A HQ de Bastien VIVÈS, trazida ao Brasil pela editora NEMO, vai além de uma história de superação. Dos desenhos ao roteiro, conseguimos enxergar sentimento, criamos afeto e pedimos por mais um pouco de Sebastien.
Polina Ulinov é uma menina que, desde muito nova, tem um grande sonho de se tornar bailarina. Surge a oportunidade de entrar em uma das melhores escolas da Rússia e, com êxito, consegue a vaga, aos 6 anos de idade. A pequena tem a chance de ter como mestre Nikita Bojinski, muito conhecido por seus métodos rígidos e exigentes de ensino, temido e admirado pelos alunos.
” Se querem algum dia se tornar dançarinas, precisam ser flexíveis. Se não são flexíveis aos 6 anos, serão ainda menos aos 16. A flexibilidade e a graça não se aprendem. São dons.”
O laço entre Polina e seu professor dura anos, apesar de passarem por momentos turbulentos, que vagam entre discussões e certa submissão. A antiga garotinha, agora uma mulher, se vê na vontade de conhecer novos ares, e se permite afastar-se do docente e viver outras experiências dentro da dança. Suas novas vivências dão um grande salto em sua carreira, tornando-a uma renomada coreógrafa internacional. Mesmo com todo o sucesso, Polina sente que parte de sua conquista deve ser dividida com o seu antigo mestre, seria uma espécie de dívida.
Não é de hoje que Bastien VIVÈS nos presenteia com histórias brilhantes e retratadas com muito sentimento. O autor é recorrente na própria editora NEMO, que publicou Uma Irmã, quadrinho de 2018 que também recorre à assuntos muito delicados. Além dos dois livros já citados, pode-se encontrar traduzido O gosto do Cloro, Olympia e A Grande Odalisca, sendo os dois últimos apenas ilustrados pelo artista.
Polina recebeu o Prix des libraires de bande dessinée (canal BD) em 2011 e também é detentora do Grand Prix de la critique da ACBD, prêmio esse que reconhece o quadrinho como melhor do ano, de acordo com a bancada crítica francesa.
A narrativa conta com várias mensagens marcantes, mas a maior delas é sobre a gratidão. Apesar da relação complexa entre Polina e Bojinski, quando a menina começa a caminhar com suas próprias pernas, se vê pensativa sobre situações que, anteriormente, se recusava a aceitar quando apontadas pelo seu ex-professor. Um quebra-cabeças de experiências é montado até que a personagem se dê conta de tudo o que seu antigo mentor lhe ofereceu de bagagem. Isso vira uma dívida, que deve ser quitada pessoalmente. O reencontro é de deixar nossos corações levinhos.
A caminhada da aluna até chegar à coreógrafa de sucesso é retratada de maneira muito fluida e impecável. A passagem do tempo, a mudança de personalidade e o crescimento profissional da pequena bailarina é acolhedor. O leitor acaba criando um vínculo com a jornada de altos e baixos, mas sem desistência, da jovem dançarina.
Os traços orgânicos da obra são os responsáveis por ajudar na fluidez do texto, ganhando destaque por entregar mais sentimento. Eles podem assustar na primeira foleada de páginas, mas conforme a leitura, é ele quem vai tocar o coração do leitor, com expressões corporais e faciais definidas em quadros importantes. Não é à toa que VIVÈS carrega o título de um dos principais nomes do quadrinho contemporâneo.
Polina é o tipo de história para se ler com calma, para degustar os detalhes. É de uma leitura muito fácil, muito dinâmica, que não cansa e que pode ser lida algumas vezes seguidas.