A primeira temporada de Kaiju no. 8 está chegando aos seus episódios finais, e com tantos minutos assistidos já me sinto mais confiante em fazer uma crítica sobre o anime.
O primeiro episódio de Kaiju no. 8 engana bem o público. A história começa mostrando o dia a dia de Kafka Hibino, que trabalha na Monster Sweeper Inc., uma empresa, que é profissional em limpeza de restos de kaiju que ficam pela cidade após as batalhas da Força de Defesa do Japão.
No primeiro momento achei que essa seria a história do anime, mostrando o que acontece depois de uma batalha épica e quem lida com as consequências, essa premissa por si só já é interessante, se seguissem por esse caminho tenho certeza que não deixariam nada a desejar. Mas a história opta por seguir o exemplo dos grandes monstros japoneses do passado.
Quando surgiram, no final dos anos 40 e começo dos anos 50, os kaijus representavam o medo da população japonesa em relação à guerra e aos ataques nucleares. Monstros como o Godzilla eram vistos como seres raivosos, que não podiam ser detidos pelos humanos e causavam desolação e destruição por onde passavam.
Com o passar dos anos, os monstros continuaram fortes e gigantes, mas com o Japão se reerguendo por meio do seu avanço tecnológico, antigos medos foram ressignificados.
Com armaduras especiais, os heróis humanos podiam se transformar em gigantes e combater os monstros frente a frente, basta olhar para os anos 80 e 90 e ver alguns exemplos como Ultraman e Power Rangers.
Mas nessa nova era da tecnologia o poder dos humanos toma novas proporções e como visto em Kaiju no. 8, os heróis não mais precisam ficar gigantes, sua força e tamanho são compensados por armas e roupas especiais, e pelo atributo que mais nos diferencia de nossos inimigos, a inteligência.
Mas mesmo com a evolução, o medo continua a existir: e se os kaijus adquirirem inteligência humana? E se nos depararmos com um poder tão forte, um que nossa tecnologia não consegue acompanhar? Mesmo blindados com nossa inteligência e desenvolvimento, estamos a salvo de novos ataques e guerras?
Nesse caso, Kaiju no. 8 traz uma discussão complexa, de que a evolução, tanto nossa quanto dos inimigos é algo natural, e para ganhar uma nova guerra a humanidade terá de se preparar para fazer algo que não quer e nunca pensaria em fazer em circunstâncias normais, se transformar em seu inimigo.
É o que acontece com Kafka, ele se encontra com um pequeno monstrinho que entra em seu corpo e transforma sua estrutura corporal, fazendo com que o rapaz vire um kaiju. Será isso um pesadelo? Muito pelo contrário, a força e vigor adquiridos pelo protagonista são a resposta para os problemas enfrentados pelo Japão.
Uma visão interessante e meio perturbadora de que talvez, para derrotar aquilo que mais se teme, é necessário se tornar um deles. Até onde conseguimos manter nossa humanidade? Mesmo usando os artifícios malignos de nosso inimigo continuamos sendo nós mesmos? Tais poderes são justificáveis quando os usamos em prol na nossa causa, ou eles deviam ser banidos não importa o quão boas são as nossas intenções?
Ao longo dos episódios de Kaiju no. 8 vemos que Kafka encara os novos poderes como um dom, uma forma de alcançar seu sonho de se tornar um guerreiro da Força de Defesa do Japão ao lado de Mina Ashiro, e ao mesmo tempo de ajudar os humanos a dar a volta por cima e acabar com os kaijus.
Mas ao mesmo tempo vemos seus amigos, Leno Ichikawa e Kikoru Shinomiya colocar os pés do protagonista no chão, lembrando que aos olhos da sociedade, um monstro continua sendo um monstro, e que as boas intenções não importam, se você se parece com o inimigo, automaticamente você será tratado como um, então é necessário tomar cuidado.
A trilha sonora de Kaiju no. 8 é incrível, tanto as músicas de abertura e encerramento, quanto as faixas dos episódios são energizantes e trazem ao espectador um senso de perigo e urgência, misturado com a emoção de estar lutando contra monstros gigantes.
A animação de Kaiju no. 8 é bonita e fluida, mas exagera no slow motion. Algo muito recorrente e que começou a me incomodar ao longo dos episódios foram os quadros quase estáticos, que pausam a luta em um momento épico, como quando um dos personagens está prestes a levar um golpe. O golpe vem em câmera lenta, os pensamentos do personagem que será acertado são descritos em forma de narração e o golpe volta totalmente acelerado, sem termos tempo de saborear o movimento e a emoção.
Fazia tempo que um bom anime de monstro não aparecia para aumentar os ânimos dos fãs de shonen. Os gêneros de kaiju e mecha tiveram uma baixa na popularidade, a última história famosa que trazia esses elementos foi Darling in the Franxx, que não é tão novo assim, o anime foi lançado em 2018.
Mas Kaiju no. 8 traz uma boa história de monstros gigantes, dilemas interessantes, personagens bem construídos e cenas de ação eletrizantes. Um verdadeiro recomeço para o gênero, que muitos de nós havíamos esquecido que gostávamos tanto. Acredito que valha a pena acompanhar essa história até o final e ver o que ela nos reserva.