O Árabe do Futuro – Uma Juventude no Oriente Médio é um relato da vida do autor Riad Sattouf. O livro veio para o Brasil em 2015 pela editora Intrínseca no formato de grafic novel, bem descontraída e fluida.
Neste primeiro volume da série, que atualmente conta com quatro exemplares, o autor apresenta os conflitos do Oriente Médio na década de 70 e início de 80, enquanto explica a trajetória de sua família entre a França, Líbia e Síria. Seu pai e sua mãe se conheceram em Sorbonne, uma das melhores universidades do mundo, localizada em Paris. Mas foi no ano de 1978 que nasceu Riad, autor da obra, parte árabe e parte bretão.
A história se concentra no pai de Riad, um homem idealista que acreditava no dia em que todos os árabes frequentariam a escola obrigatoriamente e, por isso, tornariam seus países uma grande potência mundial. Vindo de um vilarejo muito humilde, ele é o único letrado da família, pois viaja para a Europa e conclui seu doutorado. Orgulhoso, deixa claro desde o início que a educação é a única que pode salvar e libertar o seu povo.
Apesar de se reconhecer como alguém moderno, não é bem isso que acompanhamos durante a saga. O pai de Riad deixa suas raízes falarem mais alto e entra em contradição diversas vezes, mostradas das formas mais engraçadas através do olhar inocente do pequeno Riad, que tinha apenas 3 anos. Sua força de vontade na busca pela libertação era tão grande, que vai para Líbia em pleno regime de Kadafi para ser professor universitário, levando sua esposa e seu filho para toda aquela loucura.
O choque de cultura é um dos assuntos mais importantes da trama. É interessante ler o quadrinho com lentes livres do preconceito, sabendo que a história diverge muito dos hábitos ocidentais. Costumes peculiares são tidos como usual, mesmo que pesados.
A guerra no Oriente Médio, por exemplo, trouxe a intriga entre árabes e judeus, e o segundo grupo é frequentemente citado e amaldiçoado durante a narrativa. Em meio ao pesadelo vivido dia após dia pela população, chega a ser difícil se ater aos olhares críticos em situações desumanas que são tratadas com toda naturalidade pelos personagens árabes. Segure a emoção e continue a leitura.
A ideia de organizar a localização através das cores foi incrível! Enquanto a família está na França, todo cenário é tingido de azul, a paisagem da Líbia ganha tons de amarelo, enquanto o dia a dia da Síria aparece como vermelho. Os personagens levam um traço simples ,mas isso não é incômodo algum, pois a história é extremamente cativante, ágil e coberta por um humor super ácido.
Para quem é leigo, o foco não está na contextualização da parte histórica, e desenvolver toda a complexidade do mundo árabe no século XX não foi a motivação do quadrinho. A HQ se ateve à relatar a reviravolta da vida de um menino de 3 anos, que não sabia bem o que estava acontecendo, a perspectiva de uma criança sobre tudo o que acontecia. Além disso, a obra proporciona momentos hilários e também traz reflexão em diversos quadros.