Fruto de um dos maiores quadrinistas do cenário independente, Ghost World pega a essência dos anos 90 e traz de forma nostálgica àqueles que só tiveram o prazer de conhecê-lo atualmente. Escrito e ilustrado por Daniel Clowes e trazido para o Brasil pela editora Nemo, não tem como esperar menos que uma edição incrível.
Essa não é a única obra do autor presenteada pela editora Nemo aos fãs de quadrinhos brasileiros. Até essa publicação, temos também Paciência, Como uma luva de veludo moldada em ferro e David Boring no catálogo. Com a boa recepção do primeiro título, Ghost World veio em uma edição especial de comemoração aos 20 anos, recheada de extras. O quadrinho foi originalmente escrito entre 93 e 97 em formato de capítulos, somente no seu último ano de publicação que houve a compilação das histórias.
A grafic novel é contada em cima da relação de duas amigas inseparáveis, a Enid e a Becky, que se formaram há pouco tempo no ensino médio e tem como passatempo criticar tudo ao seu redor. Becky é uma menina cheia de inseguranças, mais flexível, mas não menos vil que Enid, quem consegue ser mais sarcástica que qualquer personagem, além de ser cheia de si e mais infame que sua amiga.
As adolescentes vivem sem pensar no amanhã, até que algumas diferenças vão surgindo conforme os interesses vão se expandindo. Enid pensa em mudanças, enquanto Becky só sabe questionar o que fará caso não tenha mais sua única e fiel escudeira para passar seus dias. O futuro torna-se algo escuro e a realidade pesa. Como lidar com as adversidades sozinha? Por outro lado, como manter a amizade em um tempo onde a comunicação era mais limitada?
A arte apresentada em Ghost World é de longe uma das melhores dentre as publicações de Daniel Clowes. A paleta de cores é branco, preto e um verde mais opaco, que caiu muito bem com a narrativa. Essa edição conta com o prefácio novo e também o especial de 10 anos, escrito pelo próprio David. Além da introdução diferenciada, temos os primeiros quadros coloridos e uma mini história contando possíveis futuros para Enid e Becky, terminando com a acidez de Enid respondendo à pergunta.
No final do livro, notas explicam algumas referências, enquanto na parte de extras, uma exposição de originais, bonecas, sketches e histórias para além do universo tomam conta da produção, para a alegria e nostalgia dos fãs.
A tradução também é um dos pontos positivos. Resgatar a essência de décadas atrás em seu modo de falar, suas gírias etc, é de uma responsabilidade gigante, e o Érico Assis consegue interpretar com maestria. Os primeiros quadros, anteriores ao prefácio, contam com uma deficiência no letreiramento, mas não influenciam na qualidade do material.
Ghost World é uma obra fora dos padrões, divertida e estranha. Clowes, apesar de homem, se dispõe a interpretar garotas americanas de classe média, de forma hilária e real. De fato, um clássico.