“Um Amor Incômodo” é um daqueles livros que você tem que ter cuidado quando lê e, principalmente, em qual idade. A história da escritora italiana Elena Ferrante é de uma escrita um tanto quanto difícil, com uma pegada reflexiva que faz você se pegar pensando em tudo o que já passou na vida.
A personagem principal, na verdade, não é quem narra e sim sua mãe, que está morta. A Senhora Amália foi encontrada morta boiando em um rio, e toda a história parte da desconfiança da situação em que ela foi encontrada.
Delia, a filha mais nova, foi obrigada a reconhecer o corpo da mãe e se assustou quando a encontrou quase completamente nua, exceto pelo uso de um sutiã que parecia muito luxurioso para sua velha mãe estar usando nos altos de seus 60 anos.
A partir daí, a realidade se passa ao longo de vários cenários de cidadezinhas do interior da Itália, intercalando acontecimentos estranhos no presente, com lembranças de sua infância e delírios de Delia com sua mãe, como se parecesse que ela ainda estivesse viva.
O livro demonstra claramente as cicatrizes que a violência vivida na infância de Delia deixou em sua personalidade. O tempo inteiro ela tenta fugir das lembranças dolorosas de sua mãe sofrendo ao passar da vida, principalmente por sua natureza submissa, e se mostra até que conformada a essa altura da vida com a forma que a mãe era julgada por ter deixado seu pai depois de muito apanhar.
As coisas começam a ficar estranhas quando Delia vai à casa de Amalia e encontra o apartamento deixado de forma estranha, e a situação só piora quando ela encontra lingeries caras na antiga mala de sua mãe. É estranho pensar que sua mãe, sempre tão recatada e retraída, usasse roupas daquele tipo.
Então começa um narração truncada e lenta do desenrolar do mistério, nos apresentando sempre personagens masculinos ameaçadores e fortes, como seu Tio que parece ser extremamente amargo, um homem enorme que trabalhava na loja da marca das lingeries e que não parece muito feliz com o que Dalia está fazendo, e um antigo homem que fazia parte da vida de sua mãe como a presença que fazia seu pai morrer de ciúmes, e que se revela como um senhor completamente devasso.
É difícil para mim como uma mulher com seus 20 e poucos anos, ver o nível de enfado e conformismo da personagem do livro, perceber a aversão dela em se relacionar com a mãe e tentar com tanto esforço se convencer que elas eram diferentes, mesmo percebendo por fim que elas eram iguais. A narração demora para ficar interessante, mas as pistas do mistério estão ali, só precisamos perceber a estranheza e entender a índole dos personagens que se apresentam aos poucos na história.