Dentro de uma narrativa seriada é comum que os dramas sejam repartidos progressivamente entre episódios, logo, o espectador navega entre um gancho e outro e se mantém conectado à trama a partir de uma série de artifícios que captam seu interesse.
Tendo isso em vista, é comum que as produções invistam em um piloto chocante e grandioso que tanto feche um primeiro arco curto quanto fisgue a audiência para embarcar no desenrolar de capítulos futuros.
Por sua vez, Mare Of Easttown investe na boa fé e disposição do público com um episódio que é pouco eficiente ao ditar a cara o rumo da série. Com todas as fichas alocadas em apresentar o universo que cerca as personagens, o primeiro passo da jornada pode ser tanto a fundamentação de uma base para apoiar esse desenvolvimento despretensioso e esquisito quanto um alerta para o desenrolar entediante de acontecimentos que será apresentado.
Acompanhamos Mare Sheehan (Kate Winslet) em mais um dia como detetive da polícia de Easttown. Os dramas de sua vida profissional e pessoal se chocam através da pequenez da cidade que confronta funções e pessoas ao mesmo tempo que esboça um passado nefasto que não se cansa de assombrar o círculo que protagoniza o enredo.
Existe um tom cômico ao vermos os dramas de meia idade que cercam Mare, todavia, o passado obscurecido e as diversas lacunas, que corajosamente não explica de cara, parecem contradizer a aura sarcástica com uma história sem espaço para esse tipo de alívio.
Como é bem comum para o ponto de partida de produções seriadas, o primeiro episódio prepara o terreno. Nesse caso, introduz tanto a rotina da protagonista e daqueles que a cercam, revelando a sua personalidade e como interage e se relaciona com os que estão por perto, quanto dá a fagulha inicial para a combustão da história. Com isso pontuado, não há êxito em nenhum dos objetivos, já que até mesmo a ação no cotidiano de Mare se torna maçante e a força motriz da história se apoia em um gancho clichê e em pequenas estranhezas desenhadas de forma desconexa com o resto dos acontecimentos.
É como se a apresentação da proposta não houvesse sido concluída. Nem o tom da série e até mesmo sobre o que ela se trata, ao lado de qualquer reflexão que possa circundar sua temática, ficam claros aqui. Os diálogos, que quando não são expositivos se prendem a comicidade ou uma tentativa falha de passar a personalidade das personagens através da fala, pouco contribuem para a encenação, deixando essa apresentação toda não só imatura como também ineficiente.
Em suma, é um começo bem chato e desinteressante para uma série que, com o nível de qualidade que a HBO está acostumada e o tamanho e relevância do elenco, pode angariar alguma expectativa. Há a necessidade intrínseca de se assistir ao segundo capítulo, não necessariamente por interesse, qualquer outra característica que a linguagem proponha ou que um bom começo desperta no espectador, mas sim pelo simples fato de poder experienciar um arco curto em sua completude e elaborar o julgamento cabível para investir ou desistir de acompanhar a resolução do mistério categórico da cidade pequena.
MAGEPOSÉ claro que, ao longo de mais alguns episódios, a série ainda pode se encontrar, fechar tudo que abre e moldar o seu meio termo entre a amargura de sua veia cômica e a jornada solitária e egocêntrica de detetive. Ainda assim, com tudo que introduz de início, a primeira impressão não é nada boa.