Propondo falar de morte, vida e amor, longa peca justamente por não falar sobre isso
É comum encontrar nos filmes de Naomi Kawasi questões sobre a vida e a morte, além do místico acerca da natureza. Tais emblemas costumam ser bem contextualizados em seus trabalhos e convidam o espectador a refletir sobre muito do existencial ali exposto. Abordando novamente tais assuntos, O Segredo das Águas promete muito, mas decepciona antes mesmo do final da sessão.
A história de Kaito (Nijirô Murakami) e sua namorada, Kyoko (Jun Yoshinaga), mostra como ambos amadurecem diante do primeiro contato com a morte. A partir daí, os adolescentes de 16 anos refletem sobre a vida e descobrem muito sobre o amor e o sexo. Essas questões, no entanto, que poderiam enriquecer o longa, são tratadas de forma forçada e superficial.
Nem mesmo a incrível fotografia de Yutaka Yamazaki conseguiu escapar desse efeito. Apesar de Naomi Kawasi pretender expor o misticismo da natureza, muitas dessas cenas não contribuem em nada para o desenvolver da trama, que se arrasta por quase duas horas. As paisagens contextualizadas na ilha japonesa de Amami Oshima são belas a princípio, mas a repetição e o longo período de exibição delas fazem com que o público deseje ir logo para o final do filme.
Tão forçadas quanto a abordagem de temas existenciais foram as atuações dos protagonistas Nijirô Murakami e Jun Yoshinaga. Para falar de assuntos tão complexos, os atores pareciam desconfortáveis diante da câmera, contribuindo para deixar ainda mais sem graça o roteiro já irregular e com falhas. Murakami, em especial, ficou em interpretações rasas.
A exceção encontra-se na atuação de Tetta Sugimoto. Como o pai de Kyoto, o ator que participou do elenco de A Partida – ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2009 – comove o público mais que qualquer outro. Além disso, O Segredo das Águas possui bom movimento das câmeras, sempre dando enfoque aos personagens sem perder de vista o rico cenário em volta deles.
Fora algumas boas escolhas, o drama é cansativo. Os poucos diálogos são ruins, e a ideia de finalizar com uma frase reflexiva depois de todo um enredo com pontas soltas decepciona. É uma pena que um longa com tanto a oferecer se perca em meio à grandeza de possibilidades de representação.
Confira o trailer:
Créditos: Uerj Viu