Provavelmente grande parte dos leitores imaginam que um bom livro de fantasia se faz com elfos, dragões e outros seres mágicos que já conhecemos. Só não contávamos com a astúcia de Alwyn Hamilton, autora desse livro que já tem um espacinho reservado entre meus livros favoritos: A Rebelde do Deserto.
Talvez você caia na mesma pegadinha que eu, e ao ler o título, imagine uma história de velho oeste, ou algo simplista do tipo. E como gosto da surpresa, tento ler o mínimo possível da sinopse antes de começar minha leitura. Gosto de ser surpreendida pela obra! E como fui surpreendida!
O livro conta a história de Amani Al’Hiza, uma garota de 17 anos, que perdeu a mãe de forma trágica e vive sob o cuidado de tios que detesta. Ela resolve que precisa fugir da sua cidade, Vila da Poeira, o mais rápido possível, ao descobrir que seu tio, tem a intenção de se casar com ela para honrar os costumes da sua sociedade, onde homens fazem harém e mulheres perecem aos seus desejos. Cidade que fica no meio do nada e onde a grande maioria das pessoas, quase não tem o que comer ou beber. Mas ela não é uma garota comum, e o segredo da incomunidade de Amani não está em alguma característica que ela ganhou magicamente ou algo do tipo… Desde criança, a garota trocava bonecas e demais brincadeiras infantis por armas e latinhas. Corria desenfreada o mais longe que podia de todos e praticava sua mira o máximo que pudesse. O gosto exótico da criança talvez tenha influenciado todo o destino da garota. Com uma mira impecável, provavelmente Amani era a única pessoa (e claramente a única mulher) que poderia sair daquela cidade e se manter segura durante todo o percurso traiçoeiro no meio do deserto.
Hamilton criou um universo totalmente novo na magia, sem reproduzir mais do mesmo, A Rebelde do Deserto contém seres místicos, imortais e a própria criação do mundo é contada de várias formas.
Uma delas é que Seres Imortais chamados djinnis viviam pacificamente quando uma entidade chamada de A Destruidora de Mundos, resolve apresentar-lhes a morte. Os djinnis então, criam um verdadeiro pavor da morte e, ao criarem os humanos – seres mortais – não entendem como estes não a temem também; pois os humanos estão fadados a morrer, e sem outra perspectiva de futuro, abraçam a morte. Os djinnis são incríveis, e seus poderes incluem a manipulação da mente humana, entre outras coisas fantásticas. Por vezes, eles se apaixonam por humanas, às quais revelam seu verdadeiro nome e essas obtém o poder de lhes convocarem quando quiserem e obrigá-los à realizar seus desejos. E obviamente muitas pessoas acabam usando isso para o mal. Também temos os carniçais, seres que se esguiam pela noite e invadem as casas para sugar dos humanos toda sua lucidez e, consequentemente, a vida. Animais incríveis feitos de pura magia do deserto também estão presentes nas páginas; metade areia, metade força divina, os buraqis são relacionados à cavalos.
Um dos pontos centrais do livro, é que a magia é extinguida pelo ferro. E é usando ferro que os humanos conseguem domar e aprisionar os seres místicos. O problema é que sob a ganância humana, a magia está desaparecendo do mundo cada vez mais.
Tudo muda quando Amani conhece um forasteiro. Seu plano de fugir para Izman é desmantelado quando decide ajudar o garoto escondendo-o do exército aliado ao Sultão. Torna-se então uma ‘inimiga’ declarada destes e uma fugitiva perante a lei. Em uma jornada no deserto, ela conhece seres mágicos dos quais nunca tinha ouvido falar e descobre que boa parte das histórias que ouviu durante sua vida, não é realmente como ela acreditava e que ela mesma não é quem pensava! Agora Amani vai viver a história em meio à meninas que mudam de cor de cabelo e crianças que trocam de forma, além de descobrir que o destino de todo o deserto também está em suas mãos.
Com A Rebelde do Deserto, aprendemos à nos atentar aos detalhes: a simples cor dos olhos de alguém pode significar muito, e o fato de você não conseguir dizer algumas inverdades, também!
Um prato cheio em todos os aspectos, A Rebelde do Deserto coloca em jogo a ganância humana sob os recursos que não nos pertencem, o papel da mulher na sociedade e felizmente um ótimo exemplo de que, quando unidas, somos mais fortes. Incrível como a autora consegue usar aspectos e inspiração na religião islâmica para fazer uma obra tão empoderadora à mulher. O livro tem uma capa fantástica e contém 283 páginas que te prendem do começo ao fim sem nenhuma dificuldade. Ele é o primeiro de uma série que ainda não tem sequência publicada… Por isso aguardamos ansiosamente!
Revisado por: Bruna Vieira.