Quando falamos de adaptações, é muito difícil comparar à obra original, afinal, cada mídia possui suas características e requer uma linguagem diferente. Mas ao assistir os dois primeiros episódios de Lucifer And The Biscuit Hammer, é nítido que algo está errado.
A história escrita por Satoshi Mizukami possui 65 capítulos e foi publicada originalmente entre os anos 2005 e 2010 pela revista Young King OURs GH e tem uma premissa muito interessante:
“Você acorda num dia qualquer e, do nada, é convocado por um Lagarto para defender a Terra da destruição! O que ameaça a existência do planeta é um gigantesco martelo que paira sobre o céu. Mas… ninguém o vê?”
O mangá tem status de “cult” entre os fãs, já que a obra não é muito conhecida pelo público geral, devido a sua temática mais adulta. O mangá é oficialmente classificado como um “Seinen”. Por esses motivos, a adaptação demorou 12 anos para ser anunciada.
Mas com a chegada do anime, a internet se encheu de esperança e não faltaram boas indicações sobre a história, e assim, Lucifer And The Biscuit Hammer se tornou, nos últimos meses, a maior aposta da temporada entre os fãs de anime. Mas uma grande expectativa pode gerar uma grande decepção, como de fato aconteceu.
Muitos atribuíram à animação simples e limitada, o fator decisivo que atrapalhou na qualidade do anime, mas a questão técnica não explica o sentimento de vazio que existe ao terminarmos os episódios.
Na indústria de animes, temos vários exemplos que mostram que, a limitação de orçamento interfere sim na experiência de quem assiste, mas que não pode ser classificada como um problema determinante para considerar uma obra ruim.
O estúdio NAZ entrega o que promete, uma animação mediana, era óbvio que para uma história que não possui uma grande base de fãs (lucro incerto), o investimento seria menor. Lucifer And The Biscuit Hammer sofre de um problema muito pior, a amputação.
Quando os dois primeiros episódios terminam o questionamento que fica é “por que tanto barulho, por isso?”. O real problema de Lucifer And The Biscuit Hammer só aparece quando nos deparamos com a obra original.
A complexidade e os temas abordados pelo mangá, Seinen, são simplificados e transformados em um anime de “lutinha”, feito para agradar fãs de Shonen. Os temas mais interessantes da obra são os problemas humanos, as dores psicológicas do personagem principal e como ele lida com isso.
Ao ler os cinco primeiros capítulos do mangá, que são adaptados pelos dois primeiros episódios de maneira medíocre, vemos os pequenos detalhes e as nuances da história que foram escritas por Satoshi Mizukami, e o vazio que o anime tem é finalmente preenchido.
A trama de Lucifer And The Biscuit Hammer é podada para caber no molde dos Shonens e nisso, perde o que tem de melhor. As coisas podem mudar até o final da temporada, mas é difícil acreditar que a adaptação conseguirá retomar os eixos, o caminho mais provável é que o anime continue sendo uma sombra de algo que tinha mais a oferecer.
Para quem conheceu a história por essa versão deplorável, o mais indicado é ir para o original. No Brasil, o mangá foi comercializado por uma editora brasileira, com o nome de Lúcifer e o Martelo em um total de 10 volumes.