Quando consumimos obras culturais, sejam literárias, televisivas ou cinematográficas, é natural que busquemos uma identificação com os personagens retratados e um dos motivos do fia do orgulho LGBTQIAP+ é essa.
No universo dos games isso não é diferente. A jornada do herói é, principalmente, a aventura de quem segura o controle do console. Por isso é tão importante que quem joga consiga também se identificar com o personagem na tela.
Então no Dia Internacional da Luta contra a LGBTFobia, celebrado sempre em 17 de maio, não é de hoje que as pessoas buscam representatividade no que consomem, seja na televisão, em séries ou em filmes. Nos jogos isso não é diferente. Em uma comunidade considerada um tanto quanto hostil para os LGBTQIAP+, personagens atrelados a essa vivência são essenciais para que mais jogadores se identifiquem e sintam que ali também é o seu lugar.
O Movimento LGBTQIAP+
Tudo começou na cidade de Nova York, em 1969, quando policiais realizaram atos de violência contra o público LGBT que estava no famoso bar Stonewall. As pessoas que estavam dentro do bar, frequentadores e outras pessoas da comunidade que presenciaram o ato, resistiram por dias, recebendo todo o suporte contra os atos discriminatórios. Uma das pessoas mais importantes neste ato, a travesti e ativista Marsha P. Johnson, é lembrada com seu devido mérito até hoje como pioneira no ativismo.
O movimento foi um dos marcos na luta pelos direitos da população LGBT. Anos depois, a sociedade ainda nega e reprime a existência de pessoas não-heterossexuais, seja em ações veladas ou em extremos de agressões físicas. Infelizmente, o universo dos videogames, que é um recorte dessa mesma sociedade, ainda é repleto de pessoas homofóbicas, transfóbicas e que estão presas em um pensamento arcaico.
Por outro lado, há um belo e necessário movimento crescente para reforçar a existência dessas pessoas como membros da indústria, das equipes de desenvolvimento até o consumidor final. Muitos games fazem um ótimo papel para educar e mostrar como a vida da população LGBTQIAP+ é através das narrativas propostas. Alguns jogos se tornam tão bons e marcantes que fazem história também pelas suas qualidades de mecânicas, jogabilidade, artes visuais e trilha sonora. Resultando em experiências únicas e impactantes.
Por mais que o sexto mês do ano seja para promover a luta das pessoas LGBTQIAP+, políticas inclusivas, reconhecimento e respeito a esta população deve ser parte do dia-a-dia. Quem sabe, no futuro, poderemos viver em um mundo onde a sexualidade ou o gênero de cada um não importa e não a coloca em uma situação diferente das demais.
Personagens LGBTQIA+ estão em vários títulos dos jogos e apesar de muitas pessoas não saberem disso, por de fato não ser algo que necessariamente deva ser um espanto, é algo gratificante e significativo para quem é da comunidade, por conseguirem enxergar representatividade em um mundo que tanto nos omite e banaliza pelo simples fato de amarmos quem amamos.
Irei listar alguns personagens que nos representam nos dias de hoje, mas esse não é o intuito da matéria em si e sim a luta do dia-a-dia que temos porém segue abaixo os personagens listados por mim aqui no cabana :
Birdo – Super Mario Bros 2 (1988)
Considerada a primeira personagem transexual no mundo dos jogos, Birdo é uma criatura que se assemelha a um dinossauro, assim como o famoso Yoshi. No jogo ela é uma vilã que atira ovos de sua boca para causar dano. No manual do jogo americano diz: “é um garoto que pensa ser uma garota”.
Birdo é icônica por ser retratada como a primeira trans nos jogos, por ser forte e bastante carismática, principalmente nas suas aparições mais recentes. A moça ainda participa de vários outros títulos da Nintendo como Super Mario RPG, Mario Tennis e Super Smash Bros.
