O título do livro, Vacas, é nada convencional e o subtítulo, Nem toda Mulher Quer ser Princesa, só confirma isso. Desde que li a sinopse, desconfiei que o tema abordado seria sobre a sociedade, machismo e como as mulheres devem se comportar perante a sociedade e o que esperam delas. Nós, constantemente, vivemos todos os dias esse tabu, enfrentando e quebrando barreiras. É difícil expor nossas vontades sem que alguém torça o nariz, sempre vai ter uma pessoa capaz de discordar de você e até mesmo mulheres que sequer percebem que fazem isso.
Vacas fala sobre tudo isso e conta a história de 3 protagonistas femininas: Tara (mãe solteira e trabalha em um local onde a força masculina predomina), Stella (que recentemente perdeu a irmã gêmea e não consegue suportar a perda) e a Cam (uma blogueira famosíssima e completamente feminista, que expõe ao mundo suas vontades e não tem vergonha de dizer que tem encontros casuais, apenas para satisfazer sua necessidade, e vai contra todos os ideais de uma sociedade machista). São personagens completamente diferentes, mas há algo em comum entre elas: a liberdade de fazer o que bem entender cada uma com a sua vida, sem se preocupar com a opinião dos outros (exceto Tara, que precisa pensar nas consequências pois tem uma filha pequena e não quer que suas decisões tenham impactos sobre a vida da menina).
A história acontece em Londres nos dias de hoje, mas que, embora seja uma cidade avançada em termos tecnológicos, às mulheres ainda são vistas como submissas e não digo isso em relação a sexo e sim a mulher viver para ter filhos e ser dona de casa. Há um preconceito quanto a liberdade feminina e a mulher como um todo e as personagens: Tara e Cam vão enfrentando isso a cada dia e quebrando paradigmas. Já Stella é uma personagem contraditória, realmente não sabia para onde ia e até podia entendê-la, mas quando começa a prejudicar outras pessoas em beneficio próprio e as situações se tornam extremas e exigem atitudes extremas, talvez possa ficar com raiva dela.
A personagem mais marcante de toda a trama é a Cam. A blogueira socialite que faz a sociedade engolir goela abaixo sua quebra de paradigma de que mulher tem que seguir as regras ao invés de fazer o que quiser, como é o caso dela de não desejar ter filhos. Ela sabe que ter um filho pode alterar toda a sua rotina e isso era algo que ela gostava muito. Cam gostava de ter seu momento de solidão, poder ficar sozinha em seu apartamento enorme e fazer o que bem entender, sem ter que se preocupar com o que fazer diante das pessoas. E por mais que ela se sentisse satisfeita com o rumo de sua vida, ainda enfrentava pressão dia após dia da família. Sua mãe não aceitava sua vida, achava que a filha a odiava a ponto de fazer tudo ao contrário ao que desejava para a filha.
Infelizmente, fiquei muito chocada com o destino de Cam no final da história e ainda estou tentando superar. Ela não merecia, pois sinto como se sua jornada brilhante e suas conquistas estava apenas começando, mas no fim, tentei entender que a vida é assim e muitas pessoas tem a vida encerrada pela metade. Mesmo desejando um fim melhor para Cam e esta seja a única coisa que não me agradou na história.
Por mais que Cam seja marcante, Stella e Tara não ficam para trás. Tara, é uma personagem contagiante, ela fazia documentários sobre abusos de homens sobre as mulheres, assédio sexual e essas coisas e era muito boa nisso, tanto que a emissora que trabalhava, era dominada por homens e o sucesso dos documentários eram todos por causa dela, mas por trás das câmeras, ela sofria nas mãos desses homens que se achavam superior a ela e não reconheciam seu trabalho, mas ainda assim, era um trabalho e permitia que ela pudesse passar mais tempo sua sua filha, Anne. Até que em uma sexta-feira, que havia marcado um encontro na internet, como todas as sextas anteriores, ela conhece Jason e fica encantada com ele, mas quando decide fazer a coisa certa e não dar o segundo passo como costumava fazer das outras vezes (ir para a cama com o homem do encontro), ela acha que Jason vale a pena e se despede dele com a promessa de um próximo encontro, na sexta-feira seguinte e ele quer o mesmo.
