E se descobríssemos que os livros podem nos dar poderes? E não qualquer poder, talvez até o mais forte dos poderes: imaginação. Imagine se, como Legião, pudéssemos criar o que quiséssemos com o mínimo de esforço mental? Se pudéssemos, a longo prazo, criar universos e realidades alternativas vividas e complexas apenas usando a imaginação?
Parece muito bom para ser verdade, porém, segundo o estudo desenvolvido pelo book advisor Eduardo Vilella, é totalmente possível que qualquer pessoa, incluindo seus filhos, tenha esse poder. Na verdade, tudo o que conhecemos como mundo nasceu desse processo. E estas habilidades podem ser adquiridas e exercitadas ao apenas abrir um livro.
A pesquisa explica que o ato de ler na infância exercita o poder sensorial, assim como o sistema cognitivo e também a memória do indivíduo. O habito estimula o cérebro a refletir e a resolver problemas de forma cada vez mais criativa, utilizando os recursos psicoafetivos sensoriais e racionais que os livros ajudam a criar.
Quantas memórias o cérebro produz e armazena quando um livro emocionante é terminado? Ou quantas teorias magnificas ele propõe até descobrir o desfecho ou o enigma daquele livro de suspense?
Apesar das histórias serem geralmente fictícias, para o nosso cérebro elas são reais. Portanto ele as armazena e sempre as recicla, pois automaticamente ele acredita que tais informações servirão para uma tomada de decisão futura. Nesse sentido, os livros ajudam os baixinhos a desenvolverem desde pequenos o senso crítico que ele vai utilizar para realizar suas escolhas ao longo da vida. Isso tudo somado à criatividade e à curiosidade que a criança desenvolve na infância impelem-na a um aprendizado e a um desenvolvimento psicológico a longo prazo.
Os livros também exercitam os sentidos e o vocabulário. Ao folhear as páginas, o cérebro cria a memória visual das palavras e como elas estão organizadas, desenvolvendo na criança o aprendizado da forma gráfica correta dos vocábulos e seus significados. E ainda estimula os olhos a captar detalhes minuciosos, o que melhora a acuidade visual.
O cheirinho de livro novo também aumenta a experiência afetiva, criando uma memória vivida (lembrete: o cérebro não faz distinção das memórias fictícias das reais; para ele tudo aconteceu sensorialmente de verdade). A audição também pode ser utilizada neste processo. Escutar um familiar lendo uma história desperta a curiosidade e a imaginação da criança, além de ser um gatilho para sonhos e ideias no subconsciente, o que só tem a aumentar seu poder imaginativo e a criatividade.
Todavia, o estudo de Villela também aponta para um grande impasse enfrentado nos dias de hoje. Com o avanço da tecnologia, as crianças estão se fechando para experiências realmente enriquecedoras ao passar muitas horas em frente à televisão ou mexendo nos smartphones e tablets.
O problema disso é que elas acabam sendo bombardeadas por informações diluídas e menos afetivas, estas que, por não explorarem os estímulos sensoriais (que inclusive despertam prazer), são esquecidas rapidamente. Elas também muitas vezes não agregam conhecimento algum na bagagem do baixinho.
Esse comportamento é nocivo e pode levar a um embotamento no cérebro delas, que pode virar um problema psicológico ou um trauma social. A longo prazo, isso se transforma em uma barreira entre a criança e o mundo ativo extremamente rico que existe exterior a ela.
Nesse cenário caótico, os livros são como uma armadura e uma espada. Ao mesmo tempo que eles protegem as crianças das experiências tóxicas, vão tornando-as mais fortes ao longo da jornada. Eles também concedem poderes especiais aos baixinhos sempre que eles leem algo novo, preparando-os para as responsabilidades e para os problemas da sociedade da qual farão parte um dia.