Em 2018, a editora Todavia lançou um quadrinho diferente de tudo, o Eles Estão por Ai dos autores brasileiros Bianca Pinheiro e Greg Stella.
Eles Estão por Ai não é um quadrinho para todo mundo, aqui você não vai ver um grande plot ou heróis nos salvando de algo. Na verdade, a obra é uma viagem que o leitor acompanha ao poucos e sem nenhum compromisso. Enquanto você é levado nessa jornada (e tenta entender tudo como uma figura maior), algumas questões bem interessantes são colocadas nos palitinhos pretos. E é isso que gostaria de ressaltar.
A arte é simples, com detalhes certeiros, mostrando apenas o que é para se focar. Essa simplicidade contrasta (e muito) com o que é passado nas entrelinhas, nas quais não foram feitas para serem entendidas numa tacada só, o que pode descontentar alguns leitores sedentos por informações claras.
Em uma das passagens, nós vemos pequenos seres de forma arredondada sem olhos. Um deles fala ao longo de uma multidão como existe um ser que os supera de todas as formas, citando o título da obra:
” ‘Mas eu nunca vi!’ Dizem por aí. Eu ouço os cochichos. Eu mesmo era assim. Claro que não viu! Nem nunca vai ver! Como é que um de nós poderia ver? (…) Ainda assim, nós sabemos.”
” (…)Eles estão por aí, eu lhes digo! Nas dobras do mundo e nelas eles se movem completamente alheios à nossa pequenez. Gigantes… Titânicos! Eles estão por aí! E o mundo é deles!”
Em uma pequena leitura, observando-os entre si como se pertencessem a uma religião. Os cegos que não podem ver, mas podem sentir, o que facilmente vira uma alusão as religiões do nosso mundo e seus deuses. Mas também à nós, seres humanos. Os seres gigantes que estão por ai, que se movem e não ligam para algo menor que eles. E é nesse exemplo que eu trago um pouco do que este quadrinho está para nos mostrar com suas reflexões compostas em cada mini história que nós acompanhamos.
Porém, mesmo citando um exemplo um pouco mais simples, os autores decidiram que a obra seria uma experiência única para cada leitor. Há páginas onde nenhum dialógo é feito, nós apenas observamos duas criaturas sem nome caminharem. Indo para não sei onde, fazer não sei o que.
Neste quadrinho, a Bianca e o Greg nos convidam para uma jornada de dúvidas, pensamentos, descobertas e instantes. A experiência não se dá apenas pelo dialógo, mas pelas ações, os sentimentos expressos nestes pequenos seres e as questões reais que nos assolam durante a nossa vida. Como dito anteriormente, essa obra não é para todos, mas aqueles que decidirem fazer essa viagem interna e externa com essas criaturas vai ser maravilhado pelo trabalho dos autores.