Podemos dizer que M. Night Shyamalan foi um dos precursores dos filmes de heróis. Com Corpo Fechado, ele colocou os super-humanos no mundo real e pôs em xeque a existência de pessoas com poderes extraordinários numa trama que misturava suspense e delírio. Isso no ano 2000… Dezessete anos depois, fomos brindados com uma continuação à altura, com Fragmentado, numa trama mais esquizofrênica do que a primeira.
Agora finalmente chegamos ao aguardado encerramento da trilogia com Vidro. A trama se passa pouco tempo após o fim de Fragmentado. Enquanto a polícia falha na captura de Kevin (James McAvoy), ele continua tocando o terror com a sua Horda, como é chamado o conjunto de suas 24 personalidades. Nisso, David Dunn (Bruce Willis) de Corpo Fechado, com o auxílio de seu filho Joseph (Spencer Treat Clark), age como um vigilante e sai em busca de Kevin. Enquanto isso, Elijah Price (Samuel L. Jackson), o Sr. Vidro de Corpo Fechado, está há anos internado numa instalação psiquiátrica.
O encontro dos personagens icônicos se dá quando são reunidos sob a supervisão da Dra. Ellie Staple (Sarah Paulson), uma psiquiatra especialista em delírios de grandeza, principalmente aqueles relacionados a pessoas com síndrome do herói. Ela tenta convencer os três de que eles não são dotados de habilidades especiais e de que necessitam de tratamento psiquiátrico.
Antes de Fragmentado, Shyamalan vinha amargando alguns fracassos cinematográficos como Fim dos Tempos e O Último Mestre do Ar. Mas após o sucesso de Fragmentado e a estreia de Vidro, podemos dizer que o diretor está de volta e em sua melhor forma.
O cineasta é espetacular tanto na direção quanto no roteiro. Ele sabe exatamente o quê e como filmar. Não há cena sem propósito. Sua construção do filme prende o espectador do começo ao fim, fazendo o público ansiar pelo desfecho.
Como mestre do suspense, ele se utiliza da trilha sonora como uma ferramenta grandiosa para construir o clima. Com ela, é capaz de induzir a quantidade certa de tensão e expectativa.
Em Vidro, além de amarrar bem a história dos três filmes, ele também insere o humor de maneira muito habilidosa. O riso é causado no momento certo, aliviando a tensão. Como um filme de super-heróis, Shyamalan brinca com os clichês do gênero, muitas vezes de maneira escancarada. Numa cena em particular, isso é jogado de maneira tão explícita na tela que causa risos na plateia, talvez de nervoso.
Em relação aos personagens, enquanto o Dunn de Bruce Willis aparentemente parece não ter mudado muito, apresentando ainda grandes conflitos internos, o Elijah de Jackson transparece dissimulação, megalomania e cinismo. Contudo, é McAvoy o grande destaque, sempre roubando a cena com as múltiplas personalidades de Kevin. Em alguns momentos as trocas são tão frenéticas que se torna algo maravilhoso de se ver.
Logicamente, a contribuição de Sarah Paulson a este universo é muito bem-vinda. Ela traz mistério, calma e controle em sua atuação, o que torna sua personagem intrigante. Os coadjuvantes Joseph, Casey (Anya Taylor-Joy) e Sra. Price (Charlayne Woodard), todos retornando em seus papéis, são importantes âncoras. Embora suas aparições sejam breves, eles estão presentes em momentos importantes da história e ajudam o espectador a se situar nesse universo unificado.
Vidro consegue encerrar muito bem a trilogia iniciada há quase vinte anos. Mesmo com uma duração mais longa do que o esperado, Shyamalan mais uma vez deixa sua marca com uma história bem resolvida. Se o público aguardava ansiosamente o retorno do diretor… é um prato cheio!
O longa chega aos cinemas em 17 de janeiro.
Texto de Douglas Marinho Costa (Cantina do Mos)