Nagasaki, no Japão, em 1954, e mudou-se para a Inglaterra aos cinco anos de idade. É autor de oito livros (sete romances e uma coletânea de contos), cinco deles publicados no Brasil pela Companhia das Letras: Os vestígios do dia (vencedor do Booker Prize de 1989), Não me abandone jamais, Quando éramos órfãos, Noturnos e O gigante enterrado, seu romance mais recente publicado em 2015. Dessas obras, duas ganharam aclamadas adaptações para o cinema: Os vestígios do dia e Não me abandone jamais. Considerado um dos principais autores da língua inglesa, sua obra foi traduzida para 50 idiomas.
Ao saber da premiação, Kazuo Ishiguro afirmou que “esta é uma notícia incrível e totalmente inesperada. Ela vem num momento em que o mundo está incerto sobre seus valores, sua liderança e sua segurança. Espero apenas que o fato de eu ter recebido esta honra vá, mesmo que em pequena medida, encorajar as forças do bem e da paz neste momento.”
O agente de Ishiguro, Peter Straus, declarou que “A Rogers, Coleridge & White está imensamente feliz e orgulhosa de saber que Kazuo Ishiguro ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. Comemoramos muito no escritório quando a notícia foi anunciada, e meus pensamentos foram para o céu, para Deb, que representou Ish desde o começo – como ela estaria alegre hoje. Todas as editoras de Ish ao redor do mundo (…) se unem a nós para oferecer nossos sinceros parabéns.”
“Que alegria um ser humano de tamanha generosidade ganhar o tão cobiçado Nobel. A literatura sai duplamente premiada”, diz Luiz Schwarcz, fundador e editor da Companhia das Letras. Schwarcz também falou sobre sua amizade com Ishiguro, leia o texto completo. A editora parabeniza Kazuo Ishiguro por esta importante conquista e se sente honrada em publicar sua obra no Brasil.
Conheça mais sobre seus livros:
Um dos romances mais aclamados de Kazuo Ishiguro, Os vestígios do dia acompanha o mordomo Stevens, já próximo da velhice. Ele rememora as três décadas dedicadas à casa de um distinto nobre britânico, lord Darlington, hoje ocupada por um milionário norte-americano. Por insistência do novo patrão, Stevens sai de férias em viagem pelo interior da Inglaterra. O mordomo vai ao encontro de miss Kenton, antiga companheira de trabalho, hoje mrs. Benn. No caminho, recorda passagens da vida de lord Darlington e reflete sobre o papel dos mordomos na história britânica. Num estilo contido, o narrador-protagonista acaba por revelar aspectos sombrios da trajetória política do ex-patrão, simpatizante do nazismo, ao mesmo tempo que deixa escapar sentimentos pessoais em relação a miss Kenton, reprimidos durante anos. O romance ganhou uma adaptação para o cinema em 1993, protagonizada por Anthony Hopkins e Emma Thompson, e recebeu oito indicações ao Oscar.
Finalista do Booker Prize em 2005, Não me abandone jamais tem como pano de fundo um cenário de ficção científica. Kathy H. tem 31 anos e está prestes a encerrar sua carreira de “cuidadora”. Enquanto isso, ela relembra o tempo que passou em Hailsham, um internato inglês que dá grande ênfase às atividades artísticas e conta, entre várias outras amenidades, com bosques, um lago povoado de marrecos, uma horta e gramados impecavelmente aparados. No entanto esse internato idílico esconde uma terrível verdade: todos os “alunos” de Hailsham são clones, produzidos com a única finalidade de servir de “peças de reposição”. Assim que atingirem a idade adulta, e depois de cumprido um período como cuidadores, todos terão o mesmo destino – doar seus órgãos até “concluir”. Embora à primeira vista pareça pertencer ao terreno da ficção científica, o livro de Ishiguro lança mão desses “doadores”, em tudo e por tudo idênticos a nós, para falar da existência. Não me abandone jamais também foi adaptado para o cinema, estrelado por Carey Mulligan, Keira Knightley Andrew Garfield.
Lançado no Brasil em 2000, Quando éramos órfãos acompanha Christopher Banks, um garoto inglês nascido na Xangai do início do século, que fica órfão aos nove anos de idade, quando seus pais desaparecem misteriosamente. De volta à Inglaterra, torna-se um detetive de renome e circula nos meios mais refinados. Vinte anos depois, Banks resolve rever Xangai – agora palco da guerra sangrenta entre China e Japão. A partir desse momento, sua busca pelos pais passa a confundir-se com a busca pela ordem num mundo órfão, vitimado pela sombra.
Noturnos é uma reunião de cinco narrativas em que Ishiguro deixa de lado a solenidade distendida dos romances para dedicar-se à concisão, à leveza e ao humor concentrado do gênero curto. A coletânea traz contos sobre instrumentistas e amantes da música, de diversas partes do mundo. Nestas histórias, emoções suscitadas por belas melodias convivem com as limitações do mundo da música. Se o poder de tocar o sentimento faz dos músicos seres próximos da genialidade, as exigências do senso comum e da profissionalização os submetem a situações muitas vezes patéticas e hilariantes.
Quando lançado, O gigante enterrado foi recebido como a entrada de Ishiguro no gênero fantástico. A história acontece em uma terra marcada por guerras recentes e amaldiçoada por uma misteriosa névoa do esquecimento. Sua população desnorteada está diante de ameaças múltiplas, e um casal parte numa jornada em busca do filho e no caminho terá seu amor posto à prova. Épico arturiano, o romance envereda pela fantasia e se aproxima do universo de George R. R. Martin e Tolkien, comprovando a capacidade do autor de se reinventar a cada obra. Entre a aventura fantástica e o lirismo, O gigante enterrado fala de alguns dos temas mais caros à humanidade: o amor, a guerra e a memória.