O novo “Quarteto Fantástico” estreou com tudo renovado, novo roteiro, nova direção e novos atores. E quanto a estes últimos são novos mesmo, pois a ideia do filme é usar como base a versão Ultimate do Quarteto Fantástico, que se diferencia muito do original.
Antes de falar do filme, vamos falar um pouco sobre o primeiro supergrupo da Marvel Comics. O Quarteto Fantástico surgiu em revista própria em novembro de 1961, iniciando uma nova onda de super-heróis da editora.
O Quarteto já teve duas adaptações em live action. A primeira, em 1994, nem foi lançada nos cinemas, pois foi feita apenas para a FOX não perder o direito sobre os personagens. Já o segunda, não somente foi lançada em 2005 como ganhou uma continuação em 2007. E agora retornam aos cinemas.
Quando eu disse que usam como base a versão mais jovem do Quarteto, eu quis dizer que vemos elementos semelhantes ao universo Ultimate nessa nova versão.
O filme já começa nos apresentando Reed Richards bem jovem, dizendo ter criado o teletransporte, mas é descreditado pelo seu professor incrédulo e pessimista. À noite invade o ferro-velho da família de Ben Grimm, que termina o ajudando no projeto que, anos depois, o levaria a ser chamado pelo Dr. Franklin Storm (Reg E. Cathey) e sua filha Sue (Kate Mara) para trabalhar na Fundação Baxter. Reed (Miles Teller) ao chegar no prédio da Fundação descobre que trabalhará com o genial Victor Von Doom (Toby Kebbell). Para ajudar eles dois e Sue, Dr. Storm chama seu filho rebelde, Johnny Storm (Michael B. Jordan). Quando eles finalizam o projeto e o primeiro experimento é um sucesso, eles são frustrados pela empresa que financia a Fundação, liderada pelo Dr. Allen (Tim Blake Nelson), um burocrata que acredita no uso da criação para outros fins. Mas Reed e Victor não se deixam abater e decidem, junto com Johnny, fazer a viagem. Como quarto membro, Reed chama Ben (Jamie Bell). Com a viagem as coisas fogem do controle e Reed, Ben, Sue e Johnny tornam-se anomalias.
O filme não é a melhor coisa que já foi feita com personagens da Marvel Comics, mas parece que a frase “se não é a Marvel Studios, não presta” fica batendo na cabeça dos fãs dos filmes da empresa. Sim, pois o filme não é tão medíocre quanto atestam. Há muitas falhas, o elenco não parece funcionar muito bem junto, mas a história é interessante. O que achei mais estranho foi que Josh Trank bateu o martelo que não usariam nenhuma versão da Marvel (nem o que estamos acostumados e nem o Ultimate), mas termina que o filme tem muitas semelhanças com a Terra-1610. Não somente pelo fatos dos personagens serem mais jovens, praticamente saindo do ensino médio, mas o envolvimento do pai de Sue e Johnny, o Dr. Franklin Storm, o teletransportador para outra dimensão, a feira de ciências… Vai passando o filme e você percebe esses elementos do Universo Ultimate.
O maior problema são as falhas do filme, pois nessa tentativa de se afastar do Universos Marvel, as coisas perderam o sentido, como a forma que Reed, Ben, Sue e Johnny ganham seus poderes. No Universo Ultimate o Dr. Storm percebe uma semelhança com os elementos da natureza, mas no filme não tem motivo nenhum, eles somente ganharam esses poderes por causa de acontecimentos aleatórios. O mais absurdo são os poderes de Sue Storm, pois vem de lugar nenhum. Eu já não gostava do que eu via nas fotos do Doutor Destino, no filme me desagradou mais ainda, sem contar que a sua “capa” surge do nada, ele simplesmente a tem. Poderiam dizer que é a bandeira que Ben Grimm levara para a “Terra Zero” (cara, por que não chamaram de Zona-N?), mas não parecia ser, nem de perto.
Outro grande problema é o entrosamento do elenco, que parecia ensaiado, não funcionando da forma como teria de funcionar. A amizade de Reed e Ben, mesmo que este último o tenha ajudado a carregar as malas para a Fundação Baxter (outra semelhança com o Universo Ultimate), parecia que era informal. A raiva de Ben, culpando Reed pelo seu infortuno, não teve a devida importância que deveria ter. Não vi a “química” funcionar entre o triângulo amoroso: Reed, Sue e Victor (sim, reprisaram essa ideia). Não parecia que ela tivesse um envolvimento com qualquer um dos dois, e quando citam que ambos confiam nela, eu fiquei pensando: “será mesmo?”, mas isso não quer dizer que as atuações sejam ruins. Miles Teller, que eu descobri toda sua força como ator em “Whiplash: Em Busca da Perfeição” (2014), está muito bem como Reed Richards. Você percebe quando ele fica surpreendido, deslumbrado com seu novo lar na Fundação Baxter, ao mesmo tempo que sente o peso que ele carrega, culpando-se pelo que ocorrera com seu melhor amigo no acidente do teletransporte. Pena que somente nele percebi um certo esforço pela dedicação ao personagem.
Michael B. Jordan, que tanto defendeu seu personagem, não percebi qualquer coisa que podemos dizer que seja relevante. Já não gostava de Kate Mara, achando-a insossa e totalmente desnecessária, mas nesse filme ela não consegue criar química nenhuma com quem deveria criar. Não sei se a intenção era fazer uma personagem fria, mas mesmo assim esperava ver uma “chama” surgindo entre ela e Teller. Nem a raiva dela pareceu real.
Mesmo não parecendo se entrosar com Teller, Jamie Bell, o eterno Billy Elliot, tem seus bons rompantes de atuação. Ele parece encantado pela jovem Sue Storm, quando a vê pela primeira vez (pena que não foi correspondido), demonstra felicidade pelo amigo quando vão para a Fundação Baxter, mas depois que vira o Coisa, sua voz se torna – quase – monotônica. Perdendo bastante das emoções que deveria demonstrar nesses momentos, já que – dessa vez – ele é revestido de pedras, mesmo.
Nunca considerei Toby Kebbell um ator expressivo. Se ele interpretasse uma estátua seria o mesmo que vê-lo atuar, só que com voz. Ele não tem a força necessária para interpretar o Doutor Destino.
Bem, quando você lê tudo que eu escrevi, deve pensar, “como esse filme não pode ser tão ruim?”, mas mesmo com todas essas questões, a renovação do Quarteto teve muitos problemas de bastidores, que percebemos no decorrer do filme, devido aos buracos contidos na história. O roteiro teria tudo para deixar muitos de boca aberta, se os atores tivessem trabalhado melhor em conjunto e o ritmo não fosse tão morno. Não estou culpando Josh Trank (que escreveu e dirigiu o fantástico “Poder Sem Limites”), mas creio que ele tenha se sentido pressionado, o que causou problemas na direção. Se ele tivesse seguido o filme de acordo com o roteiro, com certeza, poderia ser um dos melhores filmes do ano, mas infelizmente não é o caso.