Renegados é o primeiro livro da nova trilogia de Marissa Meyer, Crônicas Lunares (é uma série de quatro livros com volumes baseados nas histórias de Cinderela, Chapeuzinho Vermelho, Rapunzel e Branca de Neve). O livro já figurou na primeira posição do The New York Times. A autorapossui especialização em Escrita Criativa pela Pacific Lutheran University e em Publicação pela Pace University. A obra foi lançada no Brasil pela editora Rocco com tradução de Regiane Winarski.
Nova é uma anarquista e busca vingança contra os Renegados (Grupo de prodígios que se tornaram um símbolo de esperança e coragem). Enquanto se aproxima de seu alvo, ela conhece Adrian, um garoto Renegado que acredita na justiça e em Nova.
Em Renegados, prodígios são humanos com habilidades extraordinárias que durante um tempo de crise – guerras civis em todos os continentes; não havia polícia; não havia prisão; vizinhos roubavam de vizinhos; lojas eram saqueadas e crianças morriam de fome na sarjeta – manifestaram-se para fazer a mudança no mundo.
“Passou a ser os fortes contra os fracos, e, no fim das contas, os fortes em geral eram uns idiotas”
Em tempos de discórdia, o ser humano busca uma moral. Nietzsche, filósofo, dirá que a moral é o triunfo das forças reativas pelas ativas; quando os fracos precisam criar leis para impedir a vitória excessiva dos fortes. Na obra de Marissa Meyer, Ace Anarquia uniu os prodígios mais poderosos que conseguiu encontrar contra governos opressores, criando a Era da Anarquia, da qual veio a ser combatida com a chegada dos Super-heróis, chamados Renegados.
A razão do Governo ter sido opressor foi por temer as habilidades dos prodígios; eles rebateram diminuindo o poder destes políticos, no comando de Ace Anarquia. Durante este caos surge a necessidade de um outro grupo agir como força reativa, assim são criados os Renegados. Heróis que vêm não exatamente para combater o mal, mas para impedir o crescimento de uma força.
Por isto, para continuarmos o ciclo que cria a moral, o livro em seu prólogo introduz o motivo de Nova, uma protagonista, ser ‘Anarquista’. Com a derrota de Ace Anarquista e a influência do heroísmo dos Renegados no mundo, é preciso de uma força reativa. Mas não basta apenas ter; a obra sabe da necessidade de clarear seus motivos, o que torna a construção dos personagens e da história bem elaborada.
Depois desse Prólogo somos levados para dez anos depois de Nova ter crescido com seu motivo de ser Anarquista e querer se opor aos Renegados. Também somos apresentados a Adrian, um Renegado filho do casal de heróis mais famosos: Capitão Cromo (Super força e é capaz de gerar armas de cromo) e o Guardião Terror (Pode ficar invisível).
“Nós dois sabemos que o mundo ficaria melhor sem heróis. Sem vilões. Sem nenhum de nós atrapalhando as pessoas normais e felizes nas vidas normais e felizes”
A obra ao construir o ideal da cada protagonista nos apresenta sutilmente ao dualismo da moral.
O dualismo consiste em dois princípios, substancias ou realidades opostas. Testemunhamos primeiro na presença dos elementos que os prodígios podem desenvolver em suas habilidades, um fator de elemento espiritual, que convive com suas emoções e fisionomias humanas, um fator físico.
Espiritual e físico
“Ele não era mais jovem, como quando formou os Renegados. O Conselho estava envelhecendo, passando o legado para uma nova geração”
Apesar de seus feitos super humanos, eles envelhecem; criam famílias; estabelecem limites. Estas características nos ajudam a ver que a idealização do povo em eternizar seus mitos – criando deuses – é apenas por não conhece-los o bastante, por não ter acesso aos pequenos detalhes que o leitor tem direito.
Bem e mal
Outro da dualidade é a distinta percepção de bem e mal.
A lei moral, à virtude, a luta de bem e mal surge no livro sutilmente, por mais que histórias de heróis contra vilões ou anti-heróis deixem isto bem claro. Em Renegados somos apresentados aos heróis primeiramente por suas falhas e aos Anarquistas pela falta de clareza em seus objetivos; conhecemos tantas imperfeições que não distinguimos bem e mal a partir de herói e vilão, o que distinguimos são ideologias.
Em outras palavras “é tudo questão de ponto de vista”. Começamos o livro como bebês inocentes que não possuem um lado, Marissa Meyer não nos deixa outra escolha além de nos fazer identificar o certo só depois de conhecer a situação por completo; cada capítulo traz um novo olhar tanto para os personagens quanto para o leitor e não sentimos a necessidade de torcer para um lado, já que vemos apenas diferenças e não uma moralidade superior a outra.
O cuidado de construir uma história assim fez com que uma narrativa de super-herói contra vilão não estivesse baseada no bem contra o mal, mas sim na justificativa da construção de uma moral.
A diferença
É brilhante ver que uma história completa e bem trabalhada numa temática cada vez mais dialogada entre públicos de todas as idades consegue nos fazer prestar atenção com calma nas diferenças de certas morais.
Nada melhor que o livro tenha se livrado de governos opressores logo em sua primeira página, pois como lidaremos com os que pensam diferentes quando houver um espaço a ser preenchido para estabelecer a paz? Como será formada esta moral e por quem? Eis então que a história se inicia. E a partir de personagens jovens que estão se descobrindo e criticando uma geração passada que para eles não fez e não faz o suficiente.
A obra constrói uma jornada de aprendizado sobre a construção de pontos e assuntos muito importantes para o ser humano e sua sociedade. A idealização do bem e mal é algo tão complexo que não sentimos que há suficiência em dizer que o personagem é um herói apenas por ser nomeado assim.