A semana de estreia da terceira temporada de Sessão de Terapia iniciou-se na segunda feira passada, dia 04 de agosto. O brilhantismo da versão brasileira da Série “Be’tipul,” é que desde a segunda temporada já havia a introdução de novos plots dramáticos no arco da série, que passou a desenvolver e ampliar tramas ainda da primeira temporada, como envolvendo o policial Breno e o casal Ana e João.
Nesta terceira temporada, os roteiros são totalmente inéditos, uma vez que a série original só continha duas temporadas. E a sessão de terapia deixa de ser só uma versão brasileira de maneira corajosa – a versão americana (In Treatment) também desenvolveu a noção dos conflitos individuais e finalizou o arco dramático do protagonista de maneira brilhante, contudo, encurtando a série, sendo finalizada na terceira temporada com apenas 28 episódios e três pacientes; aqui no Brasil continuamos com o formato de 5 episódios por semana, e temos um fôlego novo quando é introduzida a ideia do grupo de supervisão. E a qualidade dos novos pacientes e do desenvolvimento do conflito central de Theo que atravessa as temporadas da série pode render ainda mais temporadas! A série passa atualmente no canal GNT de segunda à sexta, às 22h30. Sábados reprisa, a maratona da semana, às 14h30 e domingo às 18h30.
Theo ainda está sob os impactos dos acontecimentos das duas primeiras temporadas da série, e retoma o trabalho após um tempo afastado. Sem comentar muito do primeiro episódio, já resenhado por Edilson Rezende aqui mesmo no cabana, vale ressaltar como a abertura em alto mar já nos indica muito de como o protagonista e está e como caminhará ao longo das próximas sessões; é importante lembrar que a proposta da série vai além de reproduzir casos em consultório de terapia, mas contar a história de um terapeuta com diversos problemas pessoais, que passa por um processo de desconstrução enquanto tenta manter seu equilíbrio com as sessões que tem com seus pacientes. Isso fica muito claro na maneira inteligente como o roteiro constrói essa trama introduzindo o conflito do filho de Theo ao longo da semana, culminando no grupo de supervisão a explicitação e o debate sobre o conflito. É bom que a série cria novos plots de ação dramática de qualidade, sem necessariamente pegar o mesmo caminho da versão americana.
No segundo episódio, somos apresentados a Diego, um jovem com claros problemas de alcoolismo, que é levado para terapia após ter aprontado em uma festa de família. Chama atenção na história do jovem que ele não possui mãe, e quem o acompanha é uma espécie de governanta da família. Ela entra na sessão mas não fica até o final, rapidamente deixando Theo conversando com o paciente. Ravel Andrade compõe bem o tipo problemático da classe média, e o desafio entre ele e Theo por conta da permissão de beber ou não no consultório é o ponto alto do episódio. Esse caso promete ser emblemático, pois promete ser o disparador dos conflitos internos de Theo envolvendo o seu Filho e a questão do abuso e vício em cocaína. Somos brindados com a presença da filha de Theo, dando continuidade ao arco dramático desse filho adicto de Theo, como eu disse anteriormente, inteligentemente costurando as sessões ao longo da semana.
No terceiro episódio – que foi o que mais gostei, também por motivos pessoais – somos apresentados à Felipe (Rafael Lozano), num discurso espiralado que, cada vez que Theo questiona o motivo urgente que Felipe veicula logo no início da sessão que o fez ir ali, muda e nos faz perceber a sua verdadeira motivação. A divulgação da série já entregou de bandeja o fato de Felipe ser homossexual, algo que é revelado de forma tocante no final do episódio, e que perde um pouco da força dramática se já soubermos antes. Rafael Lozano tem uma interpretação contida e excelente, e o roteiro do episódio é brilhante quando mostra Theo prontamente respondendo às perguntas de Felipe quanto à sua vida pessoal, o que denota claramente como Theo não ocupa a posição de analista, e se coloca como sujeito ao invés durante sua atuação profissional. O final do episódio, com Theo sentando no sofá dos pacientes para ligar para Evandro é emblemático.
No quarto episódio temos o retorno das consequências da trama de Breno Dantas (interpretado por Sérgio Guizé na primeira temporada). Milena (Paula Possani) é Viúva após o suicídio de Breno, e, aos poucos, ao longo da sessão, sua agenda ocupada revela-se uma desculpa para não confrontar as pesadas emoções de luto e culpa pela morte do marido. A sua relação com o filho também se mostra fragilizada após a traumática morte do policial. A resistência de Milena em fazer terapia é explicitada logo quando ela chega, dizendo que não foi ali em busca de terapia, apenas para verificar uma questão. Contudo, ao final do episódio, ela promete voltar, apenas mais uma vez. De fato, olhar para dentro e confrontar seus próprios demônios não é uma tarefa fácil. Paula está performando com uma melancolia ímpar, e sob a direção segura de Selton Mello, demonstra uma excelente atuação.
Finalmente, a famosa sexta-feira. Se antes Theo fez supervisão e análise com Dora (a Excelente Selma Egrei, que é creditada como personagem na terceira temporada, mas ainda não apareceu), agora ele foi convidado por Evandro Mendes (Fernando Eiras, um ator sensacional), um famoso terapeuta que retorna de Viena após 20 anos para dar um curso na USP e cria um grupo de supervisão com uma ideia um tanto quanto curiosa – misturar diferentes abordagens num mesmo grupo. Tal ideia seria considerada improvável em um grupo de supervisão real, uma vez que a proposta de tal grupo é auxiliar o terapeuta dentro da teoria e da atuação específica de uma linha de terapia. Contudo, o grupo soa orgânico e verossimel, graças também a atuação de Camila Pitanga, como a jovem e bonita Rita e do veterano Celso Frateschi, que interpreta Guilherme, um terapeuta de TCC chefe da clínica onde Rita trabalha. A sinopse dos personagens no site do GNT já antecipa o conflito que já se estabelece e começa a ser desenvolvido no episódio. A ansiedade de Rita e as intepretações de Guilherme e Evandro, a exposição de Theo e os conselhos dos colegas. E a dinâmica entre Guilherme e Theo, que certamente irá envolver Rita, dado o histórico de cada personagem, também já é anunciada – vide a cena do cartão, no final.
Com personagens tão interessantes quanto o das temporadas passadas, a primeira semana da terceira temporada possui episódios excelentes, conflitos interessantes e já introduz o conflito inicial da temporada sem deixar de desenvolver tudo que foi construído nos episódios anteriores. Que os roteiros inéditos continuem tão bons!