Estrelado pelo famoso ator e diretor argentino Ricardo Darín, Kóblic é uma trama sobre a história de um militar que, após desrespeitar ordens de seus superiores, decide fugir para uma cidade do interior, na tentativa de se esconder da penalidade por sua deserção e de um grande trauma do passado.
Dirigido pelo argentino Sebastián Borensztein, autor dos títulos “Um Conto Chinês” (2011), “Lili’s Apron” (2003) e “El Garante” (1997), o longa apresenta um roteiro denso, de história simples, mas bem desenvolvida, com uma bela fotografia cheia de planos proximais focados nas expressões dos personagens, o que funciona muito bem devido a qualidade da atuação. Durante muitos diálogos é possível observar o resultado de atores competentes somados a uma boa direção, quando mesmo em textos curtos, a capacidade de comunicação via expressão facial e corporal conseguem narrar de forma intensa e eficiente a cena. A trilha sonora, muito bem executada, também agrega bastante a climática de cidade do interior, onde se passa o filme. A arte e a locação utilizada como cenário da trama dão um ar de bang-bang contemporâneo, que apesar de não possuir tantas cenas de ação, fala de um conflito militar dentro de uma cidadezinha dominada por um comissário autoritário e violento.
A trama se passa na década de 70 na Argentina, no período da ditadura militar e Kóblic é um ex-capitão das forças armadas, responsável por coordenar operações aéreas na qual indivíduos considerados subversivos são arremessados de encontro direto ao mar. Em uma das operações ele se vê perturbado com a crueldade, reluta em seguir as ordens de seu superior e deserta.
Com medo de represálias e na tentativa de fugir das horríveis imagens que habitam sua memória, ele se isola na Colonia Helena. Lá, se hospeda no hangar de um amigo e tenta esconder o fato de ser um militar, vivendo sob a ameaça da ditadura tanto quanto os suspeitos de oposição ao sistema e começa a trabalhar para como piloto de avião pulverizador. Depois de uma pane em seu avião, ele acaba por conhecer o delegado Velarde, encarnado por Oscar Martínez, que faz diversas perguntas a Kóblic e mostra bastante curiosidade sobre o forasteiro.
Com o passar dos dias, Kóblic conhece a jovem Nancy ― interpretada com destreza por Inma Cuesta (Julieta, 2016), que interpreta de forma sutil o sofrimento de sua personagem. Com uma expressão sempre tensa, cabisbaixa e de voz apreensiva, Nancy é uma jovem retraída pela figura de seu namorado machista e violento, que a impõe uma condição de quase invisibilidade. Ao defrontar-se com Kóblic ela vê uma possibilidade de uma vida nova onde possa atender suas vontades. Eles iniciam um caso, sendo este a estrada que guiará o enredo.
Em pouco tempo o delegado começa a desconfiar de Kóblic, de sua identidade e decide buscar mais informações sobre o rapaz, aproximando-se da descoberta da traição de Nancy. A inquietação, violência e autoritarismo transmitidos em cada decisão do personagem de Martínez ilustram os impactos que o regime ditatorial deixou naquele país.
Um tema histórico e político como a ditadura, que é o tema central, ficou menos evidente e perdeu a chance de ser explorado na trama por conta dos minutos a mais gastos com o romance de Nancy e Kóblic, que talvez seja o único ponto a ser criticado. Apesar das grandes atuações, fotografia e trilha, a narrativa poderia ter ganho mais se o eixo chave fosse mais aprofundado.
.Revisado por: Bruna Vieira.