Em poucos anos, o mundo do entretenimento se tornou completamente dos super-heróis. Filmes da Marvel e da DC são os mais rentáveis, além de comandar as estreias de séries nos streamings desde o começo de 2021. Porém, a existência dessa série nos coloca em ampla discussão sobre como esses infinitos cenários super heroicos podem ser abordados.
The Umbrella Academy é uma série que usa o clichê para transpor o brega de seu gênero e tenta uma linguagem muito diferente do “normal” para o novo gênero de heróis.
Após conseguirem vencer o fim do mundo, dessa vez pra valer, os irmãos Hargreeves se colocam em uma linha do tempo diferente. Como visto no final da segunda temporada, a equipe The Umbrella Academy foi substituída pela The Sparrow Academy e seu pai (Reggy Hargreeves) não os reconhece como filhos. Os irmãos agora devem entender qual o lugar deles nesse “novo mundo”, além de enfrentar um perigo maior que o apocalipse.
A criação de Gerard Way é constantemente cafona e propositalmente aliada ao teor satírico, sem depender das famosas frases de efeito e do “colorismo” da Marvel para ser divertida. Em seus maiores sucessos, a série tem seus montadores como principal alvo de elogios.
As cenas da 3º temporada de The Umbrella Academy não são cansativas, são super bem dirigidas e com forte senso de timming. A coesão de continuidade, aliado aos personagens que são super interessantes com seus arcos narrativos a cada temporada, fundem em uma narrativa que não se perde em nenhum dos 10 episódios.
Começando com o Número 1, Luther, que tem seu arco sempre simplificado como o “bobão” e que nessa temporada isso não muda, mas suas ações são constantemente necessárias pro funcionamento. O número 2, Diego, tem o arco mais confuso e desinteressante, porém o carisma do ator faz com que o público dê boas risadas.
Em todas as temporadas, Allison sempre precisou sacrificar algo para o mundo ser salvo, isso sempre tornou sua jornada a mais difícil dentre todos. Na primeira temporada sua filha foi deixada no futuro e Alisson aceitou o passado. Em seu segundo ano na série, Alisson deixa Ray para trás para ir de encontro com sua filha no futuro, sem falar do arco de racismo que a mesma enfrente nos anos 60. Novamente, a terceira temporada trás o arco mais difícil para uma mãe em todos os momentos. Decisões extremamente difíceis acompanham essa personagem que pode causa certo desconforto nos espectadores por ter a fama de “chata”, mas que de simples não tem nada.
O arco de Viktor Hargreeves é bem complicado em situações de decisão. Sua transição é feita no começo da temporada e é levada de maneira tranquilo por todos os outros personagens. A mudança funciona narrativamente e deve ter deixado o ator Elliot Page muito confortável em ser quem é com seus colegas, suas conexões com o passado tem completa influência aqui no futuro nessa nova linha do tempo.
Os outros personagens possuem forte influência na narrativa, como em todas as temporadas, mas citei os personagens que mais me deixaram interessados dentro da terceira temporada.
Falando um pouco sobre a Sparrow Academy, os personagens em sua maioria são um pouco difíceis de conseguir carisma pelo seu pouco tempo de tela. Pouco nos familiarizamos e nos preocupamos com eles, tornando difícil assim o contato mais direto com seus elos novos. Com exceção do Ben, que já conhecemos, que tem uma personalidade diferente da que conhecemos, mas que constrói carisma vindo das temporadas anteriores.
A cenas de ação de The Umbrella Academy normalmente são as mais diferentes de todas as series. Quando pensamos em cenas de ação, pensamos em uma excelente coreografia vinculada a uma música que nos remete um completo senso de ação. Aqui nós temos diversas cenas de ação o que são colocadas com músicas que subvertem o momento, músicas que constroem uma narrativa inversa nos fazendo rir com o acontecido. Essa diferença na série criar uma identidade quase que única e mostra como o gênero de super heróis pode ser muito diferente do que estamos vendo atualmente nos cinemas.
Apesar de ter uma proposta muito diferente, The Umbrella Academy pode ser colocada no mesmo patamar de The Boys como uma série que subverte o gênero de heróis, nos trazendo uma nova roupagem para a linguagem que estamos acostumados a ver.
Heróis são pessoas e pessoas erram, normalmente mais do que acertam, e é isso que a série nos apresenta em todas as suas temporadas, pessoas errando mais do que acertando e mesmo assim lutando para que o fim do mundo não aconteça.