Nada melhor do que finalizar o dia dos finados com uma obra do mestre do horror Junji Ito, a intitulada Fragmentos do Horror. Esta resenha terá poucos spoilers.
A obra constitui em uma coletânea de oito contos curtos, que mesclam o surrealismo e o grotesco de forma homogênea. O nonsense que conduz as histórias aparentemente normais, eleva a qualidade de cada conto, fazendo com que o leitor sempre esteja desprevenido para cada desenrolar.
Imagina sua filha não conseguir fazer as escolhas mais básicas para sobrevivência ou até então para viver. Não sabe se deve se sentar ou ficar em pé, se sorri ou fica triste, se deve andar e com qual perna deve começar a andar, se deve falar e quais palavras devem ser faladas. Devido a este problema, você decide então contratar uma “babá” que a ajude a criar este hábito de escolhas de forma natural. O problema é que esta babá fornece todas as instruções mais minuciosas possíveis através de estranhos sussurros e começa a controlá-la sem parar. Este é o conto chamado A Mulher que Sussurra.
Se a história acima não lhe pareceu muito aterrorizante, podemos também citar o Monstro de Madeira onde o pai e sua filha, moradores de um patrimônio cultural, decidem permitir visitas à casa. Em uma visita inesperada, uma mulher se apaixona pela casa (uma paixão até excitante) e decide nunca mais sair de lá. Ou em Tomio, onde um jovem é obrigado segurar sua cabeça para sempre, a fim dela não cair de seu pescoço e inevitavelmente morrer.
A arte é a parte principal de cada conto. Indo desde traços limpos e bem trabalhados no design dos personagens humanos, até o grotesco-exagerado com detalhes minuciosos e diversos tons entre o preto e cinza. As sombras são executadas com traços finos e repetitivos, dando um toque particular a profundidade de cada objeto. Sem este conjunto de técnicas, talvez fosse impossível nos passar a imensidão da obra.
Esta obra é um clássico dos títulos de Junji Ito. Um prato cheio para os fãs do escritor e de mangás de horror. Porém, deve-se ressaltar que, por se tratar de contos, talvez não seja uma boa escolha para marinheiros de primeira viagem nas obras do autor.