Acredito que a leitura de um livro já mudou a sua vida em algum aspecto, seja ele em momentos tristes, neutros ou felizes, um amplificador dos nossos sentimentos e pensamentos que se mesclam de maneira simbiótica enquanto acompanhamos a narrativa.
Em A Bibliotecária dos Livros Queimados, de Brianna Labuskes, vocês observarão como os livros acompanham a trajetória de três mulheres que lutam pelas suas respectivas causas subjetivas, juntamente com o contexto histórico deprimente de uma época em que milhares de vidas eram perdidas e a atmosfera de um futuro era quase nula.
“Para o bem ou para o mal, histórias fictícias permitiam que usassem viseiras, permitiam que se aproximasse das pessoas, por mais inventadas que fossem, sem conhecer a vulnerabilidade inerente do contato com os outros. “– pg. 166 – A Bibliotecária dos Livros Queimados.
A narrativa tem início em 1933, quando a escrita norte-americana, Althea James chega à Berlim através de um convite de Goebbels, oferecendo uma espécie de intercâmbio cultural aos descendentes alemães. A escritora é de uma cidade pequena do interior do Maine, despolitizada, imerge nas variadas facetas da capital alemã, desde o nazismo espalhando-se em variadas camadas sociais à oposição da Resistência Alemã.
Althea conhece Hannah Bretch, inteligente, sagaz e cativante estudante judia, que junto ao irmão Otto, participante do grupo da resistência, convida Althea a obter uma perspectiva diferente os emaranhado político-social da época. As duas personagens presenciam a queima de livros que ocorrera em Berlim em 1933, onde foram reunidas obras de escritores alemães inconvenientes ao regime nazista, e queimadas em praça pública.
“Um ataque aos livros ataques aos livros, à racionalidade, ao conhecimento, não é uma tempestade em um copo d’água, e sim um sinal de alerta.” – pg. 337 – A Bibliotecária dos Livros Queimados.
Como consequência do aumento do nazismo na Europa, Hannah se refugia em Paris, linha que passa em 1942 e começa a trabalhar na Biblioteca Alemã da Liberdade, onde são concentrados livros que fugiram do banimento e aniquilação, onde histórias, pensamentos foram preservados, como se aquele lugar fosse a extensão de tudo o que sobrara após seu refúgio em Paris: “– Não é poético que ela exista só para salvar uma cultura da aniquilação total? Sua pequena biblioteca não é um ponto de luz simbólico para o mundo, mostrando que as palavras são mais poderosas que as armas?” – pg.99 – A Bibliotecária dos Livros Queimados.
A terceira personagem é Vivian Childs, que vive em Nova York em 1944, trabalhando na onde são concentrados diversos títulos que foram salvos da queima alemã de livros, recém-viúva de um soldado, trabalha para a EFA (Edições das Forças Armadas ) onde são enviados clássicos literários à soldados dos EUA para acalantá-los naquele momento tão perigoso, que luta contra a censura do governo atual em restringir literaturas que possam desviar os soldados se seus objetivos.
A narrativa nos traz um estudo histórico rico de informações, tão bem costurado à narrativa ficcional, que podemos acreditar que essas três mulheres realmente existiram. Brianna nos traz três perspectivas das personagens que a princípio parecem fragmentadas, mas se encaixam em um mosaico perfeito no desenrolar da trama. Transporta os leitores para momentos históricos como espectadores, nos envolve de maneira visceral, convidando-nos a sentir as dores, frustrações e amores das personagens.