Um dos mais recentes quadrinhos trazidos ao Brasil pela editora NEMO, Dias de Areia, mostra a realidade norte-americana dos anos 30, quando explodiu a Grande Depressão, evento que terminou somente na chegada da Segunda Guerra Mundial. Aimee de Jongh narra uma história triste, mesmo com personagens fictícios.
A trama gira em torno de John Clark, um fotógrafo de 22 anos que é contratado pela Administração de Segurança Agrícola, uma agência governamental responsável por ajudar os agricultores que sofrem com a Grande Depressão. A missão de John é cobrir a dificuldade dos trabalhadores rurais que estão sofrendo com um fenômeno chamado Dust Bowl, uma espécie de seca fadada pelo avanço da agricultura nas grandes planícies, que acabou expondo o solo à fortes ventos, fazendo com que nuvens densas de poeira fossem lançadas por toda a região. Além de uma grande perda econômica, problemas de saúde começaram a surgir. Esse sofrimento durou cerca de 10 anos.
Todos os habitantes que residiam entre Oklahoma, Kansas e Texas foram invadidos por esse deserto e pela miséria, onde John teria de passar um mês para capturar a essência humilde da população. Dentro desse período, o personagem tem a chance de fazer uma reflexão bem profunda sobre sua profissão e também sobre seu passado mal resolvido.
Dias de Areia retrata um período real de forma que o leitor entenda, e sinta, o que aquelas pessoas passaram. Não é o entretenimento para colecionar momentos bons para além de toda a aura devastadora. Do início ao fim, seja pela proposta de trabalho de John, no último encontro anterior à sua viagem aos 30 dias de areia, e também sua chegada e permanência no local, não resta nada além de dó e pequenos alívios.
Antes de todos os capítulos, são mostradas fotografias fortes da época, exemplos de como a areia tomava as casas, névoa de poeira que invadia as cidades e famílias deixando tudo para trás afim de buscar novas oportunidades na Califórnia. Ao final também pode-se encontrar explicações sobre o ocorrido, mais algumas imagens reais da época, e um pouco sobre esse programa de fotografia e seu impacto.
Aimee de Jongh merece reconhecimento muito especial pela pesquisa minuciosa sobre a temática, além de enxergar as questões do papel social da fotografia jornalística, o que nos faz questionar as consequências do apelo midiático. O resultado desse trabalho incrível, com arte em tons terrosos e ilustrações muito pessoais, foi o Prix des Libraires de BD e o Best of Show do MoCCA Comic Arts Festival de 2022.
Dias de Areia é indicado àqueles que gostam de uma leitura mais séria, que amam temáticas sociais e passam as páginas bem lentamente para admirar artes lindas e paisagens estonteantes.