Trazer uma sinopse precisa para Sicario: Dia do Soldado é uma tarefa não muito fácil. São tramas e subtramas que não ditam qual o real discurso ou motivo para a existência do filme. Mas sendo o mais breve possível, nesta sequência temos o retorno de Alejandro (Benicio del Toro) e Matt Graver (Josh Brolin) empenhados em uma missão que envolve a filha de um líder de um cartel de drogas com o objetivo de gerar uma guerra entre os cartéis mexicanos.
Pela sinopse o filme não parece interessante. Em termos de história, de fato o filme não salta aos olhos. Apesar do roteiro ser assinado pelo mesmo escritor do primeiro filme, Taylor Sheridan, e que vem recebendo indicações pelos seus ótimos trabalhos, em Sicario: Dia do Soldado, a sua escrita parece estar desequilibrada. Taylor injeta subtramas que serão esquecidas com o decorrer do tempo, e projeta uma trama principal sem ter muito a dizer e sem concluir de fato todos os assuntos iniciados.
E sobre o assunto do filme, aqui o público poderá notar que Sicario: Dia do Soldado não é uma obra que romantiza as operações violentas do governo, assim como no primeiro filme. O longa deixa claro que para se chegar a um resultado satisfatório, as agências de segurança são capazes de tudo. O estrangeiro violento é terrorista, mas o americano explodindo casas e sequestrando inocentes é o salvador. De uma certa maneira, essa verdade jogada no espectador traz um bom tempero para o roteiro, apesar de não ser nenhuma novidade no cinema.
Junto a isso, o roteiro bate muito na tecla de que o mexicano não é um ser bem-vindo. Em certo momento, vemos verbalizado pelo personagem de Josh Brolin que é difícil diferenciar um mexicano comum a um integrante de cartel. Se isso não é um ato preconceituoso, não saberia dizer o que seria.
O problema de todo o assunto e a insinuação de preconceito contra os mexicanos se dá pelo fato de que o roteiro não discute a situação. Os personagens não se indagam, não trazem um contraponto. Fica a sensação de ser um filme feito por uma agenda política para o povo estadunidense. E dependendo da educação do público, pode ser um material perigoso.
O ponto mais positivo do roteiro é a jornada de Alejandro. Aqui ele está mais participativo, mais aprofundado e possui mais linhas de diálogos que no primeiro longa. O personagem vai ao pior inferno possível, mas não perde sua integridade e combinado à ótima atuação de Benicio del Toro, o público se vê engajado em sua trajetória. Josh Brolin também traz uma boa composição, mesmo que não fuja muito de um personagem sisudo e ardiloso.
Em termos de personagem, Sicario: Dia do Soldado perde um pouco com a ausência de Kate Macer (Emily Blunt), que não só carregava o filme com um ótimo arco dramático, como trazia um contraponto perfeito para a atmosfera violenta do primeiro filme.
E se os atores conseguem carregar o longa, os méritos são da direção. Mesmo que o filme tenha perdido um pouco a estética de Denis Villeneuve, o atual no comando, Stefano Sollima, conduz muito bem entre o drama e a ação. E nesse caso, Sicario: Dia do Soldado está mais recheado de cenas de ação, as quais são cruas e bem violentas, mantendo o clima do primeiro longa. Nesse ponto o filme tem chance de agradar um público maior, mas é preciso saber que ainda existem muitos momentos em que a narrativa desacelera.
A fotografia passa a maior parte do tempo apenas no correto. Sem muito a oferecer. Mas eu disse “maior parte” porque, principalmente em algumas cenas de ação, tanto a fotografia quanto o manejo da câmera procuram saídas criativas para compor a cena. O domínio de espaço dentro de veículos seria o maior brilhantismo de Dariusz Wolski, o diretor de fotografia.
A trilha sonora talvez seja o trabalho mais fraco do filme. Apesar de possuir bons temas, eles são extremamente repetitivos. O compositor Hildur Guðnadóttir, não saiu da sua zona de conforto e perdeu a chance de surpreender o público e levá-lo a novos patamares sensoriais.
Ainda que exista todos os problemas técnicos do filme, Sicario: Dia do Soldado tem material para prender a atenção do público. Possui ótimas composições de cenas, traça boas linhas de tensão com momentos que podem fazer o espectador ficar na ponta da cadeira e suas cenas de ação são enérgicas o suficiente para agradar aos amantes do gênero. Apesar de a obra não dizer para o que veio, o espectador poderá sair satisfeito da sala de cinema.