Sunny, o mangá seinen escrito e ilustrado por Taiyō Matsumoto, chega ao fim com seu terceiro e último volume pela editora Devir.
Como acompanhamos ao longo dos volumes, a obra se trata de uma reflexão acompanhada. As vidas nada fáceis de crianças orfãs, com seus medos e receios disfarçados de piadas e desobediência, mas adentramos a fundo várias das problemáticas que o orfanato recebe.
Neste encerramento, outros temas voltaram à tona, assim como novos pontos foram apresentados. Enquanto Haruo continua desobediente e “incontrolável”, querendo só voltar aos braços da sua mãe, também temos um novo contraponto introduzido aqui: O ato de querer salvar aqueles que aprendemos a amar.
Mesmo muitos não gostando do Haruo, o Adachi se ver no dever de ensiná-lo e educá-lo. Fazer com que o Haruo saia dessa zona em que ele se encontra e o libertar, de certa forma. E é aqui que mais uma vez o Matsumoto nos mostra o outro lado da moeda: Nem sempre nós somos a salvação das pessoas, mesmo que nós os amemos.
No curto trecho abaixo é quando podemos notar isso. Haruo não escolheu ser abandonado, não escolheu estar no orfanato, não escolheu sofrer… Mas ele pode sim escolher seu futuro, mesmo que seja no Lar Yokkaichi e não com quem o ama.
- O Haruo é a nossa criança. Acho que é minha missão endireitá-lo.
- É isso que o Haruo quer, Adachi?
Também nos é apresentado um momento entre Kenji e seu pai, o que parecia fechar o arco entre os dois e até uni-los mais uma vez. Porém, como essa obra não é sobre reviravoltas ou até mesmo sobre um final feliz, Kenji encara mais uma vez a verdade, que seu pai continua sendo um alcoólatra e que infelizmente nunca poderá contar com ele.
Outro ponto bem importante é o fechamento da história do Sei. O menino introspectivo que não aceitava estar ali, que tinha que voltar o mais rápido possível para casa e para isso, ele decide finalmente colocar em prática o seu plano para procurar a sua mãe, mesmo que no volume passado nós tenhamos descoberto que sua mãe sumiu após deixá-lo lá. Esse momento é bem frenético e até sufocante, uma criança solta no perigoso mundo, enfrentando tudo com um plano “infálivel”.
Neste último arco é quando um salto de tempo é tomado, o que pode ser uma quebra de tom para quem estava fugindo junto ao Sei. Não podemos ver as consequências diretas do seu ato e nem as de Haruo, pecando um pouco na conclusão. Mas nada que estrague a experiência como um todo.
Enquanto as crianças crescem e seguem seus rumos, o velho carro Sunny fica cheio de memórias e o leitor consegue coletar alguns desses diversos momentos nessa leitura. A obra nunca foi sobre o Sunny e, ao mesmo tempo, foi. Já que o Sunny não é apenas um carro e sim um lar temporário de todas as crianças que foram abandonadas naquele orfanato.