Phobiafilia foi lançado em julho de 2019 pela Diário Macabro e roteirizado e desenhado por Preto Pasin. O autor é escritor, roteirista e desenhista de Hqs de horror, terror e suspense, optando por linguagens ousadas para retratar o horror e para causar desconforto em quem lê suas histórias.
A HQ tem como arco a história de um homem que após uma noite de bebedeira acaba tomando para si uma jornada através de suas fobias e sua própria loucura.
Preto Pazin optou por uma linguagem diferente aqui, não utilizando falas em nenhuma página (exceto os títulos), onde cada quadro é desenhado à mão em um estilo gótico e utilizando elementos de narrativa totalmente visuais. Seu estilo de pincelada, as cores e o design de personagens fazem referência aos desenhos empregados nas Hqs de Neil Gaiman, trazendo profundidade aos quadros e reflexão sobre o real significado por trás da alegoria.
Como se trata de uma narrativa inteiramente visual, a falta de diálogo se torna proposital para causar desconforto em quem lê, pois, a cada página um novo medo se apresenta a nós e ao personagem, trazendo consigo uma carga de melancolia e angústia que precede a morte, o silencio que nos paralisa com o medo iminente.
Cada fobia fora trabalhada de forma crescente, aumentando o grau de medo e profundidade à cada página, de forma a seguir um caminho que beira à loucura do personagem. A HQ brinca com a ideia de que alimentamos nossos medos diariamente, de forma crescente e irracional, fazendo com que um dia até mesmo o menor dos gatilhos pode desencadear um medo inerente ao subconsciente de cada um. O exemplo disso está na primeira página, que é apresentada a Cenosillicaphobia, ou o medo de ver um copo de cerveja vazio.
A trajetória do personagem misturada com o silencio de seus passos e pensamentos tornam a narrativa sensorial e profunda, fazendo-nos perguntar o que se esconde em nosso próprio subconsciente; que tipo de medo adormece em nosso amago? Qual gatilho seria necessário para trazer este medo para a superfície de nosso ser? A HQ flerta com a ideia de que “basta um dia ruim para tornar o mais são dos homens em um lunático”, parafraseando o Coringa, personagem icônico da cultura pop. Mas e se nenhum de nós for realmente são? E se todos temos os mais irracionais medos alimentados por nossas rotinas desesperadas? Além de nossas compulsões mundanas esperando para serem acordados para nos levar á loucura? Uma loucura silenciosa e cheia da angústia dos demônios criados por nós mesmos em nossa alma? Essas são apenas algumas das perguntas que passarão pela mente do leitor durante as viradas de página.
A proposta fora bem desenvolvida e cumpre desde o inicio o que se compromete a ser: uma experiencia diferente das que estamos acostumados, utilizando um horror sensitivo e silencioso, que nos faz refletir sobre nossa própria sanidade. Uma experiencia visual angustiante e cheia de arte, com reflexões sobre o que realmente é o medo e como o alimentamos dia após dia diante de ideias que achamos rotineiras.