Episódio 11: 3ª sessão de Bianca Cadore.
O décimo primeiro episódio da terceira temporada de Sessão de Terapia é a terceira sessão de Bianca. Após ela assumir, na última sessão, que machucou o braço entrando numa briga do marido com o filho, evitando que ele apanhasse, Bianca chega à sessão feliz, quase radiante. E Theo, como bom analista, logo aponta essa mudança repentina. É comum que os pacientes queriam nos enganar as vezes, o que chega a ser curioso. Pagar para ‘mentir’. A mentira é uma defesa, uma resistência.
Aqui, Selton Mello tem uma direção primorosa. Takes, enquadres e movimentos de câmera numa linguagem bastante cinematográfica, auxiliando que o espectador entre no mundo interior dos personagens – vide a cena de Bianca no banheiro: Ainda que perigue em cair no puro exercício estético, uma vez que para a narrativa do episódio pouco e acrescentado o fato da paciente ir ao banheiro, a forma como a cena foi filmada e a analogia do desfoque da personagem (desfocada e perdida dentro de suas próprias emoções e escolhas, como ela mesma veicula não se enxergar sem aquela relação que ela vive).
Os enquadres da câmera que filmam Zécarlos Machado de costas, Grande na tela, enquanto Leticia Sabatella está encolhida no canto mostram a dimensão da personagem, acuada e envergonhada. Notável também é o cenário. Neste episódio pude perceber os livros de Theo jogados pelo consultório, e logo do lado de sua poltrona, temos uma mesa com vários livros embaixo dela. Como aprendemos que em linguagem audiovisual, nada que é mostrado em cena é a toa, ali temos uma ilustração do saber de Theo, o saber técnico (aquele mesmo que é discutido nas excelentes supervisões de sexta) colocado escondido, não tão à vista. Lembrando que Sessão de terapia é uma série mais sobre Theo do que sobre seus pacientes, aqui, ao final da sessão ele retoma sua postura um tanto paternalista, ao dizer à Bianca um texto digno de sair de uma campanha contra a violência doméstica. Enquanto analista, caberia melhor ele trabalhar junto à paciente que ganho, que gozo, há na manutenção daquele casamento. Que amor é esse, insistente, mesmo em meio à agressões e violências? (nessa hora, lembrei-me do maravilhoso filme brasileiro “Amor?” que trata dessa mesma questão).
Vale ressaltar que a iluminação ‘do sol’ pelas janelas que invade a fotografia dessaturada característica da série desde sua primeira temporada, está em cena iluminando a falsa alegria de Bianca. Sai de cena quando ela mergulha nas entranhas de sua angústia, retornando para iluminar o momento no qual ela assume apanhar do marido. Grande exercício estético que funciona de brilhante instrumento narrativo.
Em termo estéticos, o melhor episódio até agora. Além de uma das melhore atuações – Leticia Sabatella, quase o tempo inteiro em close, entrega com perfeição a melancolia de uma mulher machucada, por dentro e por fora, humilhada dentro de si mesma, escrava de um sentimento sádico-masoquista que ela insiste em chamar de amor.