Reconhecido como um dos maiores sucessos da Netflix desde seu lançamento, OITNB sempre se colocou diante do público apresentando-se como uma “dramédia”, com um formato de episódios de 50 minutos ou mais, e tramas mais comuns ao gênero dramático, mas que são contadas de modo mais leve e irreverente, com um humor cuja intenção é aliviar o peso que grande parte do enredo carrega, tendo em vista os densos temas abordados pela série desde sua estreia em 2013. Nesta temporada ainda observamos o humor supracitado, porém vemos a showrunner Jenji Kohan indo mais além do que nunca na quantidade de temas e na forma como eles seriam abordados.
O que sempre nos chamou a atenção na série foi sua abordagem com todas as personagens apresentadas, inclusive as de menor destaque. Esse ano, observamos o crescimento na trama de grandes figuras, como Maria (Jessica Pimentel), Blanca (Laura Gòmez) e Lolly (Lori Petty). Infelizmente, em uma série com tantas personagens, isso faz com que outras percam destaque, como Norma (Annie Golden), ou simplesmente desapareçam, como foi o caso de Chang (Lori Tan Chinn). Isso só mostra como o protagonismo em cima de Piper (Taylor Schilling) diminui a cada temporada, apesar dela continuar tendo participação na maioria das tramas. Esse ano sua grande contribuição fica pela ruína do império das calcinhas mal cheirosas, sobretudo devido a sua soberba de achar que realmente estaria tirando onda sem saber com quem estava mexendo, no caso com as latinas. Com o intuito de retaliar pela perda de seu negócio, Piper protagoniza sua maior cagada da temporada e, sem querer, cria um grupo de supremacia branca. É incrível como a prisão alimenta a busca por proteção e acolhimento de seus semelhantes, a ponto de estimular inclusive o surgimento de grupos estapafúrdios feito este.
Com tantos problemas, Piper quase não tem tempo de acompanhar o que acontece com Alex (Laura Prepon). Os fãs agradecem que ela não foi morta como o fim da temporada passada indicava, e ainda pudemos ver um crescimento da interação dela com a perturbada Lolly, agora como cúmplices de um assassinato e ocultação de cadáver. Embora não tenha sido das tramas que mais impactou a season, poder ver mais de Lolly foi ótimo, em especial ao paralelo feito entre ela e a mãe de Heally, cuja grande motivação dele ser tão obcecado em tentar ajudar as mulheres, ainda que acabe sendo estúpido com as mesmas e ajude-as pouco.
Aliás, observamos nesse quarto ano a humanização de outro homem mal quisto da série, o oficial Coates (James McMenamin). Este caso bem mais polêmico, por tratar-se do homem que estuprou Doggett (Taryn Manning). Apesar de demorado, o sentimento de culpa chega, e Coates passa meia temporada se questionando por seus atos. Isto, misturado ao fato de Doggett começar a se sentir compadecida pelo seu agressor, produz um turbilhão de emoções contraditórias nos expectadores, ainda mais levando-se em conta que o público mais abrangente da série é o feminino. Em tempos que a luta pelos direitos das mulheres e a luta contra os abusos às mesmas estão mais em voga do que nunca, tal abordagem mostra-se ousada. Como definir quem está correta: Doggett, ao enxergar o arrependimento de seu agressor, ou Boo (Lea DeLaria) tratando-o como o lixo que ele demonstrou ser com aquele ato hediondo? Pessoalmente, achei fácil demais para ele ficar apenas com a sensação de culpa e um tapa de Boo na cara. Talvez a vassoura no toba fizesse mais justiça.
Antes Coates fosse o grande problema dentre os guardas de Litchfield dessa temporada. Com a chegada dos veteranos de guerra, podemos ver que as atrocidades de Pornstache seriam fichinha perto do que vimos esse ano. Sob as ordens de Piscatella (Brad William Henke) – um verdadeiro cover do Montanha de Game of Thrones – eles cometem atrocidades com as detentas que culmina nelas esquecendo de suas diferenças raciais e se unindo para tirá-los do poder. Mais uma vez, OITNB aborda muito bem os abusos sofridos dentro de encarceramentos.
O que nos leva para o momento mais triste de toda a temporada e para muitos da série. Jamais imaginei que teriam coragem para matar a detenta mais adorável de toda Litchfield. A morte de Poussey chega como um trator para avassalar não só nossas emoções, mas toda a estrutura da série. Nem todo o carisma do qual Caputo (Nick Sandow) goza com as detentas é capaz de deixá-las seguras de que a justiça será feita. Por mais que tenha sido tratado feito marionete por Linda e pela corporação privada que gere Litchfield, Caputo sempre foi bem intencionado e tentou fazer o que julgava melhor para as detentas. No fim, o sentimento de impunidade explode junto com um motim em Litchfield, dando um gancho sem precedentes para a quinta temporada, além de uma Daya (Beth Dover) acordando para a vida e fazendo alguma coisa relevante para variar um pouquinho.
Algumas considerações que podemos levar em conta desta 4ª:
1. As voltas das tão queridas Nicky (Natasha Lyonne) e Sophia (Laverne Cox). A primeira fez muita falta ano passado com seus comentários e conselhos totalmente ácidos e sarcásticos, tal qual suas caras e bocas de quem tá doido pra dar um teco. A segunda pouco apareceu, porém brilhou com o pouco espaço (literalmente) que lhe foi destinado.
2. Red realmente no comando fazia muita falta. Depois de um ano sensacional disputando o poder com Vee (Lorraine Toussaint), seguido de outro ano de shippação forçada com Heally, finalmente vemos a verdadeira dona do pedaço dando as cartas em Litchfield.
3. Judy King (Blair Brown), que porporcionou belas e engraçadas cenas, especialmente interagindo com Yoga Jones (Constance Shulman) e Luscheck (Matt Peters), é abertamente inspirada em Marthe Stewart, outra famosa business woman com programa de culinária muito famosa nos Estados Unidos. Aliás, já passou da hora de um flashback especial para Yoga Jones.
4. Crazy Eyes (Uzo Aduba) é sempre unanimidade para todo fã de OITNB. Nesse ano até achei-a mais contida na trama do que o normal. Mas depois de ver o 11° episódio com seu flashback, só pude pensar: temos uma emmy tape! E como não se emocionar com ela tentando sentir a mesma falta de ar que P sentiu antes de morrer?
Revisado por: Bruna Vieira.