“Em Fogo Lento” foi um livro que carreguei para todos os lugares, desejando ter um tempo livre para ler algumas páginas. Confesso que o ignorei várias vezes enquanto abria a mochila para pegar uma blusa de frio ou procurar alguns trocados.
A princípio, a leitura de Em Fogo Lento foi custosa; os primeiros capítulos arrastaram-se, transformando a leitura em um martírio, mas considerei a leitura deste livro como uma espécie de missão para sair da ociosidade. Surpreendentemente, as reviravoltas me agarraram de forma tão intensa que eu me perguntava se aquele marasmo houvesse mesmo existido.
O livro apresenta um evento decisivo na vida dos personagens que compõem uma rede de suspeitos: Daniel Sutherland, um jovem de 23 anos, foi morto por golpes de faca, e os ferimentos estavam espalhados por seu corpo, sendo o mais fatal, um corte em sua garganta. O corpo foi encontrado por sua vizinha, Miriam Lewis, retratada como uma mulher solitária e invasiva, na casa-barco da vítima, localizada no Regent’s Canal.
Devido à sua disfuncionalidade, Laura Kilbride é cogitada como a principal suspeita do crime pois, foi vista deixando a cena do crime horas antes do corpo de Daniel ser encontrado. Laura possui um histórico problemático na polícia, enfrentando complicações derivadas de uma condição neurológica chamada inibição, causada por um grave acidente que sofreu durante a infância.
Outros personagens relacionados a Daniel são apresentados, suas complexidades pessoais são bem desenvolvidas conduzindo-nos a enxergar que todos os personagens têm motivos para desejar a morte de Daniel. Entre eles estão: Carla Myerson, sua tia; o ex-marido Theo, um renomado escritor de romances criminais; Angela Sutherland, mãe de Daniel, que faleceu dois meses antes do assassinato da vítima; e sua vizinha e amiga Irene, uma senhora curiosa que vai desvendando os acontecimentos que envolvem o passado da família, colaborando para a resolução desse mistério de homicídio.
Apesar de ter tido dificuldade em me habituar à escrita mais lenta inicialmente, a forma como as personagens são delineadas, com suas facetas escancaradas, nos faz perceber o quão próximos à realidade estão. Demonstrando dualidades de caráter que transcendem o conceito de bem e mal e focam, na verdade, em si mesmos. Para os que há muito tempo não lê um thriller, recomendo a leitura para recobrá-los às saudosas sensações causadas pelas narrativas de Agatha Christie.