Então, enquanto voltava para casa, trocando mensagens com Jason, Tara se sente excitada com o encontro e o beijo que haviam trocado antes de se despedirem e, sozinha no metrô, ela resolve aliviar a tensão do seu corpo e, ali mesmo, sentada no fundo do vagão, ela se masturba e se perde em meio ao êxtase e não percebe que tem alguém filmando-a. E, após esta noite, ela passa a ser o comentário de todas as mídias sociais. Ela é totalmente desmoralizada e criticada, até mesmo acham que é louca. E assim, toda a história começa. Cam é a única mídia que defende Tara, sem ao menos conhecê-la, pede para as pessoas não assistirem ao vídeo e terem vergonha na cara. E assim, uma amizade virtual entre Tara e Cam acontece, pois a vida dela virou de cabeça para baixo num piscar de olhos e Tara não vê uma solução rápida para este problema, para que não atinja sua filha e nem sua família, mas é inevitável e sua amizade com a blogueira Cam é a única coisa que a conforta, pois até o seu recente par romântico parece tê-la abandonado.
Já Stella é a assistente pessoal de Jason, um fotógrafo muito bom no que faz. Ela está passando por um problema pessoal. Como disse lá em cima, Stella tinha uma irmã gêmea que morreu de câncer no útero alguns anos atrás e ela não consegue se livrar do luto, tanto que há momentos que ela se deixa levar pela antiga vida da irmã e tenta ser a doce e muito querida irmã gêmea, algo que ela nunca quis ser. Stella sempre foi a sombra da irmã em tudo. Seus amigos gostavam mais de Alice do que dela e ela entende. Stella sabia que não era uma boa companhia e tinha um grande problema em se comunicar. Ela namora Phill e eles descobrem que Stella tem 85% de chance de ter câncer como a irmã gêmea e a mãe que também morreu de câncer de mama. Ela tem um ano para decidir se faz uma cirurgia para ficar sem as mamas e o útero, entretanto, ela deseja ter filhos e então, com toda essa pressão, seu namorado a abandona e ela fica sem saber o que fazer para realizar o sonho de ter um filho antes de ficar sem o útero.
Stella é uma seguidora de Cam, mas, enquanto sua chance de ter filho vai ficando distante, ela passa a odiar a blogueira e a enviar mensagens grotescas para Cam. Mas, conforme ela lia o blog da socialite e a blogueira a induzisse a tomar uma atitude para conquistar o que quer, Stella tem uma ideia e sai em busca de um pai para seu filho, até que enxerga Jason de forma diferente e deseja ter um filho com ele, mas, para isso, precisa acabar com o interesse dele por Tara e o limita de todo o contato com a internet para não descobrir o que está acontecendo com ela, já que Tara é o assunto do momento e vai em busca do que quer. Embora, às vezes, desejasse que a personagem morresse, pois fez merda atrás de merda, no final, eu a entendi e passei a gostar dela. Foi só um lapso momentâneo que tive de raiva dela.
Eu não vou falar mais sobre a história, pois vou acabar contando tudo. Como são 3 histórias intercaladas no livro e que no final se cruzam, tive que fazer um resumo muito grande.
Embora muitas coisas ruins acontecem com as protagonistas, as personagens são tão reais e, como no nosso dia-a-dia, nós temos momentos engraçados, o que achei muito natural na história, o tema foi abordado de uma forma humorada, refletindo exatamente nas questões que, hoje em dia, nos vemos em um mundo onde as pessoas veem problemas em tudo.
Vacas: Nem toda mulher quer ser uma princesa está sendo distribuído no Brasil pela editora Harper Collins e promete quebrar paradigmas! Conheça você também essa história e leia sem preconceito, abrindo totalmente a mente.
Disponível em: Saraiva