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Halle Bailey, foi escolhida pela Disney para participar do Live action de “A pequena Sereia” como a protagonista Ariel e abalou muitos fãs que consideraram a escolha pela atriz um grande erro.
A pequena sereia é uma adaptação do conto de Hans Christian Andersen, marcante na infância de muitas pessoas, embora a história carregue alguns conceitos arcaicos, como uma mulher que tem sua vida e felicidade voltada para um homem e o fato de não conseguir se aceitar e enxergar o melhor em si mesma, de fato uma péssima referência, mas um conto que muito vão querer assistir.
O live-action será o primeiro papel de Bailey nos cinemas e a protagonista já tem o histórico de possuir uma voz espetacular, algo que pode ser considerado de grande importância para o papel.
Halle Bailey tem sofrido bastante repercussão sobre seu papel, já que muitos se sentem frustrados com sua caracterização, considerando ela muito distinta da personagem original da animação. Um fato que nos leva a questionar o motivo de tamanha repercussão sobre um conto onde o mais importante está na voz da personagem — já que ela passa boa parte da história cantando e em seu tom de cabelo avermelhado que pode ser facilmente adaptado para Halle — isso se for considerar algo mais relevante do que a história em si, óbvio.
Lembrando que antigamente os fatores de beleza e personagens animados, em particular as princesas, eram — se não todas — em sua maioria caucasianos. Desta forma, pode-se refletir sobre alguns questionamentos relevantes: Se tinha algum fator contextual que fazia com que a sereia precisasse de fato ser de pele clara, destacando isso como algo relevante na história, ou se essa escolha somente aconteceu devido ao racismo estrutural da época.
Algo que desconstrói muitos argumentos pela personagem não ser branca é o fato de que, anteriormente, a favorita para ser escolhida como protagonista era Zendaya, uma garota negra, mas com um tom de pele um pouco mais claro do que Bailey e não cansou tanta repercussão na época. Isso só nos confirma que quanto maior sua porcentagem de melanina, maior suas dificuldades de inserção e aceitação do público.
Zendaya comemorou a escolha da nova Pequena Sereia no Twitter:
A importância e representatividade do conceito da princesa negra, é algo inevitável nesse live action, muitas crianças negras, tanto meninas ou meninos, que adoram essas histórias de princesas, vão se sentir representados — ainda que a história carregue um fator pouco positivo para as mulheres.
Mas não podemos deixar de ressaltar que muitas marcas/empresas famosas, costumam ” proclamar” uma representatividade somente para ganhar por cima disso. Que estejamos ciente de que esse pode ser um desses caso e, aliás, tem grande chances de ser mesmo. Muitos já perceberam o lucro dessa representatividade do povo negro, como foi em Pantera negra, e mesmo que eles não acreditem ou sejam a favor realmente da causa, só querem ganhar dinheiro em busca de uma luta social, e não vamos descartar isso somente por ser a Disney. Ela pode estar se atualizando e buscando uma transformação devido as lutas e mudanças do século, pode estar tentando remediar o fato de ter muitas princesas brancas em suas históricas, mas também — e é bom refletir sobre isso — pode estar querendo somente lucrar.
Além disso, algo bem interessante de lembrar nesses conflitos sobre a protagonista é que, a sereia é um ser místico que pode possuir qualquer tom de pele, mesmo que esse seja azul, simplesmente pelo motivo de que sereias não existem. Mesmo assim, teve algumas falas que evidenciavam outros live action e a ” fidelidade” destes em seus personagens como, por exemplo, Mulan.
O melhor nesses casos é esclarecer:
Mulan, pertence a uma história lendária da China, no contexto da China Imperial, que está salvando a China. Logo, não teria como a personagem ser outra coisa, isso mudaria o contexto da história.
Moana, é das ilhas do pacífico, não faria sentido a personagem ser branca, faria?
Jasmine é filha de um sultão, como não teria traços árabes?
Tiana, tem o contexto histórico racial dos Estados Unidos, onde mostra a Nova Orleans a cidade mais populosa do estado da Louisiana, que no final do século XIX era o grande mercado escravocrata americano, sendo a Louisiana um dos últimos estados onde a abolição da escravatura aconteceu. Ou seja, o filme também é uma sutil crítica a essa história do estado americano. Como a personagem seria branca?
…Resumindo, todas as escolhas acima acabariam afetando o contexto da historia.
A realidade nos mostra fatos, Bailey tem voz, pode mudar o tom do cabelo para ruivo, então qual a dificuldade na aceitação? Somente a cor de sua pele. Se isso não é um racismo estrutural, não sabemos mais o que é.
O racismo é capaz de determinar o que é considerado bonito e atraente, isso é muito bem perceptível em mulheres negras com traços finos ou com pele mais clara, sendo consideradas mais aceitáveis na sociedade.
Algo também crucial na personagem e que, particularmente, me causa receio, além de ser repulsivo de tão racista, seria se resolvessem branquear a personagem, alisando o cabelo dela, por exemplo, ou clareando seu tom de pele. Isso causa um certo desânimo e pode desapontar muito, além disso, as crianças negras continuariam não se sentido representadas. Minhas expectativas estão voltadas as lindas tranças de Bailey em um tom ruivo ou seu cabelo de forma natural, não mais que isso.
Mais uma vez, obviamente, aos meu sutil olhar, seria bem melhor que Bailey estivesse em um papel mostrando uma mulher empoderada, bem melhor, seria uma sereia negra e emponderada, uma referência para as criança. Entretanto, isso não exclui o fato de que ela é muito qualificada para o papel e que claramente o fará espetacular!