“Não existe um mundo de “normais” e outro de “diferentes”. Estão todos na mesma pocilga e precisamos compartilhá-la”.
Luiz Fernando Vianna se vê em uma disputa. Sua ex-esposa vai embora do país e, leva consigo, o filho de cinco anos, sem sequer avisá-lo. Ele, pai, se vê preocupado e sabendo que essa mudança brusca na vida do filho, Henrique, que acaba de ser diagnosticado com o Transtorno do Espectro Autista, pode não ser bom. É a primeira coisa que pensa e, por isso, decide fazer alguma coisa a respeito. De um país a outro, a história fora do normal de Henrique e Luiz Fernando acontece.
Meu menino vadio é…
Um livro de pai para pai que tenha filho autista.
Um livro de pai para pai que não sabe o que é autismo e as dificuldades de se ter um filho autista.
Muitas vezes, as pessoas têm preconceitos e nem sequer se dão conta de seus atos, das expressões faciais de nojo e não sabem nem a metade do que um pai precisa fazer para enfrentar dia após dia, quais são as dificuldades de se ter um filho autista e etc.
Como diz Luiz Fernando Vianna, ninguém quer ter um filho autista, as pessoas que têm um filho autista, dizem que ter um filho assim, é uma benção, mas Luiz discorda veemente, mas isso não quer dizer que ele não ame o filho. Pelo contrário, ele ama e muito. Ele é capaz de mover o mundo pelo filho dele e é isso que importa.
Ter um filho autista é como enfrentar desafios todos os dias, pois, a cada dia, algo novo acontece e você não está preparado. Quando acha que está conseguindo entender seu filho autista, no dia seguinte, tudo isso muda radicalmente, de uma hora para outra. Mesmo que você esteja preparado para eventuais mudanças e quando você pensa que já aconteceu de tudo e que sabe tudo, tudo muda de novo. É desgastante e angustiante.
No livro, Luiz Fernando nos mostra a luta de cada dia. As dificuldades que precisou enfrentar e o que vai enfrentar. Desde que o vi no programa Encontro com Fátima da globo, me deu uma vontade de ler o livro e entender, mesmo que seja um pouquinho, sobre Autismo e as dificuldades. E, enquanto lia, imaginava algumas cenas que presenciei, mas não com pessoas que sejam autista, porém com pessoas deficientes mentalmente ou fisicamente. E o livro, me fez enxergar as pessoas que estão do outro lado, batalhando todos os dias. É uma barra e ninguém faz ideia, não é? E a gente aí reclamando de um machucadinho de nada…
Além da dificuldade em entender uma criança autista, a sociedade não ajuda ou sequer pensa em ajudar ou entender. Como por exemplo; a confederação nacional dos estabelecimentos de ensino, porta-voz do setor privado que quando surgiu a lei, Berenice Piana, de que as escolas não podiam rejeitar mais crianças autistas, foi contra a inclusão e chegou a levar a briga para o supremo, alegando que as escolas não podiam receber crianças com a deficiência, pois não tinham professores qualificados. É incrível como a hipocrisia beira a insanidade. As instituições privadas arrecadam rios de dinheiro todos os anos, mas não podem qualificar seus profissionais? Injusto, eu sei. Essa é a nossa sociedade e, embora imploramos por algumas mudanças, as coisas continuam as mesmas. Nada muda!
Uma coisa que notei, na escrita suave e descomplicada, é que o autor não quis, em momento algum, nos fazer sentir pena de seu filho ou de sua situação, eu senti que ele quis abrir nossos olhos de alguma forma e, também, quis que entendêssemos que essa “doença” não se adquire com contato físico ou que seja um vírus transmitido pelo ar. É um problema sim, mas é de longe contagioso.
Mostra que os autistas precisam ser mais compreendidos. Precisam de mais amor do próximo e, principalmente, que mais recursos surjam para auxiliá-los e ajudá-los, o que, infelizmente é bem escasso no Brasil e talvez no mundo inteiro.
No livro, Meu Menino Vadio, nós vemos com clareza as dificuldades de se encontrar psiquiatras capacitados para conseguir identificar o Transtorno do Espectro Autista logo que os sintomas começam a dar sinais. Não digo que não haja profissionais bons, pelo contrário, mas acho que não existem tantos profissionais que entendem do assunto em questão, que preparados para receber e identificar pessoas autistas imediatamente. É, praticamente, 1 profissional em meio a 1 milhão. É como jogar na roleta e esperar a vitória chegar, mas autismo não é um jogo. É de vida que estamos falando e quanto mais cedo for identificado, mais chance tem de ajudar uma criança autista.
Não bastando as dificuldades em encontrar profissionais adequados para seu filho autista, Henrique, nós nos deparamos com livros sobre o tema em questão que de nada ajuda aos autistas e aos pais que procuram qualquer forma de poder se ajudar, com alguma esperança de que, em alguns livros, poderá encontrar a “cura”, mas tudo não passa de mera ilusão e, por isso, Luiz Fernando Vianna, escreveu esse livro. É preciso entender que: o que acontece com uma criança autista, não significa que vai acontecer com o seu filho, felizmente ou infelizmente. Depende muito do ponto de vista.
Um livro agradável e de fácil compreensão. Em momentos entre o passado e o presente de Henrique, nós nos envolvemos com as dificuldades diárias de um pai desesperado, que nos ensina o tempo todo a enfrentar as dificuldades. Embora o tema do livro seja muito sério e importante para toda a sociedade, o autor prende a atenção no livro de maneira humorada, o que torna a leitura muito suave.