O conto da Aia (The Handmaid’s Tale) é uma série inspirada num livro de mesmo nome que fala sobre um Estado teocrático e totalitário, onde as mulheres são vítimas preferenciais, anuladas por uma opressão sem precedentes. O nome dessa nova república onde se passa a trama distópica é Gilead, onde um dia já foi os Estados Unidos da América.
Mas… Como funciona Gilead em The Handmaid’s Tale?
Gilead tem um regime que trata mulheres como propriedade, seja este de escravidão ou apenas reprodução. Neste novo regime, as mulheres servem papéis sociais divididas em castas: Esposas, Marthas, Aias, ou Não Mulheres. Sendo Esposas as crentes na religião apresentada na série e que vivem com seus maridos, Aias são serventes reprodutoras, que servem apenas para carregar bebês para as Esposas e Comandantes, Marthas seriam as empregadas e Não Mulheres seriam as obrigadas a trabalhar em campos radioativos, fadadas a morrer.
Todas as mulheres são submissas aos seus maridos, Comandantes e ao Estado e privadas de ler, escrever, ou ter acesso a qualquer produto cultural.
“A gente tem 30 mil casais que querem o bebê, que aceitam o bebê. Essa tristeza de hoje para a senhora e para a sua filha é a felicidade de um casal”
Disse uma juíza para uma mãe de uma criança de 11 anos, grávida após sofrer um estupro. Brasil, 2022.
As Aias são mulheres férteis que não seguiam a religião antes do golpe de estado ou que de alguma forma a infrigiam (cometendo adultério ou “traição de gênero). Elas são vistas como objetos reprodutivos que são obrigadas a ajudar Esposas e seus maridos a terem filhos, pois a maioria das Esposas são inférteis.
Nas chamadas Cerimônias, ocorridas mensalmente em seus períodos férteis, as Aias são estupradas por seus Comandantes. Depois da gravidez, elas devem entregar o bebê ao casal e dirigir-se à próxima família. Essa Cerimônia é inspirada na passagem bíblica de Lia e Raquel, interpretada de maneira equivocada.
Por que Gilead é um terror que não se encontra tão longe da realidade?
No futuro distópico de The Handmaid’s Tale, a poluição do ar causada pelos humanos levou à infertilidade de grande parte da população. Os fundamentalistas recorrem a um golpe político nos Estados Unidos para isolar as mulheres férteis e não religiosas em uma casta reprodutiva: as Aias. Uma espécie de salvamento para estas.
O mais assustador é que há estudos que realmente comprovam o efeito da poluição na taxa de fertilidade. Quer saber o mais assustador ainda? Os paralelos da casta religiosa com alguns grupos americanos, falas de políticos mundialmente conhecidos sendo praticamente retiradas do roteiro da série e também o fato de levarem mais em conta a vida de um feto ainda em formação com a de uma mulher.
A república de Gilead se formou através de um golpe, que instaurou um medo através de xenofobia. Que manipulou massas com religião e finalmente, retirou os direitos das mulheres, com fake news, intolerância, homofobia e preconceitos, sempre protegidos pela religião apresentada na série.
Em The Handmaid’s Tale é mostrado que as crianças que crescem nesse regime sofrem uma lavagem cerebral em que, após sua primeira menstruação, tem que ser submetidas a um sexo prematuro, pois é entendido que elas já podem se casar e tentar ter filhos.
Na 2ª temporada de The Handmaid’s Tale, o motorista dos Waterford (casal protagonista), Nick, de 30 anos, é concebido uma Esposa, mas se surpreende que esta seja uma garota de 15 anos, Eden. A jovem é completamente cega nos valores do regime e sonha mais do que tudo em servir seu marido e concebê-lo filhos. A normalização do casamento infantil em diversas culturas é pauta ainda hoje, em 2022.
Eu podia ficar dias aqui falando das similaridades de The Handmaid’s Tale com a nossa sociedade, a própria autora já afirmou que busca inspiração em coisas em acontecem na realidade. Ela começou a escrever uma continuação para The Handmaid’s Tale após um partido conservador ganhar as eleições em seu país e também já comparou sua série com situações do Brasil atualmente.