Poison – Final Fight (1989)
Tendo sua primeira aparição em Final Fight, Poison é uma mulher transexual poderosa. Final Fight é um jogo beat-‘em-up comumente conhecido no Brasil como “briga de rua”, onde a personagem vai passando pelo estágio conforme luta com inimigos e são geralmente vistas poucas mulheres nesse tipo de jogo, principalmente na época em que foi lançado. Poison foi apresentada como uma vilã forte que saltava para escapar de ataques e usava uma voadora para atacar
A princípio, Poison seria uma mulher cis, mas temendo ações judiciais afirmando que no jogo havia espancamento de mulheres, a Capcom a registrou como transexual, o que continua errado, pois trans ou cis, Poison continua sendo uma mulher. Alguns anos depois a personagem foi incluída em outros títulos como Street Fighter × Tekken e Ultra Street Fighter 4.
Alucard – Castlevania (1997)
Tendo sua primeira aparição em 1989 no jogo Castlevania III: Dracula’s Curse, Adrian Tepes, ou como é popularmente conhecido, Alucard, foi eternizado por seu protagonismo no título Castlevania: Symphony of the Night, inicialmente produzido para PlayStation. Apesar de não ser dito nestes títulos, Alucard é bissexual, e essa característica é explorada em outras mídias no caso no anime disponibilizado pela plataforma de streaming a Netflix. Pegando os fãs da série de surpresa, o vampiro e filho de Drácula, por ser bissexual, também faz parte da comunidade LGBT.
Trevor Philips – GTA V (2013)
Apesar de GTA ser um jogo que não é tão comumente jogado pela comunidade LGBTQIAP+ a exceção à febre causada pela Samira Close após suas streams com a personagem Agatha Feroz , o jogo também possui personagens LGBT. Neste caso temos o pansexual Trevor Philips. Um violento sociopata que mata sem remorso algum.
Definitivamente essa não é uma das melhores influências para a comunidade, mas com certeza é muito importante que haja esse tipo de inclusão, independente do jogo. Introduzir personagens LGBTs atrai não somente um público específico para o jogo, mas também enriquece a história do personagem e do jogo como um todo.
Ellie – The Last of Us (2013)
Uma das personagens LGBTs mais icônicas dos últimos tempos, Ellie da franquia The Last of Us possui bastante visibilidade no mundo gamer. Sua sexualidade foi explorada no segundo título da saga, onde, infelizmente, muitas pessoas acabam criticando o jogo e dizendo que isso não deveria ser abordado, o que causou um certo burburinho na época de seu lançamento.
A protagonista é muito forte e resistente, passando por diversas lutas e perdas durante sua jornada, é satisfatório ver alguém com a história de Ellie representando a comunidade LGBT. Ellie é lésbica e possui uma relação com Dina, que é uma mulher bissexual. Há um momento no jogo em que ambas estão dançando e acabam sofrendo represália por terem se beijado. É uma cena revoltante e emocionante, trazendo bastante identificação para a comunidade LGBT. A empresa responsável pelo jogo, Naughty Dog, costuma investir na história dos jogos e dos personagens, algo que com certeza abrilhanta a experiência do jogador. Esperamos ver mais exemplos !
Cremisius Aclassi – Dragon Age: Inquisition (2014)
Neste RPG vemos Cremisius Aclassi, também conhecido como Krem. Ele é um garoto trans, ou seja, nasceu como garota, mas nunca se identificou com o gênero. Seu pai precisou se vender à escravidão para ajudar a família e depois disso, Krem se juntou ao exército para tentar melhorar essa situação.
Como o jogo retrata uma época bem antiga, aqui o papel das mulheres durante guerras e conflitos era limitado, então Krem subornava o curandeiro que realizava exames físicos para que não expusesse sua condição. Posteriormente, Krem se juntou aos Qunari, um grupo que não fazia distinção de gênero para quem se juntava a eles, desde que desempenhasse seu papel como deveria.
Kung Jin – Mortal Kombat X (2015)
Um dos jogos mais famosos de luta no mundo inteiro possui, em sua gama de títulos e personagens, uma figura LGBTQIAP+. Estamos falando de Kung Jin, sobrinho do famoso Kung Lao, ambos possuindo exímias habilidades com projéteis: arco e flecha e chapéu, respectivamente.
