Que há uma explosão do audiovisual sul-coreano no mercado ocidental não é novidade alguma – desde o k-pop a produções cinematográficas como Parasita. Porém, não dá pra negar que Além do Guarda-Roupa emerge como uma agradável surpresa no catálogo da HBO Max, inaugurando um novo cenário para as séries brasileiras ao buscar inspiração nos chamados k-dramas.
O enredo acompanha Carol (intepretada pela estreante – e cativante – Sharon Cho), uma jovem de 17 anos, fruto da união entre um sul-coreano e uma bailarina brasileira. Seu sonho é trilhar os passos da mãe na dança clássica, embora não compartilhe o mesmo entusiasmo pela música pop vinda do outro lado do mundo – como todos ao seu redor.
Entretanto, o rumo da história toma um giro drástico quando o armário de Carol se transforma em uma passagem para a Coreia do Sul, catapultando-a para o encontro com os membros do fictício grupo ACT. Embora não seja real, o paralelo com o nome do grupo NCT não passa despercebido, uma vez que os atores envolvidos na produção são verdadeiros idols.
A partir desse ponto, a história deslancha em uma jornada de autoconhecimento, intercalando-se com um intricado quadrilátero amoroso entre Carol, seu colega Diguinho (Lucas Deluti), e os astros Kyung-min (Kim Woojin) e Dae-ho (Jin Kwon), cujas performances são notáveis.
Além do Guarda-Roupa transpira multiculturalismo, demonstrando a abordagem peculiar brasileira para enfrentar múltiplos desafios simultaneamente, algo evidenciado nas peripécias de Carol. Sua habilidade em se desdobrar em múltiplas versões de si mesma é um reflexo dessa abordagem.
Paralelamente temos Kyung que, oriundo de uma criação rigorosa e também sem afeto, enfrenta o escrutínio constante e a exigência de perfeição ao se tornar um idol.
A série retrata os personagens brasileiros se engajando com a cultura sul-coreana em variados modos, oferecendo um manifesto artístico que celebra a apreciação e colaboração entre universos geograficamente distantes, mas conectados por uma profunda humanidade.
A produção também responde com perspicácia à questão se o amor retratado nas telas é autêntico ou mera ilusão cultivada pela indústria para cativar o público. Desse modo, a trama afirma que a fantasia pode, de fato, ser uma ferramenta valiosa para confrontar a realidade.
A excelência da série se reflete na recriação meticulosa do gênero, com a intercalação das línguas dos dois países contribuindo para a sensação de um intercâmbio cultural genuíno e fluido.
No cerne de tudo, o triunfo de Além do Guarda-Roupa – que já tem uma segunda temporada garantida pelo HBO Max – reside em sua clareza autoral e na resoluta determinação em honrar a visão que defende, resultando em uma obra que captura os espectadores.