Salmo pra um robô peregrino, trazido pela Morro Branco, é mais um dos sucessos de Becky Chambers, autora de A Longa Viagem a um pequeno planeta hostil e A vida compartilhada em uma admirável órbita fechada, lançados pela DarkSide Books.
Panga é um satélite natural habitado por seres humanos que o divide com a fauna, flora e os esquecidos robôs, que raramente são vistos e preferem restringir-sem em meio a natureza. Após um período histórico caracterizado por ser a Era das Fábricas, os robôs e a inteligência artificial, no geral, desgarraram-se do seio humano para seguir seus próprios caminhos, deixando a humanidade conectar-se a hábitos ancestrais, retomando autonomia e encarando ações e responsabilidade que há tanto tempo eram terceirizadas às máquinas.
A história acompanha a trajetória de Dex, monge não-binário que decide mudar seu caminho a partir de uma insatisfação velada. Vivendo sua rotina em um templo na cidade, não sente seu coração preenchido pelo combustível da vida, aquele que nos incentiva a procurar um sentido nas coisas e encontrar um significado na nossa jornada. Dex torna-se monge de chá, vivendo de maneira itinerante, viajando a logradouros, conhecendo pequenos vilarejos, ouvindo as angústias de outrem, aconselhando-os da melhor maneira e consolando-os oferecendo um chá carregado de conforto e vitalidade.
A grande questão de Dex é que, mesmo após decidir mudar de atuação, almejando uma vida tranquila afim de conectar-se à essência da natureza exercitando a empatia e oferecendo tudo se si para auxiliar as pessoas, elu ainda não via sentido em sua existência. Então houve a chegada do Robô Chapéu de Musgo, que desbravou inacessíveis lugares na natureza, e de forma analítica, observou a dinâmica da vida de animais e plantas. Ambos juntam-se para compreender a raça humana, auxiliando Dex a compreender que está tudo bem não ter um sentido de vida claro, que a essência vital trata-se, basicamente, do viver.
“– Isso é algo que estou fazendo. Não é minha razão de ser. – Quando eu terminar isso, farei outras coisas. Não tenho um propósito, assim como um rato, uma lesma ou um espinheiro. Por que vocês precisam ter uma para se sentirem contentes?”
Salmo para um robô peregrino
Salmo para um robô peregrino nos convida a evocar sentimentos que, desapercebidos, quase nunca trazemos à tona, mas nos corroem gradativamente: A necessidade de buscar um sentido na nossa existência é necessário? Por que o ser humano precisa estabelecer um sentido relevante em suas ações para validar a sua existência? Essas são algumas razões pelas quais recomendo a leitura dessa obra. As 169 páginas conversarão contigo, te seduzirão a um fluxo de consciência necessário de vez em quando.
Despretensiosamente, adicionei esse livro na minha lista de desejos no final do ano. Não sei dizer ao certo qual aspecto me atraiu em particular, mas já conhecendo outras obras da Becky Chambers, pré-julguei a leitura como necessária, já que a autora aborda em suas ficções científicas, assuntos importantes de maneira sutil e singela.
“Você não acha que a consciência por si só é a coisa mais emocionante? Aqui estamos, nesse universo incompreensivelmente grande, nesta pequena lua em torno desse planeta incidental, e em toda a existência deste cenário, cada componente foi reciclado e repetida e novamente em configurações infinitamente incríveis, e às vezes, essas configurações são especiais o bastante para se poder ver o mundo ao redor.”
Salmo para um robô peregrino
A Becky é mister em presentear-nos com narrativa distinta, entregando aspectos fundamentais da ficção científica e abordando pautas atuais de extrema relevância, principalmente referenciando questões subjetivas do ser humano.