Depois de seu grande sucesso que virou filme, Garota Exemplar, as outras obras de Gillian Flynn ficaram em exposição. Sendo assim, mesmo que um pouco depois do grande frenesi criado por Amy e Nick, o CDL resolveu contar a vocês o que achamos de todas as obras da autora, porque convenhamos, Gillian é uma das melhores autoras de suspense da atualidade. Começamos então por seu primeiro livro lançado, um dos mais comentados e que deve ganhar uma série ainda em 2018; Objetos Cortantes.
Na sinopse do livro já sabemos que o foco principal na personagem Camille são suas cicatrizes. Quando nova, vivendo entre uma mãe fria, um ambiente escolar nada saudável e depois da morte de sua irmã mais nova, Camille começou a se cortar; mas não apenas se cortar, ela escrevia palavras que no momento a incomodavam.
Este fato, além de nos posicionar quanto à fragilidade da psique da narradora, nos diz como ela se sente no presente sem necessidade de explicação de sentimentos, porque ela sente as palavras saltando e pulsando em sua pele. É uma maneira muito real e visível de compreende-la.
Ao mesmo tempo que entendemos a maneira genial de Flynn de nos apresentar Camille, somos arremessados de cabeça em uma sociedade extremamente doente em Wind Gap, onde mulheres são extremamente fofoqueiras e raivosas, as crianças eram e continuam sendo maldosas e cruéis, e duas meninas aparecem mortas e sem seus dentes; com destaque especial para sua mãe com comportamento passivo-agressivo maldoso e sua irmã mais nova cruel (Amma, a viva, não a irmã morta, Marian, que assombra suas memórias infantis com um misto de saudade e enfado).
Camille rapidamente é lembrada do porquê de ter deixado Wind Gap: as pessoas se regem pela aparência e idolatram sua mãe Adora, mesmo ela sabendo que sua progenitora não é nenhum exemplo de pessoa. Na verdade, o principal instrumento que gera desconforto em Camille, e consequentemente nos leitores, é a frieza e jeito calculista de Adora, que -com o perdão do trocadilho causado em português- adora controlar todos ao seu redor, inclusive sua filha de 13 anos Amma, que inicialmente parece ter um sério distúrbio de personalidade por ser meiga com a mãe e completamente megera quando fora de casa.
Conforme a jornalista se embrenha no mistério, sendo acompanhada pelo detetive forasteiro enviado para ajudar, ela se depara com cada vez mais comportamentos estranhos e violentos de todos na cidade, e com a escrita rápida e suave de Gillian o mistério do assassinato te consome e te faz pensar em todos os suspeitos que vão aparecendo, mas sem nunca serem confirmados até a reta final da história.
Como era de se esperar, o livro de pouco mais de 250 páginas te prende tanto, que ao acabar de ler e se lembrar de Garota Exemplar, você chega à conclusão de que Gilllian é, realmente, cheia de surpresas e rainha do mistério e jogos psicológicos.