“Sempre dois existem. Nem menos, nem mais. Um Mestre, e um Aprendiz”. Quem ouve as palavras de mestre Yoda durante o funeral de Quin-Gon Jinn ao assistir A Ameaça Fantasma não imagina que por trás delas existe uma história que teve grande impacto entre os dois lados da Força. Tais palavras eram tidas como uma filosofia de vida para um lorde Sith que vivera mil anos antes daquele fatídico funeral: Darth Bane.
A Trilogia Bane teve seu primeiro volume (Caminho de Destruição) publicado em 2017, o segundo (Regra de Dois) em 2018 e terminou em 2019 com A Dinastia do Mal. Os três livros foram escritos por Drew Karpyshyn e impressos no Brasil pela editora Universo dos Livros.
Dath Bane é um dos lordes mais importantes na história dos Sith. Nascido no planeta Aparatos com o nome Dessel, o Sith foi um dos poucos sobreviventes da guerra Jedi-Sith. A guerra durou cerca de mil anos e colocou os Jedi e os Sith em uma intensa batalha, que marcou o crescimento dos Sith na galáxia, o início da queda da República e o crescimento de militantes pela Ordem Jedi.
Sua entrada para o lado sombrio foi influenciada por sua vida sofrida, repleta de agressões físicas, mentais e verbais de um pai que o odiava por achar que ele era responsável pela morte de sua mãe. O desprezo era tanto que o pai o chamava de Bane (desgraça). Seus sentimentos de revolta e de ódio por sua vida e por seu pai foram suficientes para transformar Dessel no aspirante a Sith mais promissor da academia. Foi isso o que seus mestres desejaram assim que o admitiram na Irmandade da Escuridão. A partir dalí, Dessel fez da desgraça seu nome e passou a ser chamado de Bane.
Com uma arrogância do tamanho da estratosfera, Bane estava certo de que era o escolhido para comandar os Siths, fazendo com que seus mestres passassem a vê-lo como uma ameaça, já que ele não respeitava o princípio da Irmandade.
“Todos são iguais na irmandade da Escuridão”
Lorde Kaan, líder da organização
Para bane, a irmandade era uma mentira que levou Kaan a comandar falsos Sith, usando uma filosofia que os levou para o fracasso. Para Darth Bane, os princípios da irmandade eram tolos e faziam com que os Sith ficassem vulneráveis.
Enquanto Kaan levava os Sith para uma guerra de territórios sem sentindo, Bane se dedicou a aprimorar suas habilidades na Força e estudar por meios próprios através de escrituras e holocrons de antigos mestres Sith. E foi nesses estudos que Bane conheceu a, até então extinta, Regra de Dois. O código dizia que somente pode haver um mestre para deter todo o poder e um aprendiz para cobiçar e ser ensinado até que seja forte o suficiente para desafiá-lo, tomar o título de mestre e continuar a linhagem através do seu próprio pupilo.
“Pode haver apenas dois, não mais, não menos. Um para encarnar o poder, outro para cobiçá-lo.”
Decidido a trazer os princípios do antigos Sith de volta, Darth Bane retorna a Russan, onde manipulou Kaan a explodir uma bomba mental que levou à extinção dos Sith e à destruição de milhares de Jedis, dando fim à guerra. A partir daí, Darth Bane, único Sith sobrevivente, começa sua odisseia para trazer de volta as raízes dos antigos mestres.
“A força é veneno. Se ela é dosada em várias taças, perde sua potência até que se torne tão diluída que causa apenas irritação. Entretanto, coloque essas taças em um único vasilhame e você terá o poder de parar o coração de um dragão krayt.”
O Livro dos Sith
Sua jornada como mestre começa quando conhece Zannah, uma youngling (padawan criança) de dez anos sobrevivente da guerra. Bane encontra nela todo o potencial necessário para o lado negro e faz da menina sua nova aprendiz. Assim começa o legado que o consolidou como uma lenda.
Em Dinastia do Mal, vinte anos se passaram desde que Darth Bane, atual Lorde Sombrio dos Sith, mandou pelos ares a antiga ordem sombria e a reinventou com a lendária Regra de Dois – um mestre para exercer o poder e transmitir a sabedoria, e um aprendiz para estudar, desafiar e destituir o lorde sombrio em um duelo até a morte. Mas Zannah, agora com trinta anos, ainda reluta em desafiar seu mestre. Isso faz Darth Bane questionar seu potencial para seguir o legado.
Determinado a não deixar que a falha de Zannah destrua tudo o que ele construiu, Darth Bane parte em uma viagem exploratória disposto a encontrar os segredos de um antigo Lorde Sombrio que vai imortalizar seu legado Sith – e a si mesmo.
