Perdão, Leonard Peacock é um livro escrito por Matthew Quick , o mesmo autor de O Lado bom da vida, publicado em 2013 pela Intrínseca, com tradução de Alexandre Raposo.
A obra já quase ganhou uma adaptação para o cinema, com a direção de Channing Tatum e Reid Carolin. Mas houve desistência de ambos após as dezenas de denúncias de assédio sobre o produtor Harvey Weinstein , dono da produtora onde a obra seria adaptada.
A história acontece no aniversário de 18 anos de Leonard Peacoak, dia que ele decide matar um colega de escola e se matar com uma P-38, herdada do avô que combateu os nazistas. Neste mesmo dia, ele entregará presentes para algumas pessoas e reviverá memórias dos bons e maus momentos que tiveram, chegando na justificativa de seu homicídio e suicídio.
SOBRE A VIDA ADULTA, FÉ E CADA UM POR SI.
O dia do aniversário de Leonard foi marcado, pelo mesmo, para se tornar também o dia de sua morte, como se ao chegar naquele momento que o levaria para um novo ciclo de sua vida, o menino tivesse que interrompê-lo, impedindo-o de crescer.
O leitor é testado a duvidar, não de forma psicológica, mas crítica, do que levou Leonard a teimar contra sua existência no mundo. Pode-se pensar que é apenas mais um jovem com síndrome de Peter Pan, pois ele se mostra mimado, chato e egocêntrico. A leitura pesa, em muitas páginas pela personalidade do protagonista, que precisa reafirmar suas vontades a todo instante. Ele não está narrando para nos explicar, apenas manifestando a intensidade dos seus sentimentos encarando a formação da vida adulta.
“ – Escuta, você obviamente tem problemas, Leonard. Sinto muito por isso. Realmente sinto. Mas existem pessoas com problemas piores que os seus, isso eu posso garantir. Saia da cidade de vez em quando e verá que estou certo. Problemas de Primeiro Mundo. É isso que você tem.”
Leonard julga o mundo adulto como infeliz e para ele os sacrifícios que passa na juventude não valerão ao crescer. Quando isso ocorre somos convencidos a querer entrar no interior de mais um jovem suicida. O dizer de querer se matar não é o suficiente para nos saciar até o final, tal como de querer matar. Mas o desenvolvimento que se cria explorando razões para viver, não só nos pensamentos e diálogos mas nas ações da história, é o que nos faz não fechar o livro.
O autor consegue nos apresentar, com firmeza, um jovem instável e nos prender até o fim da história não mais pela curiosidade em saber o que levou Leonard às suas decisões, e sim se ele encontrará um motivo que o convença a querer ser adulto. O que o faria valer aguentar as dores da juventude?
“Havia centenas de adultos bebendo, jogando e fumando naquela noite, mas aposto que nenhum deles teve a mesma onda que Asher e eu. Talvez por isso que os adultos bebem, jogam e se drogam: porque não conseguem mais ter isso naturalmente. Talvez a gente perca essa capacidade à medida que envelhece. Asher com certeza perdeu.”
Esta busca que fazemos nas memórias de Leonard, para aqueles que presenteia, é nossa maneira de tentar achar um motivo convincente para ele continuar. Só que Matthew Quick sabe construir um ritmo, e em cada página sentimos o dia do aniversário passar e o tempo acabar, nos levando ao ato mais esperado. E se nem Leonard ou o leitor acharem um motivo suficiente para lhe convencer de viver até este ato, criará uma tensão perigosa, melancólica e lamentável quando o momento chegar.
“Por dentro eu começo a me sentir muito mal, pensando em como Lauren vai ficar desapontada quando assistir ao noticiário esta noite – quão terrível será para ela -, e me pergunto se a sua fé conseguirá vencer isso.”
A religião vem a assunto tal como vem a vida quando se discute o suicídio. O autor nos joga as cartas mais procuradas para ajudarmos Leonard, ele nos dá um arsenal de meios, através das memórias do protagonista. Portanto, ao mesmo tempo que conseguimos pensar em formas de ajudar Leonard, a obra tenta respondê-lo de acordo.
O livro não discute de maneira declarada a questão de adolescentes armados nos EUA, embora toda a composição da história só seja possível graças a este contexto. O suicídio não é vindo a jogo como uma doença que Leonard desenvolveu, ele vem como resposta a buscar de um motivo que faça valer a pena crescer infeliz. E a vontade de matar Asher relaciona questões que inúmeros jovens passam, e que quando revelada, não vem para seduzir o leitor a favorecer o homicídio-suicídio, mas para nos deixar sem palavras, recorrendo, quem sabe, à fé como meio de salvar Leonard.
Após inúmeras formas que procuramos, chegamos ao fim da noite. Grandes tragédias se passam num único dia. Neste momento conclusivo, a introdução faz jus. Sabemos que nosso personagem ouve mais a si mesmo do que a qualquer outro.
“Essas pessoas que chamamos de mamãe e papai nos trazem para o mundo e, em seguida, não nos acompanham em nossas necessidades ou não nos dão qualquer resposta. No fim das contas, é cada um por si, e eu simplesmente não fui feito para levar esse tipo de vida.”
No fim, ficamos reféns de que Leonard tome uma decisão. Depois de tantos esforços da nossa participação na história entendemos não ter autoridade, percebemos que o garoto pode estar realmente sozinho e voltamos a ser meros leitores, esperando que um protagonista fictício deseje viver.