A indústria do entretenimento deve se preparar para um terremoto cultural com a aquisição da Warner Bros. Discovery pela Netflix. A transação não envolve apenas a troca de donos, mas sinaliza uma mudança radical na forma como consumimos grandes sucessos de bilheteria.
No ato da compra, a liderança da gigante do streaming já deixou claro que a tradicional “janela de cinema” — o tempo que um filme fica exclusivamente em cartaz — deve ser drasticamente reduzida.
Ted Sarandos, co-CEO da Netflix, foi a voz dessa transformação imediata. Em declarações à imprensa, ele sugeriu que o modelo atual de distribuição está obsoleto e que a nova gestão implementará mudanças profundas. Para o executivo, a prioridade precisa ser a conveniência do assinante, e não a tradição das salas de exibição.

“Minha principal objeção reside nos longos períodos de exclusividade, que não consideramos muito favoráveis ao consumidor”, disparou Sarandos. Essa fala confirma que a Netflix pretende aplicar sua filosofia de “streaming em primeiro lugar” (ou quase simultâneo) ao catálogo histórico da Warner, que sempre foi um estúdio focado na experiência cinematográfica.
Essa postura cria um conflito direto de identidade. A Netflix historicamente evita ou minimiza lançamentos nos cinemas, usando as salas apenas para cumprir requisitos de premiações como o Oscar. Já a Warner Bros. construiu seu legado de um século justamente sobre a magia e a grandiosidade das telas de cinema, sendo o lar de franquias que exigem essa escala.
Netflix deve afastar executivos e diretores
O risco de atrito com grandes talentos é real e tem precedentes. O diretor Christopher Nolan, um dos maiores defensores da experiência em IMAX e salas escuras, encerrou uma parceria histórica com a Warner Bros. justamente por divergências sobre distribuição. Sua saída ocorreu quando o estúdio decidiu lançar Tenet e outros títulos de forma híbrida ou com janelas curtas durante a pandemia, sem o respeito ao tempo de exibição que ele exigia.

Agora, a dúvida recai sobre os criativos que permanecem na casa. James Gunn, atual arquiteto do Universo DC nos cinemas, e outros executivos de alto calão, ainda não se manifestaram sobre como receberão essa nova diretriz. Gunn projeta seus filmes para serem eventos cinematográficos globais, algo que pode colidir frontalmente com o algoritmo da Netflix.
Ainda não está claro quais talentos aceitarão se adaptar a essa nova realidade e quais buscarão refúgio em estúdios que ainda priorizam o cinema tradicional. O que é certo é que a compra da Warner pela Netflix marca o fim de uma era de paciência e o início de uma corrida pela atenção imediata do público em casa.