Depois de se livrar da sua armadura de parasitas Orbalisks no fim do livro Regra de Dois, Darth Bane se torna incomodado com sua mortalidade, pois precisa continuar forte para enfrentar sua aprendiz, ou continuar vivo para treinar um novo caso Zannah venha a falhar. Preocupado com o rumo de seu legado, o Sith começa a lidar com espasmos causados pelo desgaste da idade e isso se torna um lembrete constante de que ele é um ser humano, apesar de seu extremo poder.
O fato de Darth Bane estar enfraquecendo deixa a leitura ainda mais emocionante. A narrativa de sua pendência com Zannah misturada a novas tramas faz o leitor ficar aflito para saber como tudo se conecta e como será o desfecho do poderoso Darth Bane.
É nesse romance que Darth Zannah mostra a que veio. Desempenhando um papel com maior destaque, ela se torna uma personagem mais solidificada. Implacável, feroz e dona de si, sua personalidade e inteligência nos faz torcer por ela, mesmo sabendo que no fim os Sith serão a ruína dos Jedis e da República.
Zannah foi uma das personagens mais bem construídas dentro do Universo expandido Star Wars. A escolha do autor em colocá-la como aprendiz de Darth Bane é simplesmente genial pois mostra ao leitor dois lados de um mesmo destino. Enquanto Bane entrou no Lado sombrio por um evento acidental, Zannah escolheu esse caminho.
Observar, como expectador, a diferença dos dois enquanto trilham o caminho das trevas é emocionante. Darth Zannah é um dos Sith mais poderosos que o leitor vai conhecer. Além de dominar as técnicas ensinadas por seu Mestre, a aprendiz se aperfeiçoou em feitiçaria Sith, habilidade que a tornou quase implacável.
Ao chegar no grande confronto final somos presenteados com cenas de uma batalha épica. Apesar de ter explorado bem a luta com sabre de luz – marca registrada de Star Wars – Drew Karpyshyn decidiu focar mais nos poderes individuais dos personagens através da Força, o que faz com que o leitor fique ainda mais sem fôlego.
Bane usa seu fenomenal domínio da Força para derrubar sua oponente, levando-a a uma postura defensiva. Mas Zannah usa e abusa das habilidades de mexer com a mente de seu oponente (adquiridas nos estudos de Feitiçaria Sith), colocando-a como uma adversária tão boa quanto seu mestre. Diante de habilidades tão poderosas, o autor nos deixa no escuro até o último momento, levantando nossa curiosidade para saber quem sairá vencedor e levará o legado Sith adiante.
Além da trama de Bane e Zannah, em Dinastia do Mal somos apresentados a personagens que passaram despercebidos nas duas obras anteriores. Dentre os personagens que ganham mais profundidade no terceiro volume temos Serra, filha do curandeiro, e Caleb, que foi vítima de Darth Bane no segundo livro.
Em uma revolta contra a realeza, mineiros do planeta Doan tiraram a vida do príncipe – marido de Serra. A dor do seu luto é tão comovente que faz com que sua guarda-costas (e melhor amiga) Lucia contrate uma assassina de aluguel para acabar com os responsáveis pelo sofrimento de sua senhora. Antes de ser guarda-costas real, Lucia foi uma integrante do exército Sith, subordinada de Darth Bane, por quem ela tinha grande admiração.
Em Dinastia do Mal, o autor também nos faz conhecer um pouco mais sobre a classe dos Jedis Sombrios, aqueles que abandonam a ordem jedi e começaram a adotar as práticas do Lado Sombrio. Para representar essa classe, o autor nos trouxe o personagem Seth Harth: um colecionador de relíquias Sith cujo o caminho acaba se cruzando com o dos nossos protagonistas, fazendo com que seu lado negro aflore ainda mais.
Trazer à tona personagens que, em outras obras, foram irrelevantes foi uma maneira inteligente do autor de ensinar aos leitores que cada personagem que passa pela história tem seu devido valor.
Os leitores que aguardavam pelo livro desde 2017 não vão ficar desapontados. Drew Karpyshyn entregou uma verdadeira obra de arte que fez valer cada dia de espera. A aventura consolida perfeitamente os Sith aos seus antecessores e vem com um desfecho incomum e emocionante.
“A paz é uma mentira, só há paixão
Através da Paixão eu ganho força
Através da força eu ganho poder
Através do poder eu ganho Vitória
Através da vitória minhas correntes
são quebradas.
A força me libertará”
Código Sith
A saga de Darth Bane é um excelente exemplo da natureza colaborativa, interativa e cumulativa de contar histórias no universo expandido. Com uma história recheada de tramas perfeitamente elaboradas, Dinastia do Mal veio para consagrar as obras como um dos melhores conjuntos já criados dentro do maravilhoso universo de Star Wars.