Após o lançamento de Ousadas 1 e Uma Morte Horrível, de Pénélope Bagieu, a editora NEMO traz Ousadas 2, em homenagem ao Dia das Mulheres. Não existe presente melhor que esse no meio literário.
O livro é recheado com pequenas histórias biográficas que mostram mulheres revolucionárias em diversas épocas. Assim como o primeiro volume, o segundo também possui 15 grandes personalidades que criaram, se destacaram e marcaram a sociedade por meio da arte, política, ciência ou ações sociais.
Todas as personagens têm em comum as dificuldades que passaram até sua ascensão, sendo definidas pelo sexo. Ambas foram atrás do que acreditaram, mesmo diante das opressões sociais ou, em casos piores, violência de todo tipo. Algumas das trajetórias causam grande incômodo por relatarem extremo abuso e pega o leitor desprevenido.
Dentre as mulheres ousadas dessa edição, se destacam Temple Grandin, a autista que revolucionou as práticas para um tratamento mais racional de animais em fazendas e abatedouros; Sonita Alizadeh, uma rapper e ativista afeganistã que luta contra a submissão da mulher que não tem direito às escolhas do próprio corpo; e Phoolan Devi… que merece ser lembrada de maneira muito especial.
Dona de uma das história mais chocantes, Phoolan é uma indiana que nasceu na casta shudra, a mais baixa dentro do hinduísmo. A menina casou-se com apenas 10 anos, quando não sabia nem quem era si mesma, e foi levada para a casa de seu novo marido. Após ser violentada diversasvezes, a pequena adoeceu e o marido a devolveu para seus pais. Desse modo, Phoolan trouxe desonra à sua família. Não admitia-se que se falassem sobre ela. Mais tarde ela acaba arrumando confusão e é expulsa da vila.
Sem rumo, a pequena e corajosa Phoolan viajou de vila em vila, passou por violência atrás de violência… Mas a menina mais uma vez não deu o braço a torcer e espalhou a notícia dos abusos que sofreu, o que não poderia ter sido pior para os acusados. Os homens mandam uma gangue famosa da época matar a garota e ela acabou sendo capturada. Mas diferente do que se imaginava, Phoolan acaba encontrando nesta gangue seu novo lar e até seu par romântico. Ela conta sua história a seus novos companheiros e eles lhe prometem vingança a todos que a maltrataram. E a promessa foi cumprida.
Tempos depois, seu grupo é caçado e a única a sobreviver é Phoolan. Foi poupada para que passasse por tudo novamente. Tomada pela raiva, a moça monta uma nova gangue com o objetivo de dar fim aos estupradores nos vilarejos, sendo reconhecida com nobreza entre as mulheres mais pobres.
Em Ousadas 2, alguns ícones como a atleta Cheryl Bridges, a cantora Betty Davis, muito à frente de sua época, e Nellie Bly, primeira jornalista investigativa, também tem suas histórias contadas. Mesmo com a narrativa pesada, o texto segue com tiradas bem-humoradas e ilustrações maravilhosas que se encaixam muito bem com o tom dos diálogos.
Pénélope Bagieu trouxe uma grafic novel que independe de gênero para ser lida, mas indicada para jovens a partir de 14 anos, pois esses entendem melhor os acontecimentos relatados. Muito bem escrita, a série Ousadas já vendeu mais de 200,000 exemplares só na França.
Desde sempre os homens falam pelas mulheres, mas hoje elas conseguiram mostrar que todas têm voz própria e lutam dia pós dia para serem ouvidas. Essas mulheres nunca se calaram, mesmo frente a tudo que passaram, e por isso a importância da HQ. Ousadas 2 funciona como inspiração para jovens e senhoras quebrarem padrões impostos por homens, revelando a força feminina em seu auge.