Colaborou: Viviana Bastos
No dia 24 de março a Fábrica de Cultura do Capão Redondo, na zona sul da capital paulista ficou repleta de fãs de cultura pop, nerd e geek. O público de mais de 4 mil pessoas pode encontrar diversas atrações, como concurso de cosplay, exposições, oficinas, palestras e compras com preços bem acessíveis, tudo com entrada gratuita.
O PerifaCon nasceu do incômodo que 7 amigos das periferias de São Paulo (Andressa Delgado, Igor Nogueira, Luíze Tavares, Mateus Ramos, Matheus Polito, Pedro Okuyama e Gabrielly Oliveira) sentiam em relação à falta de eventos de cultura pop/nerd nas periferias.
Com financiamento coletivo, patrocínios e voluntários, a primeira edição do PerifaCon foi um grande sucesso e mostrou como a quebrada também consome e produz cultura geek.
Batemos um papo com um dos organizadores, o assistente de produção cinematográfico, Mateus Ramos, 22, sobre a importância do evento, representatividade e muito mais. Saca só:
Cabana Do Leitor: De onde surgiu a ideia para realizar o PerifaCon?
Mateus Ramos: O PerifaCon nasce da discussão de sete amigos em torno de como a quebrada consome cultura nerd e o acesso a esse tipo de evento. O quanto que a quebrada sofre essa carência de eventos nerds, mas não porque ela não consome e sim, porque realmente não tem.
CDL: Como foi o corre para colocar o PerifaCon de pé? Quanto tempo demorou entre as primeiras conversas e o evento?
MR: Desde a conversa até a criação da campanha demorou aproximadamente um mês e meio. A viabilização do evento começou com o crowdfunding, no Benfeitoria [site de financiamentos coletivos]. Aí depois disso, a gente foi atrás de patrocínio e foi bem corrido, fizemos com o orçamento um pouco apertado, uma parte do dinheiro do Benfeitoria e outra do patrocínio.
Um dos problemas também era conseguir juntar todos os organizadores para fazer reuniões e organizar a produção do evento, porque a maioria dos integrantes da equipe trabalhavam na época.
CDL: Quantas pessoas participaram do evento?
MR: A gente teve um público estimado de quatro mil pessoas. Tivemos sete pessoas atuando na produção, além dos voluntário no dia, que foram em volta de setenta, que deram uma força crucial. A montagem da Fábrica aconteceu um dia antes e já tinha voluntário com a gente, ajudando.
CDL: Na sua opinião, atualmente a cultura geek é elitizada? Por quê?
MR: Olha, na minha opinião a cultura geek ela é elitizada por uma questão cultural. Eu acho que isso vem mudando, com outras propostas de consumo. Antigamente muito do conteúdo geek era visto só em tevê a cabo, os livros e quadrinhos eram muito caros, então era tudo muito em um nicho. Mas hoje, com a popularização dos super-heróis nas telas de cinema consequentemente, indo pra streaming, para canais digitais, isso se popularizou. Mas ainda tem muito a ser mudado.
CDL: Dentro desse contexto, porque foi tão importante realizar o evento?
MR: Você ter esse tipo de evento na quebrada é muito importante por si só. As pessoas limitam muito a quebrada a eventos culturais musicais, a hip-hop, samba, funk… e a gente prova que não, né? Que na real existe nerd em todo canto, inclusive na quebrada. E aí ter um evento desse porte para galera frequentar, mostra que também têm pessoas ali.
Mateus Ramos, que em conjunto com seis amigos, organizou o PerifaCon.
Foto: Renato Souza
Eu acho que o que mais me deixou alegre no dia foi ver todo mundo muito feliz. Tinham muitas crianças e elas estavam super confortáveis, com os cosplays, com as atividades que estavam acontecendo. Tinham muitas famílias e muitas pessoas que estavam gostando de estarem lá. Vi vários sorrisos.
Inclusive, minha família foi e até minha mãe tirou foto com cosplay! O que é algo que eu achava meio inimaginável. Tinha muitas famílias que estavam tendo o primeiro contato com esse tipo de evento, eu acho que é isso que me deixou mais feliz.
CDL: Atualmente tem se discutido bastante sobre representatividade no cenário geek, principalmente no cinema. Poderia comentar um pouco sobre isso?
MR: Representatividade é mais do que necessário. Existe um imaginário aí de que minorias não produzem ou não estão nesse mercado geek. Na real, elas produzem e estão no mercado, elas só não são vistas, ou às pessoas não as querem ver.
Eu acho que é necessário sim ter essa discussão, acho que as coisas vêm mudando, Pantera Negra é o melhor exemplo no Universo do cinema, porque consegue desestigmatizar uma minoria e colocá-la como protagonista. Independentemente do que essa minoria represente, eu acho que ela tem que ser protagonista, porque ela também consome e produz, é super necessário. Acho que temos que caminhar muito ainda, mas a gente está no caminho certo.
CDL: E agora, quais são os planos para o futuro? A Perifacon quer fazer uma segunda edição?
MR: A PerifaCon está se estruturando. Estamos com uma campanha de financiamento recorrente, que visa que a gente tenha uma estrutura mínima, porque uma das dificuldades foi não termos um espaço onde pudéssemos nos reunir em horário comercial. Então, o próximo passo, é a gente se estruturar melhor.
Estamos pensando sim em uma segunda edição, sem lugar definido ainda. A Perifacon continua, a gente está aí a procura de apoio. Não queremos parar, porque a gente viu a importância que o evento tem. É algo da quebrada pra quebrada e a ideia é ser algo itinerante, que várias quebradas possam viver.