Um dos maiores problemas que nós, criadores negros, enfrentamos no mercado de influenciadores hoje é o que chamo de “O Grande Filtro”. Na astrobiologia, esse termo define uma barreira catastrófica que impede a vida inteligente de evoluir além de certo ponto. No Brasil, esse conceito é aplicado de forma velada por muitas assessorias de imprensa, dificultando que criadores negros sejam reconhecidos e acessem grandes eventos.
Você certamente já reparou: quando estrelas internacionais vêm ao Brasil e concedem entrevistas, os escolhidos são, quase invariavelmente, jornalistas ou influenciadores brancos.
Para que um influenciador negro consiga o mesmo acesso, ele precisa atingir um status de celebridade, quase como um Hugo Gloss. Em contrapartida, um influenciador branco com 30 mil ou 100 mil seguidores frequentemente recebe o mesmo convite. A alternativa para o criador negro é estar vinculado a um grande portal, como G1 ou Omelete, cujos donos são brancos.

Projetos independentes de criadores brancos recebem mais visibilidade no setor. Isso é consenso até mesmo entre as próprias assessorias. Uma fonte, ligada a uma das maiores agências do país, já me confirmou a deficiência na contratação de jornalistas negros para a função de assessor de imprensa — a porta de entrada do filtro.
No entanto, esse “Grande Filtro” começa a mostrar fissuras, pelo menos em algumas das principais assessorias do país.
A Edelman, que atende clientes como o Spotify, tem adotado uma postura diferente. Ao convidar ativamente influenciadores negros para seus projetos, a mensagem é clara: “Aqui você não precisa contar os pretos”. Com convites diversos e um foco visível no apoio a criadores frequentemente rejeitados, a assessoria tem se destacado por um olhar mais amplo e sensível que a média do mercado.

Outros exemplos são a InPress, a Espaço Z e Disney (assessoria interna) que demonstram uma cultura de apoio e contratação de pessoas negras através de seus representantes. Vimos isso na prática no recente evento da Kim Kardashian no Palace, onde o Cabana esteve presente ao lado de outros criadores negros. Este é um ponto vital. Infelizmente, em muitas outras agências, o apoio é pessoal, não institucional. Os criadores sabem que o contato existe, mas ele depende de quem está lá; se aquele agente apoiador sair, o acesso desaparece.
Essas observações poderiam parecer um critério pessoal, mas refletem a opinião de dezenas de criadores negros que participam de um grupo de WhatsApp focado em eventos. Mesmo quando são convidados, o sentimento predominante é o de constrangimento por serem, muitas vezes, os únicos no local.



