Holly Black é a autora responsável por publicar mais de 30 livros de fantasia, dentre eles, As Crônicas de Spiderwick e o best-seller, Príncipe Cruel. Em 2022, ela volta com seu lançamento pela Editora Galera, Livro da Noite.
Onde houver luz, a sua sombra estará contigo, porém, as sombras estão usualmente interligadas à escuridão no mundo em que Charlie vive. Em um determinado momento da história, a magia das sombras foi descoberta, estudada e constantemente utilizada como ferramenta de poder e manipulação. Desde rituais macabros a eventos traumáticos da sua vida, os seres humanos despertam, alteram e manipulam suas sombras a seu bel prazer, seja para se proteger, atacar, ou ainda simplesmente utilizá-la como a urna de suas imperfeições e energia caótica.
Charlie não é uma sombrista, mas por muito tempo atuou como uma charlatã, uma vigarista que prestava serviços à pessoas influentes e sombristas que procuravam artefatos especiais ou livros, cujo conteúdo era valioso para o aperfeiçoamento da magia sombria. Tentando mudar de vida, a moça imergiu em uma rotina comum, trabalhando como bartender em um Bar & Lounge chamado Rapture. Contudo, era constantemente convidada a regressar ao seu antigo trabalho, pois consolidou sua fama nos trâmites ilegais daquela sociedade nebulosa.
O estopim ocorreu quando uma pessoa que a arruinou no passado retorna, desconstruindo a vida atual, desmascarando pessoas próximas, desfazendo mentiras construídas ao seu redor e levando-a a uma odisséia, à procura do Livro da Noite, que tratava do estudo a respeito das Pragas – sombras de pessoas falecidas, alimentadas com o sangue, memórias e ressentimentos de seus portadores, que vivem de maneira independente e oferecem um risco iminente à comunidade.
A princípio, a narrativa em primeira pessoa apresenta duas linhas temporais. A primeira traça a inserção da protagonista no mundo dos esquemas de charlatanismo e trabalhos sujos, quando a mesma ainda era criança, além da descrição do que seria o evento que a fez adentrar o mundo dos sombristas complemente, tendo como algoz, um influente homem líder de uma organização de sombristas, a Contrafria. A segunda linha transcorre em sua vida normal, onde vive com o namorado, a irmã e uma gatinha.
A forma e precisão de detalhes nos influencia a projetar os espaços, a narração orgânica e detalhada com que a personagem descreve as ações, pensamentos e angústias, nos aproxima de sua vivência e nos convida a nos colocarmos na história.
A trama nos convida a tecer teorias facilmente descartadas durante as surpresas que o enredo nos proporciona. Os pontos negativos consistem na demora com que os eventos cativantes aparecem, e, infelizmente, ocorrem nas últimas 60 ou 50 páginas do livro. Outra falha trata-se da superficialidade em que a questão da magia das sombras é abordada, quando Holly deveria aprofundar-se um pouco mais na questão do surgimento dessas sombras e seus mecanismos.