Todo o Dinheiro do Mundo se tornou o filme mais comentado da temporada das premiações. Não por ser o melhor, mais pelo número de polêmicas ao redor da trama. A começar pela história, baseada em fatos reais que conta a saga de Gail Getty tentando convencer seu ex-sogro o magnata Paul Getty, o homem mais rico do mundo, a pagar o sequestro de seu filho.
Paul Getty foi interpretado inicialmente por Kevin Spacey, que estava não só em todos os materiais de divulgação como também era a aposta do estúdio para os prêmios. Mas o filme foi abalado ao surgirem as acusações de abuso contra Spacey. Quando o ator confessou e decidiu se afastar da mídia, faltando dois meses para o lançamento previsto, Scott precisou tomar uma decisão. Ele então reuniu o elenco e informou que iria retirar qualquer vestígio de Spacey do filme. Para o lugar ele decidiu chamar Christopher Plummer, que sempre foi sua primeira opção. Os atores e membros da produção aceitaram trabalhar pelo preço mínimo, já que as refilmagens custariam alguns milhões. Todos, menos Mark Wahlberg que não só exigiu o pagamento máximo como também ameaçou proibir Plummer já que ele era o produtor executivo. Quando vazou a notícia que ele havia ganhado 1.500 vezes mais que Michelle Williams o filme já havia sofrido outro baque difícil de remediar.
Mexer com histórias reais, de figuras ricas e poderosas sempre é cutucar uma colmeia de abelhas, Orson Welles que o diga. Ambientado em Roma na década de 70 o longa conta com bom figurino e som. O elenco também é de se elogiar, menção honrosa a Romain Duris que interpreta Cinquanta um dos sequestradores do garoto e que, por incrível que pareça, aprendemos a gostar.
Getty, interpretada de forma forte por Michelle Williams, mostra uma mãe nadando contra uma maré mais forte do que ela pode suportar, o mundo do dinheiro e da ganância. Ao lado dela está o ex espião Fletcher Chase, interpretado por Mark Wahlberg. Ele é enviado por Paul Getty para ajudar nas negociações do sequestro. Wahlberg quase desaparece ao lado de outros nomes da trama, difícil dizer se a atuação foi mediana devido as refilmagens ou se era a mesma desde o início. O fato é que nem de longe lembra a atuação primorosa que apresentou em Os Infiltrados ou em O Vencedor.
Precisamos falar a parte sobre Christopher Plummer! Não há dúvidas que ele é um dos melhores atores vivos, mas no alto de seus quase 90 anos ele foi chamado às pressas para gravar um filme. Isso significa: laboratório do personagem, ambientação da história, memorização de roteiro, filmagem e refilmagem em pouco menos de 2 meses. Podemos dizer com todas as palavras que ele é o nome do filme! Sua atuação é esplêndida, uma verdadeira “obra de arte”. Todos os atores somem perto dele. Sua indicação ao Oscar não é por pena, cota ou o que quiser chamar, mais sim devido a ser um dos poucos e grandes atores que persistem nessa era.
Ridley Scott deve ter orgulho de seu filme, que apesar de estar acima da média, não é o melhor de todos. Mas ele deve se sentir satisfeito do longa que fez, de como fez e os motivos que o levaram a fazer. Daqui a alguns anos todos vão lembrar de seu bom filme e não dos escândalos que o cercaram.