O autor de A Menina que Roubava Livros (2005) está de volta depois de um jejum de 14 anos. Após o sucesso do primeiro livro – adaptado para o cinema em 2014 com o mesmo nome – os fãs de Markus Zusak estavam se perguntando quando seria seu próximo lançamento. A resposta veio com O Construtor de Pontes em fevereiro deste ano (2019) lançado também pela editora Intrínseca.
O novo romance de Zusak conta a história dos garotos Dumbar, cinco irmãos que foram abandonados pelo pai em virtude da morte da mãe e cresceram sem a autoridade e afetividade familiar. O irmão mais velho, Matthew, nosso narrador, assume então a responsabilidade pelos mais novos e os cria dentro de suas limitações e entendimento de mundo. Os meninos ainda precisam conviver com a sombra do abandono e da morte da mãe que os acompanha durante todo o crescimento.
A sina dos irmãos é evidenciada pela presença dos cinco animais de estimação: a mula Aquiles, a cachorra Aurora, o gato, a pomba e o peixe. Eles preenchem o buraco no seio familiar deixado pelos pais.
Matthew “ressuscita” a velha Tec-Tec – uma máquina de escrever – para registrar a história de seu irmão Clay, pois de acordo com as próprias palavras, “tudo aconteceu com ele”. E é verdade. Logo no início nos deparamos com a existência do Assassino e que este homem cometeu o maior crime de todos: assassinou sua família.
Parece um tanto chocante falando assim, mas isso faz parte da linguagem poética com a qual Zusak tece sua história. O Assassino é o pai dos meninos, o Michael Dumbar. Ele é chamado assim por tê-los abandonado e assim colocando um ponto final na história de uma família muito unida. Michael matou os filhos por deixá-los, eles agora são apenas garotos jogados à própria sorte. Os garotos Dumbar.
Apesar de ser esperado dele uma postura paterna ante a perda de Penélope, a mãe Dumbar, o Assassino fica destruído e não consegue viver no mesmo teto em que foi tão feliz com ela e com os filhos que ela lhe deu. Sua dor lhe impele a deixar aquelas memórias para trás.
Todavia, Michael retorna um dia para construir uma ponte, na esperança que seus filhos o ajudassem, mas todos eles o ignoram. Ciente que ele os tinha abandonado, o Assassino não poderia esperar recepção diferente. Entretanto Clay se mostra favorável à ideia do pai e trai seus irmãos.
Durante o livro, o leitor percebe que a ponte não é apenas uma manifestação física, mas também uma metáfora sobre as alianças. Quando Michael retorna propondo a construção de uma ponte, ele está revelando seu desejo de reestabelecer uma ligação com seus filhos novamente. Os meninos se recusam. Clay constrói a ponte com o pai porque ele não poderia produzi-la sozinho. É claro, uma relação não se faz apenas com uma pessoa. A história explica porque Clay é o filho com mais afinidade e depois revela um evento que o faz compreender o motivo de seu pai tê-los assassinado.
É por isso que a história é sobre Clay, porque ele foi o único a reestabelecer contato com o pai, tornando-se então a ponte entre os garotos Dumbar e o progenitor. Isso fica evidente durante toda a narrativa, pois o autor faz questão de repetir na voz de seus personagens que a ponte também será feita de Clay, não apenas de pedras e argamassa.
“Tento imaginar do que essa ponte será feita, mas no fim das contas não faz diferença. Tenho certeza de uma coisa: essa ponte será feita de você”
O Construtor de Pontes, apesar do tom dramático, promove uma discussão muito bonita sobre o verdadeiro valor da vida: ser rodeado por pessoas que te amam. Para Zusak devemos aproveitar nossa família ao máximo, pois um dia eles se vão e, caso não tenhamos construído pontes, não teremos por onde passar para seguir em frente.
As pontes que construímos durante a vida nunca desaparecem.