Simon Lamouret narra sua segunda história em torno de um canteiro de obra indiano, especificamente na cidade de Bangalore, onde seu primeiro livro também é passado. Entre ficção e realidade O Alcazar, trazido pela editora NEMO, é uma HQ simples e surpreendente.
O conto é passado na atual Índia. Um edifício é o personagem principal e, ao seu redor, algumas personalidades entregam momentos tragicômicos. Em meio à diversidade cultural, temos Ali, um jovem engenheiro que busca experiência na área; Trinna, um capataz esperto; Rafik, Muhboob e Salma, que são os operários que nos acompanham da primeira à última página. Esse elenco permite que os leitores entendam a diferença de classes dentro do país, mas reconhecendo que nem tudo é tão longe da realidade brasileira.

Em dado momento, outros personagens são apresentados. Esses são os azulejeiros conservadores, que provocam uma divergência enorme dentro do estabelecimento, mesmo tendo a mesma nacionalidade. Por último, um jovem rico, cujo pai é proprietário da construção, é o responsável por supervisionar o trabalho de todos ali. Entre a miséria e a fartura, o retrato da índia vai tomando forma.

O Alcazar, além da vivência daquelas pessoas dentro desse microcosmo, nos aponta a realidade cotidiana das pessoas mais simples na Índia. Um exemplo disso, é a moradia dos camponeses que ali trabalham. Essas pessoas, em busca de um futuro tranquilo e sonhando com sua futura plantação, se deslocam para morar nesses canteiros atrás de emprego e sem qualquer estabilidade até a finalização da construção.
A disparidade de salário entre os dois sexos também aparece no dia a dia dos personagens, mas sem que gere qualquer incomodo entre eles. Além de fazer trabalhos comuns ao público masculino, Salma também acumula funções de dona de casa, mesmo grávida.

Os choques culturas não param por aqui. Da religião ao relacionamento, a Índia consegue se diferenciar e nos levar à um lugar fora do imaginário ocidental. Ninguém melhor que Simon para representar, de maneira cômica, esses aspectos, já que vivenciou de perto de 2013 a 2018.