Participante da Sociedade da Lótus Branca, Kung Jin acredita que pode ser rejeitado por ser gay, um medo que não se atém somente aos jogos eletrônicos. Até então tido como único LGBT em Mortal Kombat, também contamos com o casal Mileena e Tanya, que foi confirmado por uma das desenvolvedoras do jogo, Stephanie Brownback, através de um podcast.
Chloe Price – Life is Strange (2015)
Chloe Price é aquela adolescente punk rock, rebelde e que possui todos aqueles problemas juvenis. Ela é apaixonada por Rachel e conforme você vai jogando, descobre mais sobre o relacionamento de ambas e o próprio desenvolvimento da personagem, que inclusive sofre de depressão, característica comum entre jovens LGBTs, por não conseguirem se sentir inseridos em rodas de amigos, dentro da própria família e inclusive seguros consigo mesmo. Life is Strange é uma saga muito interessante e que possui uma história e tanto, e Chloe aparece como protagonista no título Life is Strange: Before the Storm, onde seu relacionamento com Rachel é mais abordado.
Soldado: 76 e Tracer – Overwatch (2016)
Overwatch ganhou o prêmio de Jogo do Ano em 2016, o que trouxe grande reputação ao FPS da Blizzard. Nele há vários personagens maravilhosos, incluindo o Soldado: 76 e a tida como protagonista do game, Tracer; e eles são gays. Por se tratar de um jogo grande e de uma empresa grande.
Overwatch acabou recebendo muitas críticas sobre a sexualidade dos personagens terem sido exploradas, algo que, infelizmente, acaba sendo comum neste nicho. Entretanto, a comunidade LGBT e seus aliados receberam a informação com bastante felicidade e orgulho, principalmente por termos uma como Ellie em The Last of Us, outra protagonista LGBT nos jogos.
Makoa Gibraltar – Apex Legends (2019)
Por último e definitivamente não menos importante, temos o conhecido como Gibraltar, personagem jogável no battle royale Apex Legends. Na história, vemos que Gibraltar é um homem gay cuja gentileza chega ser tamanha tal qual sua altura, mas não se engane, há quem diga que ele consegue esmagar um crânio com suas próprias mãos. É abordado em sua história que possui problemas relacionados ao seu pai e que namora um moço chamado Nikolas.
Essa foi nossa mini lista apesar que eu poderia citar inúmeros os personagens pois temos a comunidade da Riot o próprio League of legends tem diversas representatividades dentro desse universo.
Neeko, Diana e Leona – League of Legends (2007)
League of Legends possui mais de cem personagens jogáveis, entre eles as mais variadas características como suas terras natais, idiomas conhecidos, se são humanos ou não… inclusive sua sexualidade. Neeko é uma vastaya (espécie híbrida de animais selvagens e humanos) que possui atração por outras personagens femininas e, conforme divulgado por um funcionário da Riot Games, ela é lésbica.
Além dela também temos Diana e Leona, que são de tribos opostas e, apesar da rivalidade de seus clãs, possuem uma paixão romântica mútua. Inclusive, neste ano a Riot está comemorando o mês do Orgulho LGBTQIAP+ tendo Diana e Leona em destaque. Incluo também uma menção honrosa ao Varus, campeão que é composto pela junção de um casal de homens gays.
A representatividade LGBTQIA+ é algo que vem crescendo cada vez mais no mundo dos gamese em outras mídias, e este 28 de junho é uma das muitas oportunidades que a comunidade tem para se levantar e declarar o seu orgulho por toda a luta e evolução que vem conquistando ao longo dos anos.
Nós torcemos para que, a cada dia que passa, o mundo se torne um lugar mais acolhedor e respeitoso com toda a comunidade e por fazer parte dessa comunidade fico agradecido demais em poder transmitir essa mensagem para todos os leitores e espero que tenham sido bem representados aqui e continuem sendo ainda mais, Feliz Dia do Orgulho!