Legalize Já – A Amizade Nunca Morre (Johnny Araújo e Gustavo Bonafé) é mais do que um filme biográfico de uma das bandas mais famosas e polêmicas do Rio de Janeiro nos anos 90. Com humor ácido, colocando o dedo na ferida e defendendo a legalização da maconha o filme conta como os dois “fundadores” do Planet Hemp se encontram e como foi rápida e intensa a convivência deles.
Marcelo (Renato Góes) vende camisetas de bandas de rock e metal underground nas ruas da Lapa. Dividindo o mesmo submundo da contracultura carioca está Skunk (Ícaro Silva), que ganha a vida gravando e vendendo mixtapes com batidas de músicas gringas – distantes de chegarem em mídia física por aqui naquela época. O encontro dos dois não poderia ser mais simbólico: eles se esbarram depois de um arrastão da PM contra vendedores ambulantes.
Um acaba ficando com a mochila do outro. A partir daí, eles ficam intrigados um pelo outro. Marcelo pela melodia de Skunk feitas com bases do hip-hop norte-americano. Skunk lendo as letras de Marcelo, que retratam uma realidade vivida pelos dois, à margem da sociedade.
Marcelo foi expulso de casa pelo pai que parece pouco se importar se o filho tem ou não um lugar pra ficar. Skunk também tem que deixar o quarto onde mora por falta de grana pra pagar o aluguel. Sem uma figura paterna, porém, Skunk é basicamente acolhido e tratado como filho de Brennand, interpretado pelo argentino Ernesto Alterio (Narcos). Ele é o dono do bar que acaba se transformando no QG e estúdio da dupla e onde são feitos os primeiros ensaios do Planet Hemp.
As atuações de Góes e Silva trazem a carga emocional necessária para a história, que começa a ganhar contornos de drama. Ao longo do filme, descobrimos que Skunk tem AIDS e não quer saber do tratamento, que o deixa ainda pior. A medida que a história vai sendo contada, ele começa a passar cada vez mais mal e aparentar sinais de fraqueza até falecer, pouco depois da banda fazer seus primeiros grandes shows.
Marcelo, além dos problemas em casa, fica durante quase todo o longa se questionando se vale a pena investir numa carreira incerta na música, ou arrumar um “emprego de verdade” numa loja de eletrodomésticos. Ele ainda se cobra já que precisa de dinheiro para pagar o aborto de Sônia (Marina Provenzzano), sua primeira mulher.
Com cores frias, a fotografia do filme chega a ser um pouco sombria. Nada que incomode o expectador. Na verdade a ideia é boa, chegando ao resultado final na tela de uma imagem quase preta e branca que combina com os ares de drama e de recorte histórico que o filme quer passar.
Dirigido por Johnny Araújo e Gustavo Bonafé e com argumento feito pelo próprio Marcelo D2 o filme vai além das expectativas e chega a deixar o Planet Hemp em segundo plano. O mais forte e pulsante é a homenagem feita a Skunk, que assim como outros grandes talentos nos deixaram muito cedo. O longa a todo momento nos mostra a importância dele para a formação do grupo e de seus ideais. Legalize Já é um drama, mas acima de tudo uma história de companheirismo entre D2 e Skunk.
Legalize Já – A Amizade Nunca Morre estreia nesta quinta-feira, dia 18 de outubro, nos cinemas de todo o país.