Reed Hastings, fundador da Netflix (serviço de streaming e produtora),e Erin Meyer, professora da Insead, revelam a cultura da Netflix e o seu crescimento na obra A Regra é não ter regras, publicado pela Intrínseca em setembro, com tradução de Alexandre Raposo.
O livro é introduzido a partir de entrevistas com Reed Hastings, contando sobre a história da Netflix antes do sucesso, quando seu serviço era oferecer às pessoas DVD’s em um site, e recebê-los pelo serviço postal dos Estados Unidos.
A empresa contava com 300 mil assinantes e suas perdas totalizavam 57 milhões de dólares. Como solução, Reed e Marc, co-fundador, apresentaram uma proposta a Blockbuster para que comprasse a Netflix.
“Antioco ouviu com atenção, balançou afirmativamente a cabeça várias vezes e perguntou: “Quanto a Blockbuster teria de pagar pela Netflix?” Quando ouviu nossa resposta – 50 milhões de dólares -, ele recusou categoricamente. Marc e eu fomos embora desapontados.”
Este início apresenta uma perspectiva fundamental para o desenvolvimento de uma empresa: Ética.
“Não era óbvio na época, nem mesmo para mim, mas nós tínhamos uma coisa que a Blockbuster não tinha: uma cultura que colocava as pessoas acima dos processos, que enfatizava mais a inovação do que a eficiência e que mantinha pouquíssimos controles.”
A resposta para a pergunta “Por que a Netflix conseguiu se adaptar diversas vezes e a Blockbuster não?” : é pela cultura, forma de pensar e conviver, pela ética.
Até então o livro cumpre como tantos do gênero, confessando certos erros através da falta de experiência e depois superando graças à percepção, para enfim atingir o sucesso.
Ainda assim, há quem se interesse pela cultura empresarial quando ela declara seguir padrões trabalhistas, a partir de pensamentos antigos, que já não compactuam com os interesses dos novos profissionais. Se as normas não se renovam, então as ideias da empresa estagnam e ela nunca evoluirá.
“Por meio de uma evolução gradual ao longo de muitos anos de tentativa e erro, descobrimos uma abordagem para fazer isso funcionar. Se você der liberdade aos funcionários em vez de desenvolver processos que os impeçam de exercer o próprio discernimento, eles tomarão decisões melhores e será mais fácil responsabilizá-los.”
A responsabilidade e a liberdade estão ligadas por suas próprias naturezas. Responsável é aquele(a) que teve liberdade para fazer uma escolha e lidar com suas consequências. Não haverá responsabilidade por aquilo que não foi escolhido, neste caso, o que ocorre é apenas dever, e uma série de deveres deixa a empresa encarregada do crescimento do funcionário, ao invés do funcionário encarregado de cuidar do crescimento da empresa. Por isto, a Netflix resolve dar aos seus trabalhadores poder para escolher, e assim nascem as ideias. Então, Não ter regras não se trata de uma liberdade além da razão.
Não ter regras é a compreensão de uma cultura que visa deixá-lo ir até aonde puder, da forma que lhe agrade para que a empresa e seus projetos sejam responsabilizados de maneira mais afetiva.
A sensibilidade para com o funcionamento, tanto divisório quanto geral, faz com que crie-se um laço entre produtores e produtos, e mais uma vez desconstruindo a ideia de dever. Liberdade e Responsabilidade são conceitos a se discutir em qualquer ética, pois a convivência é cooperativa, até mesmo para uma família em casa são elementos valiosos.