Baseado em uma história real, The Birth of a Nation, filme vencedor do Festival de Sundance, já começa com uma mensagem forte: sabedoria, coragem e visão. Essas são as características do personagem principal do filme, Nat Turner, escravo americano que liderou uma rebelião de escravos e negros livres no Condado de Southampton.
As características se aplicam muito bem ao personagem e digo mais: não só a este, mas também ao filme e diretor, ator e produtor do longa, Nate Parker. No primeiro ato do longa, que mostra o pequeno Nat Turner, vemos o talentoso ator mirim, Tony Espinosa, colhendo algodão com as mãos sangrando. Nesta cena, o contraste entre o vermelho bordô do sangue e o branco neve dos gomos de algodão da lavoura é tão impactante que ali, já ditam o tom do filme. A fotografia é linda, uma das melhores do ano e pode facilmente concorrer ao Oscar.
O filme tem o peso e o sentimento da história do povo negro, da escravidão, da humilhação, do racismo, da exploração, do ódio, da dor, da esperança. Vale a pena ressaltar que o diretor Nate Parker usou o mesmo título do clássico “O Nascimento de Uma Nação” (The Birth of a Nation) de D.W. Griffith em 1915, que apesar da sua inestimável relevância artística para o cinema, inferiorizava os negros e mostrava a Ku Klux Klan como heróis. Neste filme, vemos a transformação de um homem (Nate Parker, numa belíssima atuação), o crescimento do seu senso de justiça através de seu conhecimento da palavra de Deus, a Bíblia que seus “senhores” insistiam em seguir e usar como base e respaldo para manter o povo escravizado. Nat, como escravo que sabia ler, e por ser um pregador da palavra – também conhecido como “The Nigga Preacher” no filme – é usado como exemplo pelos fazendeiros ricos do condado para apaziguar e manter o domínio sobre seus escravos. É neste período que o jovem enxerga as adversidades de seu povo como escravos, e como o povo branco usa a bíblia, o céu e o inferno a seu favor para manter a submissão. Diante de cenas viscerais e fortes, vemos a vontade de liberdade crescer dentro do protagonista.
Com um trilha sonora esplêndida e atuações marcantes, o longa traz a veracidade característica das interpretações de filme de época, que te faz acreditar, te convence pela verdade e sentimento na interpretação do elenco. Os efeitos são práticos e funcionam muito bem, a montagem das cenas chega a ser uma obra de arte alinhada perfeitamente com efeitos sonoros e canções que entregam o sentimentalismo e a força do povo negro. Nos dias de hoje, enquanto os EUA estão prestes a trocar seu primeiro presidente negro por um “Trump”, podemos refletir sobre o que ainda acontece, de como o povo esquece o passado, e por um complexo de viralatismo implantado há muito tempo atrás, tende a achar que ser inferiorizado é algo normal, corriqueiro.
O longa certamente será uma das grandes indicações ao Oscar deste ano, diria eu por melhor ator, melhor fotografia, categorias de caracterização, direção, roteiro adaptado, e até melhor filme.
Dirigido, escrito e produzido por negros, o longa mostra exatamente o contrário, pois o título The Birth of a Nation, (sendo mais uma vez enfático ao repetir: O nascimento de uma nação) mostra o despertar do povo negro, sua força, sua garra, sua gana, sua beleza, sua sabedoria, sua cultura, sua arte e sua liberdade, refletindo nos dias de hoje que o potencial, o talento e a vontade de ser algo maior não escolhe raça, nem cor, nem traços finos, nem tipo de cabelo.
Revisado por: Bruna Vieira.